música

O que achamos de “Solar Power”, terceiro álbum de estúdio da Lorde

Depois de 4 anos de espera, já ouvimos o terceiro álbum de estúdio da Lorde e este não desaponta. “Solar Power” nos permite uma inédita perspectiva da criatividade da cantora que conquistou fãs e a crítica ao ser capaz de retratar e tornar acessíveis sentimentos tão específicos, sem perder a sensibilidade musical e poética do conteúdo. Com uma estética também revisada e inédita, Lorde mantém a unidade da sua obra em todas as capacidades – principalmente emocionais, já que o disco nos leva numa jornada em que a página do diário que a cantora arrancou para nos apresentar, é sobre um diferente tipo de crescimento e despertar: a fama.  Lorde retrata sua relação com a fama a partir de uma ótica interessante, já que normalmente tal assunto rende batidas drásticas, luzes baixas e quartos sombrios ou se desdobram a partir de conceitos caricatos e irônicos. Nenhuma dessas foi a direção escolhida pela neozelandesa que optou por um cenário clean, natural, hippie, e revigorante – ao contrário de algumas opiniões que criticaram o clipe do primeiro single da nova era, “Solar Power” por parecer uma campanha de divulgação para turismo no país de origem da artista. Vem ver: 

A primeira faixa do álbum, “The Path”, cumpre a função da sua definição: apresenta o caminho e contextualiza a narrativa e melodias que a experiência do disco nos levará durante sua duração, tudo através de acordes místicos e arranjos vocais que lembram vagamente escolhas musicais feitas pela Bjork, podendo causar uma certa surpresa para o ouvinte que está acostumado com faixas como “Tennis Court” e “Green Light” como faixas introdutórias dos projetos passados da cantora.  Mas depois de alguns segundos “The Path” toma tempo, deixa de soar como uma faixa de prelúdio e Lorde canta um pouco mais no tom dos acostumados outra vez. O single “Solar Power” acompanha e escala tal ritmo através das vibe praiana dos anos 1960, com uma clara referência ao sucesso “Faith” (1987) de George Michael.

As seguintes 4 faixas, “California”, o segundo single “Stoned at the Nail Salon”, “Fallen Fruit”, e “Secrets from a Girl (Who’s Seen it All)”, são a prova nítida da participação do produtor Jack Antonoff no desenvolvimento do álbum. Memes à parte, o produtor queridinho das maiores artistas pop da atualidade – nomes como Lana Del Rey, Taylor Swift, Phoebe Bridges, St Vincent, Pink –, deixa sua marca muito bem registrada no terceiro disco de Lorde o que, para quem consome frequentemente o trabalho do produtor, acaba resultando numa certa desilusão criativa, uma vez que muita das melodias de trabalhos passados de Jack se repetem em trabalhos com conceitos e estéticas completamente diferentes. Quando questionada sobre tal presença do produtor no disco, em entrevista para o NY Times, Lorde respondeu: “Eu não fiz um disco do Jack Antonoff. Fiz um disco da Lorde. Dar essa quantidade de crédito a ele é honestamente ofensivo.”

“The Man with the Axe” é talvez a divisora de águas do disco e a responsável pela decisão de continuar ouvindo o disco para alguns. E para outros nem tanto. Bem lenta e reflexiva – e capaz de remeter a uma breve lembrança de “Bad Religion” do Frank Ocean –, mas não no estilo melancólico e cativante como ocorre em “Liability”, faixa do álbum prévio Melodrama (2017). O tema dos “monólogos musicais” de Lorde mudaram, e antes, o que era possível identificação com uma música toda, foi reduzido para alguns versos. Escolhas. Mas calma! Em “Mood Ring”, faixa que ganhou clipe recentemente, o mood retoma para um universo mais pop e canta: “todas as minhas garotas tristes cantam junto”. Mas você não tenha dúvida, Lorde!

O disco conclui com “Oceanic Feeling”, faixa extremamente pessoal da cantora que consegue amarrar através de uma ambientação quase psicodélica, o seu terceiro álbum de estúdio que promete ser amado por alguns e não adorado por outros. “Solar Power” nos garante uma perspectiva diferente de Lorde que pode-se argumentar que esta pede por identificação para ser consumida, mas, no final do dia, a cantora contou em uma entrevista ao The New York Times que o conceito e objetivo final do seu projeto era desenvolver ao longo dos anos a ambientação de um verão psicodélico que fizesse um “ótimo álbum de maconha”. Bem, que a ambientação existe é indiscutível, mas seria esta o suficiente para os fãs da cantora que buscam refúgio em suas composições profundas e sentimentais sobre momentos tão marcantes na vida de uma juventude bombardeada por estímulos? Lorde cresceu e suas experiências de vida tendem a se diversificaram cada vez mais, e “Solar Power” pode ser considerado como um bom e tranquilo suspiro depois de um tempo de reflexão na introspecção. Ufa! Nada como tomar um solzinho e relaxar de vez em quando, não é mesmo? PS: Usem protetor solar. 

Share
Leave a Comment

Postagens recentes

  • cinema

“Ainda Estou Aqui”, “Wicked”, “A Substância” e mais filmes que não saíram da boca do povo em 2024

Rápido. Sem trapacear abrindo seu perfil no Letterboxd. Por qualidade, bilheteria, prêmio, meme ou qualquer…

5 horas atrás
  • música

Post Malone faz show no VillaMix, festival marcado por atrasos e cancelamentos

Ele pisa no Brasil e já sabemos que vai chover 🇧🇷🌧️ O divo Post Malone…

6 horas atrás
  • música

Chris Brown “voa” em pleno Allianz Parque, durante primeiro de dois shows ‘sold out’ em SP

TÁ VOANDO, BICHO! Sem pisar no Brasil desde 2010, Chris Brown aterrizou sua nave de…

7 horas atrás
  • música

Atração do Festival Psica, Brisa Flow terá doc inédito e turnê pela América Latina

Brisa de La Cordillera, mais conhecida como Brisa Flow, é uma cantora mapurbe marrona, MC,…

8 horas atrás
  • cinema

“Hurry Up Tomorrow”: filme de The Weeknd ganha data de estreia no Apple TV+

Aos pouquinhos, o cantor The Weeknd vai liberando o calendário da nova era. O filme…

21 horas atrás
  • música

Os dez momentos em que Madonna, put4 e satanista, causou em Copacabana

O show que a cantora Madonna realizou no Rio de Janeiro, em 4 de maio…

23 horas atrás