O quinto álbum de estúdio de Jennifer Lopez, “Como Ama Una Mujer” (2007), já revela a que veio logo no título. Não é necessário fazer uma audição completa para entender que a artista, a essa altura já responsável por faixas como “Get Right” e “Waiting for Tonight”, buscava um mergulho interior. Em consonância com as próprias origens porto-riquenhas, J.Lo. buscou na língua espanhola uma diversificação do próprio repertório, construído à base de melodias vibrantes que a tornaram uma respeitada popstar.
Disposta a abraçar questões densas do romantismo e vivendo o auge de seu casamento com o também cantor Marc Anthony, união esta que lhe deu além de filhos uma bem-sucedida parceria no idioma em “On the 6”, não houve impedimento ao se jogar. Saíram o R&B e a estética dance para dar lugar às baladas e ao sentimentalismo. Por vezes, o drama latino foi o condutor da narrativa. Se antes momentos como estes eram pontuais, o protagonismo agora estava em suas mãos.
O fato é que mesmo sem ter uma fluência invejável no idioma dos próprios pais, “Jenny from the Block” é hoje sinônimo de poder. Entre uma língua e outra, a artista se tornou símbolo da mulher latina que os Estados Unidos e sua respectiva comunidade, ciente de tradições e heranças trazidas na mala, fizeram crescer. Abaixo, você percorre essa discografia (re)descobrindo canções para além do óbvio.
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Primeiro grande sucesso de J.Lo. em espanhol, “No Me Ames” vem como uma joia de seu álbum de estréia. Enquanto o ouvinte se aficionava de primeira a faixas como “If You Had My Love” e muito provavelmente aprendia, com uma forcinha da MTV, a coreografia de “Let’s Get Loud”, faixas mais densas foram posicionadas na tracklist com a função brecar a afobação dance, característica daquele momento. No mesmo instante em que Enrique Iglesias fazia seu crossover, J.Lo. seguia o caminho inverso. Nesta balada cantada ao lado do marido, Marc Anthony, ela abre as comportas de um mar de drama.
Escrita em parceria com Cory Rooney, “Ain’t It Funny” chegou como o terceiro single do disco “J.Lo” em dezembro de 2001. Com um clipe gravado em efeito sépia pelas lentes do respeitado fotógrafo Herb Ritts, a produção abre caminho para uma incursão cultural que encarna o espírito flamenco. A promoção começou 6 meses antes na Europa e em países de língua espanhola, para só então chegar aos Estados Unidos onde sua versão original, em inglês, já havia se consagrado. “Ain’t It Funny/Qué Ironia” criou um novo apelo à performance, a uma intensidade sonoro-visual.
A faixa-título de um disco precisa ser forte o suficiente para que a dita escolha seja válida. Em “Como Ama Una Mujer”, disco lançado há 14 anos, a artista faz uma autoanálise em que feridas sentimentais, responsáveis por não permiti-la seguir, são passadas a limpo. Pela primeira vez J.Lo. se virava diretamente para o público hispânico, dedicando a este 11 faixas inéditas. Ao mesmo tempo, preparava um disco todo em inglês.
No mesmo disco surge “Te Voy a Querer”, um momento dedicado à guerra contra o baixo-astral. À la Gloria Estefan, esta “cumbia pop” dança lado a lado com os sons do Sul enquanto assiste a um amanhecer no vale de lágrimas. Conforme avança, a melodia vai ganhando novas camadas e convida o ouvinte a se esquecer, temporariamente, do que pode acontecer no dia seguinte.
Os sonhos, peça fundamental de qualquer romance, são tema de “Qué Hiciste”, um acerto de contas com a desilusão provocada por um amor desleal. Embalada pela guitarra flamenca, a letra posiciona Lopez, uma mulher raivosa e consciente de remorsos, a par das artimanhas que podem ser usadas na sequência. Nem um passo em falso.
Tivesse sido lançado hoje, em plena era do stream, o disco “Love?” teria sido ainda maior. Trilha sonora de baladas mundo afora, o projeto serviu como . Após o sucesso modesto de “Brave” (2007), J.Lo. voltou às pistas com sangue nos olhos e fez o sample de “Llorando Se Fué” ainda maior ao expandi-lo a uma versão em espanhol do hit “On The Floor”. #1 nas festas da América, das fronteiras do México à neve da Patagônia.
Da mesma série “versões”… “Bailar Nada Más”, reedição em espanhol do single “Dance Again”. Embora os vocais tenham sido praticamente suprimidos pelos efeitos de mixagem, é irresistível não sentir vontade de voltar no tempo quando as baladas da Rua Augusta eram parada certa em noites de sexta. “Quiero bailar, amar, bailar, nada más”… existe mensagem mais representativa do presente?
Após ter interpretado a cantora tex-mex Selena Quintanilla nos cinemas, em 1997, Jennifer Lopez revisitou o papel e o legado da artista em um tributo com vários sucessos. A homenagem ocorreu no Billboard Music Awards 2015 e reuniu, entre outras faixas, “Bidi Bidi Bom Bom”, “Como La Flor” e “Amor Prohibido”; todas à altura do poder e da honra de Selena. Uma versão em estúdio foi gravada e disponibilizada nas plataformas de streaming.
Nesta parceira com Wisin, a musa do Bronx narra a química de um par de apaixonados flechado pelo amor. Muita dança e um enfrentamento digno da guerra dos sexos no subsolo de Nova York.
Quando convida o ouvinte a “mudar o passo” na pista, Jennifer Lopez é bastante literal. Isto porque na letra e roteiro de “Cambia el Paso”, sua parceira com o jovem Rauw Alejandro, a artista convoca mulheres de todos os lugares, direta e indiretamente, a deixar para trás as inseguranças e as irresponsabilidades de qualquer homem que se atreva a tentar cerceá-las de liberdade. Com ela, boy lixo não cresce grandão.
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