Hoje, 5 de agosto, comemora-se o Dia Nacional da Saúde. A data se encaixa perfeitamente com a temática da nova música de Drik Barbosa, “Calma, respira”, feita em parceria com Péricles. A faixa, que acaba de ganhar o mundo em conjunto de um emocionante videoclipe, faz parte do projeto “Nós”, iniciativa multiplataforma produzida em conjunto da LAB Fantasma desde novembro passado.
Nas palavras da cantora, as músicas desse empreendimento artístico “são fragmentos de um grande abraço”. Em conversa com o Papelpop nesta semana, a artista compartilhou diversos detalhes que cercam o novo trabalho. “A minha ideia dentro é falar sobre o resgate da nossa humanidade, sobre esse cuidado com a gente mesmo e com o outro”, explica Drik sobre o projeto, que já lançou as faixas “Sobre Nós” e “Seu Abraço”, em parceria com Rashid e Psirico, respectivamente.
Ao utilizar a singular cadência do pagode, os versos do single expressam uma mensagem de amor. “A partir do momento que a gente se abre para o amor, para o afeto, a gente tá fazendo um bem imenso pra nós mesmos e pra quem tá do nosso lado. Então, é uma música pra você dedicar pra você mesmo, que se acompanha nas lutas da vida, mas também pra sua família, para o seu companheiro, sua companheira, enfim, para o que você ama e que faz você sentir vida. Pulsar a vida.”, relata a cantora. “Essa questão sobre saúde e saúde mental tem sido uma resistência nossa também, algo que eu tenho cuidado muito. Poder cantar sobre isso nesse agora também está sendo muito importante.”
Um curta-metragem foi idealizado para conduzir a música. O registro apresenta a batalha de um pai que recorre a conhecimentos ancestrais para salvar a filha que está imóvel, em estágio avançado de depressão. Abordar o tema da saúde mental necessita de muita empatia, reconhece a artista.
“Tenho que ser muito sensível colocando isso na minha música, fazendo esse convite de uma forma que a pessoa se sinta acolhida, sabe? Através dessa letra, através da minha voz, da minha interpretação. E também, no meu pessoal, no meu íntimo, sinto que preciso não só falar sobre saúde mental, mas realmente enxergar o que eu tô fazendo pra cuidar da minha, né? A gente vem de toda uma cultura de apagamento desse autoamor, dessa autoestima. Lembramos tudo o que os nossos antepassados viveram e como a gente ainda carrega todas essas dores […] quando passamos por episódios que nos entristecem muito, que nos afastam uns dos outros.”
Assista ao clipe:
Há fortes elementos de religiosidade e ancestralidade negra no vídeo. Sendo uma artista preta e brasileira, Drik enxerga as pontes que a arte pode promover com questões originárias através do próprio trabalho. Em casa, sua irmã pré-adolescente reflete a diferença das gerações quando a artista observa (e auxilia) no encontro da jovem com a cultura negra, com conhecimento e com discursos de empoderamento que bradam a potente autoafirmação “com esse cabelo, com essa cor e com essa roupa, meu amor!”.
“O projeto também é importante nesse lugar, é uma forma realmente de ponte, em que eu tenho total certeza de que [o conhecimento] chega nas pessoas. Foi através do rap que eu conheci várias coisas e que, principalmente, entendi a importância de passar informação. Pra conseguir disseminar também o trabalho e a arte de outras pessoas, e dessa forma conseguir construir um imaginário positivo sobre nós. Me emociona pensar em como a minha irmã se enxerga com doze anos, algo que está muito longe de como eu me enxergava nessa idade. Ela se vê dentro de um clipe, sabe? Dela cantar comigo o hino da autoestima de uma criança preta que se sente criativa, feliz no mundo. É isso que faz valer tudo!”, explica a dona do hit “Quem tem joga”.
A letra de “Calma, respira”, assim como indica esse abraço que não se faz sozinho, é fruto da parceria de Drik com Evandro Fióti e Kelly Souza, irmã da artista. “Eu priorizo muito ter parcerias, priorizo que as pessoas coloquem sua própria energia, que isso fique claro na música e traga mais potência, onde as pessoas vão se identificar”, explica a cantora sobre o processo de composição da faixa.
“A gente teve esse cuidado na construção da música para fazer com que as pessoas se identificassem independentemente da dificuldade que elas estejam passando. Por isso que ali no verso que é mais voltado para o rap, eu falo sobre o corre para conseguir concluir os estudos, falo também sobre a solidão que a gente sente, que sabemos ser muito profunda enquanto pessoas negras. Essas mazelas atravessam a gente e [entendemos] como é tão dolorido, tão difícil se sentir sozinho no meio disso tudo.” Sobre a sensibilidade de tocar essa nova canção, ela ressalta: “Estou tendo esse cuidado mais detalhado de não só colocar o que eu estou sentindo, mas entender como abraçar outras coisas que as pessoas estão sentindo também”.
O pagode e o samba, assim como o rap, são tesouros da cultura afro-brasileira e “Calma, respira” faz uma homenagem a esses gêneros de forma singular. A presença de Péricles na faixa é motivo de grande alegria para Drik, que acompanha sua carreira desde pequena. Os ritmos, tendo o R&B incluso, fazem parte de toda a trajetória artística e pessoal da cantora.
Ao citar as influências musicais da faixas durante a entrevista, a artista abre um largo sorriso. “É muito importante reverenciar esses gêneros, esses que fazem parte não só da minha vida, mas de muitos de nós, que trazem essa alegria pra gente, essa esperança através das músicas. A gente sabe que pagodear, que sambar, são coisas que fazem a gente muito feliz e que também são um alimento de resistência para o nosso povo”, conta ela com os olhos brilhando.
Sobre a parceria, declara: “É um ídolo que eu acompanho há muitos anos. Me lembro da minha primeira lembrança ouvindo Péricles no rádio. Falo que eu nem sabia o que era amor, mas eu já sentia amor ali, naquele momento, da forma como ouvia o timbre dele, a interpretação. Foi uma coisa surreal! Tanto que em ‘Calma, respira’ quando ele entra dá um aconchego, sabe? Então pra mim é muito especial por essa mistura boa e por ter ele presente”.
O contato de Drik com Péricles no estúdio também lhe rendeu um momento de reflexão sobre legado e ancestralidade. “Senti como se estivesse agradecendo tudo o que ele representa. E não só ele, mas todos os artistas pretos brasileiros, toda a nossa cultura. Como é difícil a gente conseguir existir dentro da nossa cultura, sendo tão atacado. Realmente é uma resistência, a gente tem que agradecer essas pessoas que estão existindo dentro da arte”, relata.
Além de produzir as próprias canções, Drik também é ávida consumidora musical. “São meus hinos, né? Minhas orações são em forma de música”, afirma entusiasmada. “Tenho agradecido muito, inclusive amigos artistas que eu ouço. Me ajudam demais a conseguir me acalmar, pra que eu consiga entender que a gente tem essas ferramentas positivas pra consumir e valorizar cada vez mais.”
“Principia”, faixa do Emicida, é uma das músicas que não sai dos ouvidos da cantora nos últimos meses, além de todo o disco “AmarElo”, ela confessa. “O verso ‘tudo que nós tem é nós’ era o que eu precisava para sentir o quentinho no coração, para sentir que não estou sozinha”, conta. Na conversa, ainda citou a canção “Raio de Sol“, da rapper Stefanie, e Beyoncé, sua “diva master”.
O futuro aguarda a quarta e última canção do projeto “Nós”. Sem revelar muitos detalhes sobre a temática, a cantora contou que a vindoura música, mais puxada para o rap, será uma colaboração. Para coroar e fomentar outros debates sobre os temas tratados nas canções, um podcast também será lançado.
“Quero muito que as pessoas se sintam acolhidas nesse espaço do ouvir. Acho que a oralidade é uma coisa que está muito presente na nossa cultura, nessa ferramenta ancestral que a gente tem. Então, é algo muito bonito poder trazer essas pautas através do podcast. Tô muito ansiosa pra lançar tudo!”, conclui Drik.
Ouça “Calma, respira” nas plataformas digitais:
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