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MC Zaac fala sobre primeiro EP da carreira em entrevista ao Papelpop: “É o pontapé inicial”

Em 2016, quando os bailes nem sonhavam em ser restringidos por uma pandemia, “Bumbum Granada” fazia o público fervilhar. Foi a primeira música de sucesso de MC Zaac, que ainda tentava conciliar um desejo de vida na cena artística com um emprego para pagar as contas. Foi a batida somada à identidade vocal que colocou o paulista no radar dos amantes de funk.

Não à toa, Zaac decidiu apostar de vez no universo musical e emplacou outros hits após aquele ano tão divisor de águas. Já em 2017, por exemplo, ele voltou a se destacar com o lançamento de “Vai Embrazando”. Depois, ao lado de Anitta, Tropkillaz, Maejor e DJ Yuri Martins em “Vai Malandra”, provou que veio com todas as intenções de ficar. E ficou.

Novas parcerias começaram a surgir e Zaac, é claro, só podia aproveitar. O cantor e compositor colaborou com nomes como Ivete Sangalo, Major Lazer, J Balvin e Tyga. Já dividiu canções com Luísa Sonza, Tove Lo e Anitta (de novo). Acabou provando certa diversidade musical, mas sem perder de vista a própria fidelidade jurada ao funk brasileiro e seus bailes.

Para dar continuidade à vida na música e alçar novos voos, Zaac lançou “Linha de Frente” como o primeiro EP visual da carreira. Há aproximadamente três semanas, em 26 de maio, o projeto entregou três faixas inéditas e dançantes para ser o pontapé inicial de uma nova era vivida pela voz e pelo autor que uma vez conquistou o público com “Bumbum Granada”.

Em entrevista ao Papelpop, MC Zaac relembrou a jornada traçada até o lançamento do primeiríssimo EP. Ele compartilhou todos os detalhes da construção de “Linha de Frente”, além de revelar planos para álbum e novas parcerias.

Queria começar falando sobre sua trajetória. Seu primeiro single chegou às plataformas digitais em 2016, mas imagino que seu interesse pela música seja mais antigo. Como e quando você se deu conta que realmente queria investir em uma carreira artística?
Eu sempre tive esta mania de não querer ficar quieto, de querer buscar coisas diferentes para fazer. Em 2010, eu comecei a correr atrás da música. Uns amigos de escola faziam muitos vídeos na laje, cantando, improvisando e [criando] medley. Aquilo me inspirou. Comecei a fazer meus vídeos – tem uns na internet que nem é bom procurar [risos] -, a escrever letra e a fazer freestyle. Eu estava trabalhando de ajudante geral em uma empresa [na época] e comecei a ver as coisas de outra forma. Eu nem conseguia ter cabeça para trabalhar porque ficava pensando: “não, cara, tenho que produzir essa música”. Acabei pulando de empresa para empresa porque surgiram uns shows – só para eu botar a cara, era tudo de graça mesmo – que acabavam 3h da manhã. Eu tinha que acordar às 5h da manhã para trabalhar. Esse tipo de rotina não estava rendendo para as empresas. Fui vivendo disso e conheci alguns empresários. Depois, conheci o Jerry [Smith]. Eu e ele sempre gostamos muito de mexer em programas de vídeo, fazíamos várias beats e íamos mostrar no baile. A gente sempre ouvia o que tocava nos bailes de rua e falava: “pô, bora fazer algo nessa pegada aqui”. Foi quando fizemos “Nos Fluxos”, uma música que estourou e falava dos bailes da comunidade. A gente começou a brincar com essa linguagem e continuou no estúdio. [“Nos Fluxos”] Tinha uma letra um pouco picante, tinha um pouco de ousadia [risos]. Aí eu virei para Jerry: “vamos fazer uma música light agora pra gente poder mostrar para os nossos pais sem constrangimento?” [risos]. Aí fizemos “Bumbum Granada”, que mudou muito a minha vida. Eu podia ter o meu trabalho e usar o tempo livre para viver de música, mas eu não conseguia viver daquele jeito. Eu inverti tudo: precisava trabalhar para pagar conta, mas, f*da-se, fui viver de música [risos]. Nessa época, sem ser remunerado, passei um período muito difícil em que alimentação era escassa e eu sempre usava a mesma roupa. Eu ficava constrangido. Tudo bem, era meu corre, mas era muito difícil. A semana em que a música começou a tocar nos carros foi quando eu falei com Deus. Eu acredito muito em Deus e ia na igreja pedir para dar certo. Estava quase desistindo, mas rolou a virada. Em 2016, o registro de “Bumbum Granada” estava no Spotify.

O que você acha que fez “Bumbum Granada” estourar, conquistar o público naquele momento?
Eu acho que as vozes eram muito diferentes para a época. A gente veio com uma identidade vocal em “aí, mano Zaac, eu vou pro baile do favela”. O beat também era super envolvente e a música era diferente. Quando a gente fez, eu fiquei pensando: “será que essa música é boa mesmo? Será que é doideira?”. Não foi nem questão de insegurança, foi mais uma estranheza mesmo. Mas aí aconteceu, teve o boom. A música agradou muita gente, alcançou muitos espaços. Todo mundo queria escutar.

Depois de “Bumbum Granada” e muitos outros singles, você lançou “Linha de Frente” como seu primeiro EP. O que te fez perceber que era a hora de pausar os lançamentos “soltos” e apresentar esse compilado?
O EP “Linha de Frente” é só uma linha de frente mesmo, um pontapé inicial, porque acho que um álbum fala mais sobre um artista. Um single, às vezes, é só um single. Não tenho como me expressar muito através de um único som. Então, EP e álbum dão mais história. Em “Linha de Frente”, eu quis passar a minha identidade e essência. Adoro música dançante, gosto daquela que mexe com o corpo e faz você querer dançar. Tento sempre levar isso para o meu som. Eu sempre observava “Desce Pro Play”, por exemplo. A galera gostou daquela pegada, que era meio um hip hop dos anos 2000. Mas e aí, acabou? Eles só vão ter que ouvir “Desce Pro Play”? Eles precisam de mais opções, algo para se aprofundarem mais. Sempre trabalhei com single, eu sei como é, então eu queria trabalhar com esse outro lado para saber como é também.

Se “Linha de Frente” funciona como o pontapé inicial deste novo momento da sua carreira, podemos dizer que o próprio título tem relação com o fato de ser o seu primeiro EP? Me explica a escolha desse nome.
Tem muita relação. Na hora de analisar todas as três músicas, pensamos em qual seria o nome do EP. Aí vimos “Linha de Frente” e falamos: “se esse é o primeiro trabalho que não é um single, então, é uma linha de frente, é o pontapé inicial para fazer coisas diferentes”. “Linha de Frente” também é uma das minhas músicas preferidas. Gosto de “Sem Compromisso” e “Bota Bota”, mas eu gosto de “Linha de Frente” porque tem uma pegada muito diferente. Aí ficou desse jeito.

Então a faixa surgiu primeiro e acabou trazendo uma certa inspiração para o EP. Como foi o processo de construção desse compilado, de combinação das músicas? Você tinha um conceito em mente?

Para o EP “Linha de Frente”, eu não busquei dar muitas opções. Fiz tudo na mesma pegada porque eram três músicas. Não dava para soltar uma mais pop e outra mais funk, eu não conseguiria expressar tudo com apenas três. O processo inicialmente veio nesse período difícil de pandemia que tenho passado no estúdio. Eu adoro estúdio – se pudesse ficar lá dois, cinco dias seguidos, eu ficaria. Sempre estando lá, eu sempre estou fazendo música. Só para você ter noção, eu devo ter umas cem músicas feitas. Vou fazendo e analisando. Fiz [“Sem Compromisso”] com PK, MC Ryan, DG e Batidão Stronda. Quando fiz minha primeira visita ao estúdio do DG, ele me mostrou essa música e surgiu a parceria. Depois, comecei a juntar: “essa ‘Bota Bota’ combina, “Linha de Frente’ também. Acho que dá pras três virarem um EP”. Meti marcha. Minha intenção para o álbum, que é uma coisa que tenho pensado muito, é trazer um conceito com uma faixa de um jeito, uma faixa de outro jeito. Meus singles são assim. Eu tenho música com Ivete, com Anitta, com Cláudia Leitte e por aí vai. Tenho uma diversidade muito grande e eu quero expor essa verdade.

Como o EP é visual, as três faixas ganharam clipes. Como foi essa transformação para o audiovisual?
A gente está vivendo uma era em que muitas músicas estão sendo soltas com visualizer, loopings, aqueles vídeos que se repetem. Eu gosto muito dessa vibe, que é muito dinâmica, que as pessoas consomem e que está dando certo. Nessa visão, a galera da MKX e a minha equipe toda sentaram e começaram a pensar: “e se a gente fizesse um looping como se fosse um clipe para as demais músicas? A gente solta ‘Sem Compromisso’ com o clipe principal e as outras duas a gente faz um clipe em formato de looping”. Eu achei incrível e falei: “vamos fazer”. Fizemos! Eu gostei muito do resultado. Acho que a gente sempre está procurando o diferente, algo que vai chamar a atenção.

“Linha de Frente”, além de trazer o peso de ser o primeiro EP de sua carreira, chega em plena pandemia do coronavírus. Quais foram os maiores desafios que você enfrentou durante o desenvolvimento desse trabalho?
Acho que o maior desafio é não ter contato com o público, não poder sentir o calor, não estar na estrada. Ter o contato com as pessoas, no meu estilo de música, me ajuda muito a entender o que elas gostam. Hoje, graças a Deus, temos TikTok e vários outros meios em que a galera se expõe dançando, o que é um alívio para a gente e torna este momento tão difícil um pouco mais leve, na medida do possível. Outro desafio é saber até quando vamos viver assim. Mas, na hora de criar, eu tento desligar a cabeça disso para fazer as pessoas se divertirem, dançarem e serem felizes. “Linha de Frente” é uma das músicas que eu mais gosto porque fala mais ou menos disso. “Se quer jogar vem com a gente / Beat embrazado na mente / Tá dançando de repente / Quando vê já foi / Sei que tu é linha de frente / Bora fazer diferente / E deixar o perreco / Pra depois, pra depois / Bota no som que tu gosta / E mostra sua energia / Manda a tristeza ir embora / Quem segura essa menina / Mandando nos passim bolado / Fácil, fácil contagia / Bunda vai mexer sozinha”. Não dá para ficar parado e essa é a minha proposta. Acho que até quando eu tento fazer uma música triste, ela sai dançante [risos].

Falando em mídias sociais como o TikTok, você acumula mais de 580 milhões de streams apenas no Spotify e 1 bilhão de visualizações no YouTube. Nesta “era do streaming”, números têm sido muito importantes para medir sucesso e a recepção do público. Como tem sido essa experiência e o que esse reconhecimento significa para você?
É o que me engaja e me motiva muito. Todos esses números me impressionam até hoje. O clipe de “Bumbum Granada” tem mais de 500 milhões de visualizações, “Vai Malandra” tem 400 milhões. Bati 200 milhões de streams no Spotify com “Vai Malandra”. São números que eu jamais pensei [que fosse alcançar]. Ver isso me traz mais certeza de que estou entregando o que a galera quer ouvir. Como a gente não tem o contato físico nos dias de hoje, esse contato [digital] é como se eles estivessem me abraçando e dizendo “é isso aí”.

O funk tem vivido um momento muito próspero em que artistas como Kevin O Chris e Anitta têm levado o gênero para fora do Brasil. Você mesmo tem feito colaborações internacionais com Major Lazer, J Balvin, Tropkillaz e Tove Lo. Como tem sido a recepção do seu trabalho lá fora?
O funk tem essa facilidade de ir para fora pelo estilo de dança, pela batida, por ter uma característica tão própria do Brasil. Para mim, isso é bom para caramba e é um cala boca para as pessoas do nosso próprio país que ainda tem preconceito. Fico feliz com a expansão do funk. Sempre que tem projetos nessa intenção, eu aceito de portas abertas e vou para cima. Meu foco é devolver para o funk o que ele me deu. Quero retribuir tudo que eu consegui através dele. Quando Tove Lo, que é uma artista incrível, me deu a oportunidade de gravar, eu fiquei muito feliz. E estou aqui com o Tropkillaz fazendo mais uma.

Pensando no título do seu EP, nas parcerias que você já fez, em gente que você admira ou sonha em colaborar um dia. Quem você colocaria na sua linha de frente?
Uma das influências maravilhosas que eu tenho e quero seguir é a minha parceira Anitta. Ela é demais. Eu gosto de tudo que ela faz. E eu queria fazer uma parceria com Bruno Mars. Quem sabe um dia? Inclusive, tenho uma tatuagem do Silk Sonic [risos].

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