música

Marvvila conversa sobre música nova, infância na igreja e mulher no pagode com o Papelpop

Marvvila era uma daquelas crianças que sonhavam em ser artistas famosas. Aos 5 anos, ela já cantava na igreja para o encanto da mãe – que, mesmo sem entender qualquer minúcia da indústria musical, apoiava a filha com organizados ensaios e doces palavras. Nenhuma das duas, porém, imaginava que o gosto pelo canto resultaria em uma carreira. Ora, ninguém da família se envolveu com música antes.

O sonho continuou dentro do coração de Marvvila, que tinha o gospel como sua maior referência artística ao mesmo tempo em que era fisgada pelo pagode e pelo samba. Na escola, a menina já adolescente passou a cantar com os amigos e ouvir nomes como Ferrugem. Tudo mudou de verdade quando ela participou do “The Voice Brasil” aos 17 anos, levando-a a enxergar uma possibilidade de viver como cantora.

“Mãe, passarinho precisa voar”, ela disse antes de apostar de vez na vida artística. Seus vídeos caseiros ganharam elogios de artistas nacionalmente conhecidos e de outras pessoas na internet, introduzindo a voz de Marvvila na cena musical. IZA e Ludmilla foram algumas das personalidades que deram apoio à jovem, que ainda tinha receios sobre ser uma mulher no pagode.

Após seis músicas disponibilizadas nas plataformas digitais, Marvvila conquistou a própria confiança e segue realizando o sonho de infância. Ela deu continuidade aos trabalhos autorais com “Pra Te Dar Razão” na última semana, especificamente no dia 28 de maio, para agitar os tempos ainda difíceis de pandemia em 2021 – e não pretende parar seu pagode.

Em entrevista ao Papelpop, Marvvila falou sobre a jornada responsável por levá-la até o recente lançamento. Ela também revelou os próprios medos de ser uma mulher no pagode, refletiu sobre o impacto da internet em sua carreira musical e prometeu novos singles – inclusive com parcerias – para este ano.

Você é uma artista relativamente nova, contabilizando seis singles nas plataformas digitais desde 2019. Queria saber mais sobre sua trajetória. Quando você começou a se interessar pela música e investir na carreira artística?
Eu canto desde meus 5 anos, começando na igreja. Minha família nunca esteve relacionada à música, ninguém cantava ou tocava instrumento. Mas eu comecei a gostar desde novinha e minha mãe me apoiava muito. Mesmo sem entender de música, ela fazia meus ensaios e passava tudo direitinho para eu cantar na igreja. Sempre tive aquele sonho de criança de “um dia eu vou crescer e ser uma cantora famosa” [risos], mas eu achava que era impossível para mim. Eu cantava em muitos lugares, como festas e casamentos, mas era sempre por amor, não era trabalho. A coisa ficou séria mesmo depois [de participar] do “The Voice”. Eu falei: “caramba, agora eu acho que a parada pode dar bom! Estou sendo vista pelo Brasil inteiro e posso levar a sério, sim, o meu sonho”. Foi o empurrão que eu precisava, sem dúvidas. Antes, eu nunca tinha pisado em um palco tão grande. Quando fui para o “The Voice”, um monte de gente passou a me seguir e dizer que torciam por mim. Eu passei a enxergar tudo de outra forma.

Você começou na igreja e no gospel, mas seu trabalho atual é essencialmente voltado para o pagode. Você sempre quis trabalhar com esse gênero musical? Qual é a sua relação com o pagode?
Minhas maiores influências eram do gospel, mas eu sempre fui muito eclética. Mesmo na época da igreja, quando a gente não podia ouvir muita coisa e tinha que ser certinha, eu sempre fui a maluquinha da família. Podiam me chamar de ovelha negra, não tinha problema [risos]. O pagode veio na adolescência. Na aula de música da escola, o professor levava uns instrumentos e os amigos levavam cavaquinho e instrumentos de percussão. Eles começavam a tocar uns pagodes, mas não tinha ninguém para cantar. Um amigo começou a me apresentar artistas como Ferrugem e eu falei “caramba, eu gosto muito disso”. Eu tinha mais ou menos 13 anos. Aí comecei a cantar nas aulas, nos pagodes com os amigos. Eu vi que gostava daquilo, mas ainda não visualizava como um trabalho naquela época. Aí veio o “The Voice”. Eu ia fazer 17 anos e ainda cantava na igreja. Quando fiz 18 anos, parei e falei “mãe, passarinho precisa voar, eu preciso me descobrir, saber o que eu quero, lutar pelo que eu acredito”. Ela falou “vá seguir seu sonho”. No começo, a família tomou um pouco de susto porque quando a gente não cresce naquilo… a gente não tem muita manha. As pessoas do pagode e do samba cresceram nas rodas de samba e tendo aquele contato [com a música] na família. Eu não tive isso e só fui me descobrir depois, mas tive apoio. Já comecei cantando e fazendo vídeos de pagode porque eu me identificava. O medo que eu tinha de entrar na música tinha sido desbloqueado e aí veio o outro: o medo do pagode por eu ser mulher. Eu pensava “gente, já estou tendo a audácia de sair do gospel, de outra realidade, e vou para o pagode sendo mulher e tão nova?”. O medo que foi indo embora aos poucos.

Como foi esse processo de superação do medo?
O público me ajudou muito. Meus vídeos caseiros, que eu sempre fazia com algum amigo, começaram a viralizar a ponto de grandes artistas do pagode e de outros gêneros me mandarem mensagem. Eu ficava pensando “meu Deus, como assim essa pessoa já está me notando?”. A internet tem um poder absurdo, a gente nem imagina. Dali, comecei a perder o medo, mas foi um processo. Será que a galera ia me apoiar quando eu lançasse uma música autoral? Eu acabei lançando outras coisas até ter esse encorajamento para me lançar no pagode de vez.

E acabou que poucos meses depois do lançamento de seu primeiro single, “Flashback” (ago/2019), a pandemia do coronavírus chegou ao Brasil e paralisou muitas atividades da nossa cena artística. Como essa crise sanitária afetou seu trabalho? Você precisou mudar seus planejamentos?
O começo foi um pouco frustrante para mim porque foi bem na pandemia que eu vesti a camisa do pagode. Eu tinha gravado outras coisas e estava com medo porque queria fazer pagode, mas achava que já era tarde demais. Aí entrou Ludmilla, que me convidou para cantar com ela. Seria minha primeira música autoral no pagode e eu estava em uma animação só, pensando “meu deus, agora é o meu momento, vou poder lançar meu trabalho de verdade”. E aí… pandemia. Fiquei com aquela frustração, sim. Mas foi um momento que mudou a minha vida. Foi na live de Ludmilla que apresentamos “Não é por Maldade” como a minha primeira música no pagode, que teve uma resposta muito positiva porque a galera estava assistindo a muitas lives [na época]. Comecei a enxergar tudo de outra forma: era meu momento, sim. Eu poderia continuar a me lamentar como lamentei no começo, mas depois eu pensei “espera, esse é o momento que eu posso estudar mais, conhecer mais, me aprofundar mais”. E foi o que eu fiz, começando a ouvir e gravar mais músicas. Graças a Deus, [o período] foi produtivo.

Além dessa parceria com Ludmilla, você participou de uma nova versão de “Dona de Mim” com cantoras como IZA, Majur, Negra Li e Urias para o Dia Internacional da Mulher deste ano. Como foi essa experiência?
Foi uma honra para mim. Quando soube que eu ia estar nesse projeto, fiquei muito feliz. Elas são mulheres de peso e eu me sinto tão pequenininha perto delas [risos]. IZA, que é poderozona e referência para todo mundo, veio falar comigo. “Você cantando ‘Dona de Mim’ ficou maravilhoso”. A dona da música te dar benção é bom demais. Me senti abraçada por mulheres de vários gêneros musicais diferentes. Isso me deu forças.

Seu single mais recente, “Pra Te Dar Razão”, chegou às plataformas na última sexta-feira (28) para falar sobre romance. Me conta, como foi o processo de desenvolvimento? Como essa música surgiu?
“Pra Te Dar Razão” veio de amigos maravilhosos e compositores de sucessos do pagode. Eles vão mandando várias músicas e a gente tem aquele momento para escutar, ver o que vai se encaixar melhor ou o que é mais a minha cara. Quando escutei e cantei “Pra Te Dar Razão”, vi que essa música era para mim. Eu consegui me emocionar cantando. Foi aí que a gente pegou e gravou. Acho que o principal é passar a nossa verdade, o sentimento da música e entrar na sofrência. Você pode não estar sofrendo, mas acaba sofrendo junto [com a letra] [risos]. Eu gosto disso, sabe? Gosto de quando eu consigo entrar na história da música. E eu consegui com essa.

No próprio clipe de “Pra Te Dar Razão”, você traz o influenciador digital Gui Araújo. Nas suas redes sociais, você posta alguns challenges de dança e outras trends. Você mesma já comentou sobre seus vídeos virais aqui, na nossa conversa. Como você observa o impacto das redes e da internet em si na sua carreira como cantora?
No comecinho, antes mesmo da superprodução de um clipe ou de uma música gravada por um produtor maravilhoso, eu fazia meus vídeos em casa. A internet trouxe pessoas maravilhosas para perto de mim, pessoas que eu jamais imaginava conhecer, pessoas que poderiam me apresentar para alguns artistas como a Ludmilla. Lembro que há muitos anos, quando eu ainda era um passarinho começando a sair da gaiola [risos], eu estava em uma casa no Rio de Janeiro e Mumuzinho me viu lá. Ele falou, do nada, “olha, eu vejo seus vídeos e sua voz é única, acredite no que você está fazendo”. Aquilo foi surreal para mim. E foi o impacto da internet. Gui Araújo já me segue há bastante tempo, então foi muito especial tê-lo para gravar o clipe. Pegar e botar uma pessoa que não te conhece é uma coisa, mas quando você bota alguém que já gosta e acredita no seu som é outra parada. A internet é incrível demais.

Além de “Pra Te Dar Razão”, você também lançou a faixa “A Cada Beijo” em 2021. Você planeja mais músicas novas para este ano? O que podemos esperar?
Tem muita coisa nova porque o que a gente mais fez nessa pandemia foi gravar [risos]. Tem música para dançar, tem música para chorar. Tem clipe. Tem parcerias muito legais, que vamos revelar em breve. Graças a Deus, tem muitos cantores me abraçando. Estou muito empolgada. E estou mais animada ainda para essa pandemia acabar e poder estar apresentando minhas músicas em show, que é outro sentimento, outra vibe.

As lives conseguiram dar um gostinho do que é ver um artista ao vivo, mas nada supera o calor de um show presencial, né?
As lives foram tipo um consolo. Lembro que quando estava me sentindo mal, eu assistia a muitas lives. Aquilo ali me trazia entretenimento. Foi aí que a gente viu como a música faz diferença nas nossas vidas. Mas shows não se comparam, principalmente para a gente que gosta de ver a reação do público quando lança uma música. É aí que a gente observa se a música deu bom. Sem os shows, fica difícil, mas as lives vieram para trazer um pouquinho desse sentimento.

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