Escrita há três anos, “Lokko” foi finalmente lançada por Giulia Be nesta sexta-feira (11). A música vem para mostrar a atitude da nova era da artista, que confessou ao Papelpop: “A menina solta, se estivesse solta mesmo, acho que não escreveria ‘Menina Solta’, ela escreveria ‘Lokko'”.
Nós conversamos com a Giulia poucos dias antes do lançamento. Na ocasião, ela nos deu detalhes da trajetória do novo single e dos bastidores do clipe, que conta com uma série de participações especiais, incluindo a de Pedro Sampaio.
O crescimento do pop nacional e a recente viagem da cantora à Miami para gravar músicas também foram temas da entrevista, feita somente por áudio no Zoom. Empolgada, Giulia Be parece pronta para mostrar uma nova versão de si para o público sem perder a própria essência.
Antes de conferir o nosso papo, dá uma olhada no clipe de “Lokko”:
***
Papelpop: Giulia, A primeira coisa que você vai ter que me contar é porque escolheu lançar “Lokko” só agora. Os seus fãs estão esperando por isso há um tempão [risos].
Giulia Be: Então, eu acho que “Lokko” na versão que ela vem agora é a mesma música, mas é outra. Eu ressignifiquei aquela música, sabe? Ela nem era uma das minhas preferidas na época, mas sabia que meus fãs gostavam. Eu falei: “Cara, como que posso encontrar o meio-termo, aí?”. Eu tive uma experiência muito incrível entrando no estúdio para reproduzi-la. Foi um processo muito artesanal. Eu e Ralph [ou Paul Ralphes], meu colaborador principal, estávamos tipo: “Ah, nós já nos conhecemos, fizemos o primeiro trabalho juntos e agora o que podemos fazer de diferente?”. Foi daí que partiu o ponto dessa nova versão. A outra foi uma preparação, uma história. Eu estou muito feliz de poder ter lançado dessa maneira. Acho que veio tudo no momento certo. Eu sempre brinco que músicas têm hora, sabe? Cada uma tem seu momento para florescer. Tem música que eu escrevi há três anos que só vai ser lançada daqui dois. Nada me faz ter mais certeza do que tudo que o momento de “Lokko” é agora.
Várias das suas músicas têm histórias bem legais, como “Inolvidable”, que surgiu a partir da ligação de um ex-namorado. O que há por trás de “Lokko”?
Eu escrevi essa música há três anos. Ela falava de um relacionamento de idas e vindas, de perdões. Isso veio de uma experiência minha mesmo, de uma pessoa com quem acabei tendo desencontros. Nós tínhamos momentos ruins, mas, quando estávamos juntos, era louco e vivíamos muito intensamente. Acho que essa música reflete isso. O segundo verso da música é um pouco mais Giulia Be, debochado. Com “Inesquecível”, foi a mesma coisa. De certa forma, ela é uma música de amor, mas tem o momento de falar “eu não sou esquecida, sou debochada, ninguém tá no meu nível”. Isso acabou virando uma marca minha, né? É meu jeito de escrever, contar as minhas histórias. O segundo verso de “Lokko” foi chave para essa personagem e para a atitude da nova era, dessa Giulia que está vindo. Vocês vão ver isso refletido não só nas fotos, mas também no clipe e na vida. A menina solta está solta, cara! Se eu pudesse falar uma coisa… a menina solta, se estivesse solta mesmo, acho que não escreveria “Menina Solta”, ela escreveria “Lokko”.
E a gravação do clipe rendeu alguma história boa? Vira e mexe os artistas me falam sobre algo engraçado ou tragicômico que aconteceu nos bastidores.
Rolou muita história boa. Foi incrível ter chamado o Pedro Sampaio para essa experiência. Ele já esteve em um outro clipe meu, o de “Recaída”, e aí vai ter um easter egg para os fãs. Foi demais também estar com a Fefe [Fernanda Schneider], que virou minha amiga nesses últimos tempo e teve uma energia incrível. A Fefe foi quem me apresentou o Luccas Abreu, um fenômeno do TikTok, um garoto de ouro que também está no clipe. Teve Lucas Jagger, com quem eu sempre quis ser criativa junto. É um grupo de pessoas que eu amo demais e fui conhecendo também. O Luccas Abreu, por exemplo, era uma pessoa que eu conheci lá no dia, mas já era fã do trabalho dele. O Lucca Picon foi um menino que eu tinha visto no clipe do Jão e está trabalhando com a Maísa, que é minha amiga em uma série da Netflix. A Aline, minha melhor amiga, está lá. É o quarto clipe meu que ela aparece. Como ela não tem nem Instagram, é uma coisa só para os fãs mesmo. Pela primeira vez em um clipe, estou tendo a Mariana Machado e o João Guedelha, que são meus amigos pessoais também. Foi uma experiência muito legal de poder ser artista e convidar meus amigos para essas coisas. Trabalho é sempre mais gostoso quando seus amigos estão envolvidos. Eu tenho a sorte de ter amigos criativos, com histórias muito interessantes pra contar. Outro exemplo também é a Thayna Santos, que foi uma amiga minha convidada para o clipe. Ela é uma mulher negra, modelo, que tem uma história muito interessante. Eu queria que cada pessoa ali representasse algo além de só ser uma carinha bonita, um figurante. Ninguém é figurante, todos são os meus amigos loucos que estão contando essa história louca comigo. Os meus convidados, na verdade, são os convidados da minha vida real. Então, nada mais justo do que eles serem os convidados do meu clipe.
Nos últimos anos, o pop brasileiro tem ganhado um destaque enorme. Os clipes estão cada vez melhores, os artistas estão fazendo feats. internacionais e você está no meio disso. Você imaginava que o pop nacional ia crescer tanto? Isso é resultado de que?
Ai, é resultado de muita coisa. Se eu não imaginasse que o pop nacional ia crescer tanto, acho que nem devia ter começado a carreira. Sei que sou muito otimista, mas acredito muito na música do Brasil. Eu sempre acreditei nos talentos que temos neste país. Eu achava que era só mesmo questão de ter mais espaço. O acesso à internet está revolucionando isso. O TikTok revolucionou isso. Nós podermos, enquanto seres humanos, estar mais conectados através da internet traz muita coisa ruim, mas também traz muita coisa boa. Eu sinto que os maiores reflexos na música são essas plataformas que estão investindo dinheiro no Brasil por saber que ainda tem muita coisa a ser criada. Conseguir ver a música evoluindo traz uma esperança. Acho que o papel da música sempre foi o papel de esperança na vida do mundo inteiro, né? Como artista, estou cada vez mais pegando referências do mundo inteiro, de trabalhos de qualidade. Lógico que é muito fácil olhar para o mercado americano, onde tem maioria das coisas, mas eu busco referências de vídeos gravados em festivais na África também, por exemplo, porque aquilo tem uma história para contar muito interessante. A internet dá acesso a tudo isso, que faz muito parte da minha construção enquanto artista e está sendo refletido no momento pop atual. Está todo mundo subindo o nível. Inclusive, o Pedro falou: “Eu não estou indo [gravar o clipe de “Lokko”] de agente duplo. Vou ver tudo o que você fez de foda no seu clipe, anotar e fazer ainda mais foda no meu próximo. Aí eu falei: “Perfeito! Aí, no próximo clipe seu, me disfarço de Warner Music Label, anoto tudo o que você fez e também faço o meu próximo ainda mais foda”. Essa ideia dos dois agentes secretos querendo sempre elevar o nível é sobre amigos criando juntos, querendo ver o bem do outro e ampliar os espaços na música.
Eu vi que você estava em um estúdio em Miami recentemente. Como foi a experiência? Encontrou algum famoso gringo por lá?
Originalmente a minha missão era viajar para a divulgação do meu trabalho. Por conta da pandemia e coisas muito maiores do que eu imaginava, eu acabei tendo que reduzir o trabalho e fiquei mais nessa função de gravar em estúdio. Eles estão vivendo outra realidade lá nos Estados Unidos, sabe? Então, eu pude estar no estúdio com colaboradores. Tive momentos com artistas dos quais são fã, tipo o Ovy on the Drums, produtor que fez “Tusa” [de Nicki Minaj e Karol G] e várias músicas incríveis. Nós fizemos uma música que não é “Lokko”, mas é uma próxima. Gosto muito de poder sempre conhecer gente nova, de outro mercado e poder apresentar o meu trabalho para eles como mais uma pessoa do Brasil. Todos, sem exceção, a primeira coisa que falam é: “Nossa, depois da Anitta”. Ela foi a primeira a ter ido lá para conhecer e colaborar com essa galera. Eu ter tido essa experiência acho que, talvez, faz esses produtores pensarem: “Nossa, veio a Anitta que já esse fenômeno! Está vindo mais coisa incrível do Brasil”. Foi muito legal sentir que essas pessoas querem trabalhar comigo. Eu senti até que já estou criando uma identidade muito forte no espanhol, que não é uma língua que eu domino. Estou sendo a mesma artista, independentemente da língua que estou cantando. Essa é a minha nova fase, ela é muito sobre isso e acho que vai ficar evidente.
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