Uma forte chuva varre a tarde de Veracruz, cidade que fica nos limites do Golfo do México, enquanto Natalia Lafourcade atende o telefone. A certa altura da conversa, ela fala entusiasmada sobre o novo disco, “Un Canto Por México, vol. 2“. Sem aviso prévio, a chamada cai.
“Desculpe, eu vivo no meio do campo e preciso manter vários aparatos aqui para não ser deixada na mão”, explica, enquanto reconecta o que parece ser o cabo de rede. Ela se diverte, mostrando empilhadas na mão esquerda outras três baterias portáteis. “O sinal não é tão bom e a conexão é bem inconstante. É difícil se comunicar”.
A despeito da imprevisibilidade que se desenha no céu, a artista tem buscado colar novas peças no extenso mosaico da cultura mexicana. Para isso, usa a música como principal ferramenta. De estrela pop líder das paradas de sucesso no início dos anos 2000, fase esta marcada por letras cheias de azedume e clichês da juventude, Lafourcade se transformou em porta-voz de uma geração que busca resgatar e homenagear a música tradicional.
Com o elogiado LP “Hasta La Raíz”, lançado em 2015, alcançou o posto de estrela do Latin Grammy. A crítica se rendeu e afirmou com unanimidade que era a autora do “refrão do ano”.
Em seguida vieram quatro outros álbuns, divididos em duas empreitadas A primeira delas, “Musas”, fez uma homenagem ao folclore latino-americano, eternizado em vozes de mulheres como Mercedes Sosa, Violeta Parra e Omara Portuondo.
Em 2020, por sua vez, foi a vez de “Un Canto Por México”, repertório selecionado a princípio para uma apresentação beneficente realizada no Auditório Nacional da Cidade do México, meses antes. O evento, que reuniu cerca de dez mil pessoas e acabou rendendo uma gravação em estúdio, destinou seus lucros à reconstrução do Centro De Documentación Del Son Jarocho. A humilde casa de cultura pública da cidade de Jáltipan de Morelos tinha sido destruída pelo sismo de Puebla, em 2017.
Sua curadoria, aliada a delicados arranjos, reúne bolero, música tradicional e son jarocho, entre outros gêneros. Com produção de Kiko Campos, emprega desde canções inéditas a releituras de clássicos do próprio repertório. Também há espaço para uma porção de regravações.
O primeiro volume também obteve o prêmio máximo da música, um Grammy norte-americano na categoria Melhor Álbum Regional Mexicano ou Tejano. Calcadas na polifonia das vozes e dos sons, as faixas garantem a seu modo a amplificação de um discurso que torna Lafourcade uma das artistas populares mais respeitadas da geração.
Neste novo capítulo, ela usa como critério para selecionar suas parcerias nomes que tenham um comprometimento palpável com a arte latino-americana, entre eles a chilena Mon Laferte (“La Trenza/Amor Completo”), os conterrâneos Pepe Aguilar e Los Cojolites (“Cien Años” e “Nada es Verdad”), além do brasileiro Caetano Veloso. Com este, ela gravou “Soy Lo Prohibido”.
Ao Papelpop, em entrevista, ela resgatou lembranças e falou sobre temas como o status cultural de seu país, o interesse pela literatura brasileira e a importância de se reconhecer parte do lugar em que nasceu.
***
Papelpop: O que sentiu naquela noite em que subiu ao palco do Auditório Nacional da Cidade do México para o primeiro show de “Un Canto Por México”?
Natalia Lafourcade: Primeiro e único até agora [risos].
[risos] Sim! Até agora!
Sabe, eu ainda sonho em poder apresentar esse projeto ao vivo outras vezes. Mas naquele dia específico senti uma emoção enorme, tudo parecia mexer comigo, desde o prazer de estar ali até a satisfação pelo trabalho musical que estávamos fazendo. Sabíamos que iríamos tocar algo muito especial… eu também estava nervosa porque era a primeira vez que aquele show seria apresentado, nunca tínhamos tocado naquele formado. Veja bem, eram quase 3h de música e não vínhamos de uma turnê, o que, teoricamente, te dá uma energia, um fôlego para subir ao palco. Tudo era novo e, francamente, estava ansiosa. Na mesma proporção em que muito cansada. Lembro de ter dito a alguém ali pela tarde ‘Não sei como vou fazer isso logo mais’. Além de todo o preparo para o show, ainda estávamos gravando o disco paralelamente. Então havia uma grande sensibilidade. Quando vi as pessoas com toda aquela energia, esperando a gente nos assentos, simplesmente esqueci.
Este projeto dialoga com lugares muito afetivos e imagino que pra você tenha sido ainda mais intenso, por ter trabalhado com sons com os quais têm uma relação pessoal. O son jarocho é um desses casos. Qual é a primeira memória que você tem desse gênero musical?
Eu era muito pequena e me lembro de ver o fandango [um tipo de música e dança de origem árabe-ibero-americana, muito tradicional no México] e o son jarocho sendo tocados no porto de Veracruz. De sair para passear com a minha mãe e observar como as outras mães brincavam com os pés de seus bebês, fingindo um sapateado. Eles eram tão pequenos que nem andavam ainda, ou seja, a música e essa respectiva herança já era capaz de mover seus pézinhos ao ritmo da música. É uma memória forte… De fato, esta é uma música que esteve sempre muito presente, primeiro porque eu cresci aqui e só aos 9 anos de idade fui viver na Cidade do México. E agora, que decidi voltar, de uns anos pra cá calhou de estar perto, estar em contato com o trabalho de Los Cojolites, que tanto admiro e escuto, assim como muitos outros personagens do son jarocho que me cativam e me fazem ver o quanto este universo musical é inspirador, o quanto gera curiosidade. Há outros gêneros por aí, não é o único da música mexicana que me atrai. Gosto muito de brincar com um pouco de tudo.
Bem lembrado. Você cita outros tipos de música tradicional e me lembro que conheci o huapango justamente graças a você, a partir de “Hasta La Raíz”.
Eu também. Confesso que eu também não o conhecia antes de ter decidido trabalhar no disco. Ainda tenho muito que aprender.
Em “Musas” você já chamava a atenção para o respeito à cultura, para a preservação da nossa história. Como definiria o cenário cultural do México hoje?
Eu acho que temos coisas deliciosas, muito vivas, que estão bem incorporadas ao nosso estilo de vida, à nossa forma de viver. Você vê isso facilmente nas ruas. Pensando bem vocês também têm isso no Brasil, o que eu posso dizer do Brasil? [risos]. Vocês têm música na rua e é algo que admiro muitíssimo. Aqui acontece algo similar, as pessoas cantam, tocam e se expressam por todas as partes. O que me deixa triste é o fato de que não se ensine música nas escolas, que não haja muita importância pra aprendizagem musical nas escolas públicas. Isso me chama a atenção porque meus pais são músicos, são professores de música e desde que era pequena acompanho essa luta, ambos dizendo ‘O que vou fazer se é tão difícil que meninos e meninas tenham acesso à educação musical, assim como se ensinam outras matérias essenciais?’. Deveria haver uma importância similar. É algo que eu lamento um pouco porque a cultura e a tradição, as pessoas do México em si, estão profundamente arraigadas à música. A parte bonita é ver como as comunidades seguem dando esse protagonismo à arte, quer dizer, se você visita, por exemplo, a Serra de Oaxaca, em cada povoado existe uma banda. É uma coisa cultural, é como uma religião. O pai toca algum instrumento e transmite a mesma paixão, a mesma habilidade de geração em geração para filhos e netos. Vão aprendendo entre eles. Acho que isso acontece também com o son jarocho, a música se aprende no campo e os instrumentos são lapidados a partir de uma árvore da região que, eventualmente, foi atingida por um raio. Da raiz ou de algum outro pedaço de madeira raspado se cria uma jaranita como esta [Natalia se levanta e busca uma jarana jarocha, instrumento musical de 8 cordas típico da região de Veracruz]. Isso está vivo, não há forma de que isso se apaga, está muito vivo nas comunidades e fico encantada vendo.
Temos aí fora um mundo tão globalizado, superexposto, mas você consegue alguns feitos, entre eles fazer uma aproximação entre o que é singular e o que é comum, entre as pessoas e a sua essência. Acha que mesmo nesse contexto de incessantes influências externas estamos mais conscientes das nossas origens enquanto latino-americanos?
Sinto que cada um tem o seu tempo e isso nos inquieta a todos em algum momento. Sinto também a existência de uma necessidade de encontrar raízes, origens, identidades. Isso nos dá força para encarar a vida, nos conecta com uma configuração importante que é ter essa ciência de que somos de algum lugar. Assim se cria um sentimento de pertencimento e, pessoalmente falando, esse movimento interno me deu muita força. Lá atrás eu queria fazer como vários outros artistas internacionais que se dispõem a cantar em outros idiomas, mas de repente isso mudou e comecei a sentir vontade de ser mexicana. De assumir isso e dizer pro mundo que o México tem coisas interessantes, coisas que eu poderia utilizar na minha música. Desta maneira, minhas produções seriam diferentes daquelas que se ouve em outros lugares do mundo, eu poderia usar ferramentas e elementos capazes de tornar meu trabalho especial, para além daquilo que já oferecia. Somaria o meu mundo a esse contexto em que cresci, de onde venho. Mergulhar nesse universo me ajudou muito a encontrar meu próprio estilo, minha voz e foi forma de me aproximar da música nacional. Somos muitos os que estão tendo esse tipo de inquietação.
Ter Caetano Veloso entre as participações de “UCPM” vem desse interesse comum de cantar uma música que empregue sentimento, que dê ao ouvinte esse senso de identidade?
Acho que sim. Vejo em Caetano uma conexão particular com México. Ele sempre deixou transparecer um amor pela nossa música e quando escolheu essa música pra cantar comigo, me disse ‘Ai, este arranjo é tão mexicano, me lembra tanto daí’… ‘Soy Lo Prohibido’, portanto, é uma escolha dele e pra mim tem a ver ainda com um pouco do que estamos fazendo com esses dois volumes, dedicados a um centro que promove e trabalha pela preservação e promoção da música, um espaço que há muito tempo existe no campo e que surge pelas mãos de pessoas da comunidade. Existe toda uma série de encontros culturais que passam por aí, para além da música. No Centro de Documentación Son Jarocho também trabalhamos a cerâmica, o tear, o ensino da copla [poesia popular espanhola]… são muitas formas de arte que utilizam e incorporam à música. Tudo o que vai acontecendo se revela impregnado por ela de alguma forma. Um artista como Caetano também tem feito, igualmente e há tanto tempo, um trabalho importante para a sua comunidade, para as pessoas no Brasil. Por isso fiz o convite.
Em 2020 você venceu um Grammy norte-americano. Pensava que os Estados Unidos e a Academia iriam receber tão bem este projeto, este primeiro volume?
Não, pra ser sincera. Outro dia em uma entrevista contei sobre o quanto ia mal na escola quando era pequena, eu sempre tinha as piores notas. A verdade é que, aos 6 anos, sofri um acidente em que um cavalo me deu um coice na testa, tenho até uma cicatriz aqui. A reabilitação demorou muito e perdi muito tempo, fiquei atrasada. Ler, caminhar, fazer qualquer coisa exigia um grande esforço e me afetava muito o fato de estar sempre atrás de todas as minhas colegas, eu ficava triste. Mas em algum momento minha mãe disse ‘Veja bem, Natalia, não faça as coisas pra ter um dez. Não me importa que você me traga as melhores notas. Quero se esforce, que dê o melhor de si e que faça o que for capaz. Isso não te faz nem melhor, nem pior do que suas colegas’. Ela também me falava coisas do tipo ‘Além disso, você gosta tanto de música, veja a quantidade de coisas lindas que fazemos com ela aqui em casa. Não se preocupe com isso, se não for assim você vai encontrar um lugar pintando, dançando ou cantando. Apenas dê o seu melhor’. A certa altura aprendi, ou pelo menos ficou muito claro, foi que eu não tinha que fazer as coisas esperando um reconhecimento. Que eu tinha que entregar meus projetos com amor, paixão e energia, com intenções verdadeiras. É muito importante saber o que você deposita nos seus trabalhos, porque depois você realmente não sabe se vai ganhar algo com isso. Nem sequer sabe se as pessoas vão gostar. Então, nunca me preocupou, não era algo que eu pensava. Agora, no momento em que estávamos preparando esse disco, eu e o produtor [Kiko Campos] queríamos muito encher o auditório Nacional, trazer todas as pessoas possíveis para o show. Precisávamos de muito dinheiro pra reconstruir o CDSJ e queríamos que viessem famílias inteiras, ou seja, as crianças, os pais, as tias, os primos, avós, amigos… Todos! E que pudessem desfrutar da música, se divertir, embarcar em uma viagem de emoções e sensações. Isso mesmo, que fosse sensorial, alegre, que conectasse e fosse diverso. No fim, isso nos fez escolher um repertório musical muito amplo e sem se dar conta terminamos fazendo um tributo à vida. São faixas em que canto sobre amor, desamor, dor, vida, morte, mística, mistério, sobre lendas, sobre o divino, sobre a natureza, as mulheres, suas lutas e protestos. Há de tudo. Eu nem achava que iriam nos indicar porque também era um disco onde se juntava repertório já gravado em outros projetos, mais parte de um repertório inédito e uma terceira camada composta por um repertório tradicional, de música regional. Não pensei no Grammy, estava ocupada querendo um álbum que pudesse refletir o que foi aquele concerto e encher a casa. Era só o que eu pensava. Mas, seguramente, outras pessoas estavam focadas nisso [risos].
Sei que a Clarice Lispector é uma das suas maiores referências e é curioso porque “Pedro Páramo” [obra do escritor mexicano Juan Rulfo] é um dos meus romances favoritos…
… Que bonito isso!
Tanto na obra de Rulfo, quanto na de Clarice há uma multiplicidade de vozes e de discursos. Qual a importância de garantir isso na curadoria musical, por exemplo?
Os dois, Rulfo e Clarice, eram seres muito conectados às suas inquietações, que estavam sempre em contato com suas verdades, honestidades, transparência. Não estavam ali tratando de demonstrar nada, era como uma necessidade. Quando você lê Clarice a reação é sempre ‘Como isso é forte’. Me parece uma cascata mental, uma coisa que não tem fim, que não para. Ela tinha uma necessidade de escrever e, caso não o fizesse, deixava claro que enlouqueceria. Ao final, você mesmo sabe, era tanto pra ela que… Na música, em meu caso, não segui tendências, não segui o caminho mais usual do que se ouve hoje em dia porque, com o tempo, quis encontrar onde estava minha verdade, minha honestidade, algo que era puro e real, que me emocionava, surpreendia e me arrepiava. Há tantos intercâmbios na vida para que alguém seja capaz de fazer aquilo que quer fazer que, no fim, é muito bonito e agradável observar o processo. Também há uma parte de entregar, dar, dar e dar… Para mim, termina sendo muito importante emocionar e sentir o real, sentir o que é honesto, que vem de dentro. Se não, deixa de fazer sentido o que faço. E ao se conectar com essa verdade você começa a encontrar forças poderosas, o espírito do que tem feito. Isso agarra seu próprio voo e se conecta com outras pessoas. Trato de ver as coisas assim.
Uma canção que antecede os trabalhos de “Un Canto Por México” é “Alfonsina y el Mar”, que você mesma descreve como uma das suas favoritas. É uma das minhas também. Quando decidiu viver em Veracruz, automaticamente, fez a escolha de viver diante do mar, uma figura recorrente na sua obra. Em alguns momentos ele é paisagem, em outros personagem… Que relação tem com ele?
Eu amo. Sou pisciana, uma sonhadora total, assim como costumam dizer por aí que são os piscianos. Tenho um pouquinho de câncer também, então a água é o meu elemento. Me fascina estar perto da orla, a linguagem contida nas ondas, a vida que emana dali. Sou muito apegada, mas ao mesmo tempo também tenho um respeito enorme pelo que ele impõe. Não sou impulsiva, gostaria muito de ser uma surfista. Algum dia, quem sabe, eu aprenda.
Falar de raízes é também tocar em pontos de dor. Há canções mais políticas nos discos, como “Un Derecho de Nacimiento” e “Nada es Verdad” que se destacam porque abrem um diálogo com o forte autoritarismo que vive a América Latina. Isso também não é algo novo. Acha que vamos conseguir nos libertar disso, ou seguiremos vivendo ciclos viciosos?
Não sei muito bem… Sinto que nós podemos mudar as coisas a partir de outros lugares. De repente, fazendo trabalhos como estes dois volumes, me dou conta do quão forte pode ser se unir com pessoas talentosas, pessoas que têm diferentes fortalezas criativas e estão interessadas em trazer tudo isso a um ponto comum. Isto acontece muito nos fandangos, todos colaboram em uma celebração. A tarima [estrutura de madeira geralmente forrada com tapete e protegida por um dossel] é o centro de tudo, onde se fixa a energia, onde todos passam horas cantando ao redor, festejando, comendo, com uma série de códigos e linguagens. Em ‘UCPM’ fizemos algo parecido, fizemos um fandango à nossa maneira, onde reunimos o talento dessas pessoas, seus mundos e diversidades em uma frequência tão poderosa que na hora de subir ao palco, entrar em estúdio algo aconteceu. Foi como um ‘boom’, uma força, uma luz. Sinto um amor tremendo pelo que passou por ali e nos surpreendeu a todos. Hoje, mais do que nunca, fazer esse trabalho acaba sendo uma forma de fortalecer nossos tecidos sociais, nossas comunidades, nossas tradições. Temos que ser conscientes de que o impacto do nosso crescimento individual vai se refletir na comunidade, no todo. Além de sermos homens e mulheres lutando por um mundo, somos seres humanos. Algo está mudando… devemos tirar da mente esta coisa tão quadrada que diz ‘seguiremos assim’. É imprescindível que estejamos juntos, fazendo as coisas em comunhão, ainda que haja aspectos que tenhamos que transcender para ver o que há logo adiante, para nos reconhecermos nos outros, em seus elementos e valores. O amor, a empatia, a compaixão, a unidade, em tantas coisas pessoais e compartilhadas. Não sei, vai ser curioso ver daqui a alguns anos o que acontecerá. Gosto de pensar que, sim, haverá uma libertação.
Você fala de consciência, o que é verdade pra você?
Para mim, o amor é verdade. Isso pode soar como algo piegas, mas não me importa porque o amor pode tudo. Ele tem que começar com a gente, você tem que cultivar, trabalhá-lo, e para isso é preciso lidar com o sentimento como se fosse uma semente interna, que levamos dentro de nós mesmos. Sinto que há verdade nisso. Quando se constrói um projeto ou uma relação baseada no amor é perceptível a diferença. E as relações, mais do que isso, são verdadeiras ao ponto de você dizer ‘Tire-me tudo, mas não me tire as relações, a liberdade de poder olhar alguém nos olhos, de poder tocá-lo, abraçá-lo, poder dizer o que acontece comigo ao outro’. É importante que possamos dar as mãos a fim de impulsionar uns aos outros. Não podemos crescer sozinhos, embora falte um pouco de compreensão sobre isso. De repente, por exemplo, se você pensa em um prato de comida… Eu tenho em casa, não é a realidade de todos. Mas para que eu possa comer o que tenho aqui há privilégios e tantas etapas que tem que acontecer antes… o mínimo que tenho que dizer é ‘Obrigada’. A todas as pessoas que arrancaram uma cenoura da terra, ao pequeno animal que sacrificou sua vida para que eu pudesse comer, ao mar e às pessoas que pescam. Temos que ser conscientes daquilo que existe. Isso pra mim é verdade. Há muitas outras coisas que achamos que são verdade, mas que na verdade não são [risos]. E as pessoas têm a convicção de que na vida você precisa se esforçar e trabalhar para ganhar muito, muito, muito dinheiro porque só isso vai te fazer feliz. Não é que o dinheiro seja algo ruim, mas você acaba sendo mal-afortunado quando só batalha. Uma hora você se dá conta de que a vida passou e não desfrutou dela.
Em “Recuérdame”, sua colaboração com Carlos Rivera, há um verso que diz: “Recuérdame, no llores, por favor/Te llevo en mi corazón y cerca me tendrás” [Lembre-se de mim, não chores, por favor/te levo em meu coração e por perto me terás, em tradução literal para o português]. Musicalmente falando, daqui a dez, vinte, cem anos… o que quer olhar para trás e se lembrar desse período?
Espero que continue acontecendo o que está acontecendo agora. Sou muito sortuda por fazer o que gosto, o que eu amo, e as pessoas sempre recebem minha música com muito carinho, me agradecem dizendo sempre ‘Obrigado por isso e aquilo, Natalia’…
… Estava prestes a fazer isso, confesso. [risos]
Obrigada, isso é muito legal! Quando acontece, me parece que o ciclo natural das coisas alcança sua plenitude, existe uma realização de propósitos. Você se volta para si mesmo, conecta-se com alguma musa, com alguma inspiração. Canaliza algo! É como se estivéssemos baixando uma informação que já está aqui, é parte do todo, disso que chamamos de sentimento universal. Faz parte da magia e do mistério da música. Alguém vai receber isso e compartilhar com os demais. Quando chega a outra pessoa e o sentimento a ajuda de alguma forma, que a sara, salva ou tira alguém da cadeira… que o sacode, sabemos: esse ciclo finalmente cumpre sua função. Meu desejo máximo é seguir fazendo esse trabalho, que eu possa seguir compondo e me dedicando. Que as pessoas sigam recebendo música. Lá na frente, quem sabe, vão dizer ‘Que lindo foi passar a vida sendo acompanhado pelas músicas de Natalia’. No fim, você vai entender rapidinho que já não será mais ‘minha música’. É algo que tem que estar aí e nada mais. Me vejo como um meio para alcançar o que se precisa.
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“Un Canto Por México” já está disponível em formato digital. Ouça em seu tocador favorito clicando na foto abaixo.
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