Voltar para o topo

Agora você pode adicionar o PapelPop a sua tela inicial Adicione aqui

“Ancient Dreams in a Modern Land”: nossas impressões sobre o novo disco de Marina

música
Foto: Divulgação
Projeto revela viés criativo mais orgânico da cantora greco-galesa (Foto: Divulgação)

Marina Diamandis está de volta. A cantora lançou nesta sexta-feira (11) um aguardado projeto de estúdio, seu primeiro álbum em três anos e o quinto da carreira. “Ancient Dreams In A Modern Land”, serve “o tabu bem quebrado” e aposta em características líricas já conhecidas de Marina, uma compositora de mão cheia quando se trata de evocar pensamentos sobre questões de atualidade e sentimentalismo.

Sempre conduzindo o mundo externo a um universo particular em cada trabalho, a artista cena para eras passadas ao empregar peças-chave de discos como “The Family Jewels” e “Electra Heart” na construção do presente.

Se nesta fase seu interesse era tratar, de formas bem opostas entre si, temas como consumo e papel da indústria cultural na criação de um imaginário insustentável na juventude de nossa sociedade, em “Froot”, álbum de 2015, Diamandis quis se voltar completamente para dentro.

Nas 11 faixas que lançou à época, versava sobre amores e inseguranças de uma forma ainda não apresentada até então, vulnerável. Foi nesse mesmo caminho que a artista seguiu com o disco seguinte, “Love + Fear”, de 2019 – projeto que recebeu avaliações razoáveis em relação aos demais.

Em “Ancient Dreams In A Modern Land”, Marina reúne grandes feitos da estética electropop melancólica a fim de elaborar um flerta intenso com o retrô, ainda assim soando como o que se entende como mainstream hoje.

Se há uma diferença principal em relação ao que veio antes? Uma mudança em intensidade. Agora Marina não usa mais o artifício de uma narrativa ficcional. É a artista e seu mundo se revelando crus, mais viscerais e igualmente menos dançantes que antes.

Como um todo, o projeto é verborrágico. Alguns versos têm mais palavras do que esperaríamos para canções pop. Tudo é uma grande mensagem que precisa ser dita e ouvida. Além de acontecimentos recentes, como a ascensão dos partidos de extrema direita a muitos países ou até o movimento #MeToo, o disco também reflete o término do relacionamento entre a artista e o músico Jack Patterson, do grupo Clean Bandit, com quem esteve desde 2015 (e rendeu a colaboração no hit “Baby”).

Os vocais e o timbre singular, cheio de identidade, ganham ainda mais peso e beleza nos arranjos cheios de harmonia que são marcas da artista desde o primeiro álbum. Embora haja momentos pouco empolgantes, musicalmente falando, ela aposta em um canto mais controlado, habilidoso, até, a fim de reforçar suavidade e dramaticidade nos momentos certos.

Para assinar a produção do disco junto com ela, Diamandis escalou James Flannigan – com quem já havia trabalhado em faixas de “Love + Fear” (e tem no portfólio produções para Vérité e Dua Lipa) – além da produtora Jennifer Decilveo, um dos nomes escolhidos por Miley Cyrus para o disco “Plastic Hearts”. Ambos produtores trouxeram o calor do rock.

Ainda é cedo para afirmar com todas as letras, mas “Ancient Dreams In a Modern Land” pode ser um ponto alto da carreira da Marina, exatamente por brincar com a labiríntica bolha particular que criou para si. Ao se recusar a cair nas fórmulas fáceis do pop de agora, a cantora greco-galesa se mostra segura – o que faz dela um ponto fora da curva.

Abaixo, você confere um faixa a faixa.

“Ancient Dreams in a Modern Land”

Esta é a faixa-título, que apresenta uma batida intensa meio pop punk logo de cara. As baterias enriquecem o universo sonoro de Marina, exatamente como feito no disco “Froot”. Aqui, a artista já mostra que trará temas mais universais, dizendo na letra sobre como nossos ancestrais tiveram de lutar para sobreviver. 

“Venus Fly Trap”

É o single mais recente antes do lançamento do álbum completo, que ganhou até um clipe no qual a artista referencia tanto as eras de Hollywood quanto da própria carreira, traçando também um paralelo com a estética do padrão de beleza de cada momento.

“Man’s World”

A primeira peça do quebra-cabeças desse disco, “Man’s World” foi apresentado como single em novembro de 2020, ganhando até remix oficial com Pabllo Vittar e Empress Of. Nela, Marina versa sobre a falta de esperança em não atuarmos nas questões ambientais, assim como as injustiças e diferenças dos lugares da sociedade ocupados por mulheres e pessoas LGBTQIA+ em comparação aos homens cisgêneros héteros.

“Purge the Poison”

Também um dos singles apresentados antes do lançamento completo do disco, “Purge The Poison” é um o momento mais direto do trabalho. Marina tem muito a dizer sobre os valores de nossa sociedade ocidental contemporânea. Desde a menção “a um vírus” à crítica pela forma com que a imprensa lidou com o episódio em que Britney Spears raspou os cabelos em 2007. “O capitalismo nos deixou pobres” é uma das frases mais marcantes do refrão.

“Highly Emotional People”

O clima fica mais introspectivo e Marina abre um espaço seguro pra que possamos expressar os sentimentos. “A vida é um jogo do universo”, declara a artista nesta, que é a faixa mais filosófica do disco. Trata muito sobre a dificuldade de expressar emoções e chorar dentro da cultura de masculinidade tóxica.

“New America”

Nesta, a sonoridade volta à vibe meio pop punk, com baterias e synths poderosos que impactam já à primeira ouvida. A parte lírica questiona o sonho americano e a estrutura sobre a qual ele foi construído, falando sobre o sangue nas mãos daqueles que tomaram as terras dos Estados Unidos dos povos nativos, até sobre a comida hoje não ter mais sabor por causa dos métodos da cadeia produtiva. Um registro muito interessante de nossos tempos!

“Pandora’s Box”

É um momento bem direto, sobre como expressar os sentimentos mais profundos é como abrir uma caixa de pandora, cheia de surpresas e intensidade. A artista expressa a frustração de ter relacionamentos dificultados por isso, definindo suas emoções como uma “guerra dentro do meu crânio”.

“I Love You But I Love Me More”

Apesar de o início remeter muito à faixa “Solitaire”, de 2015, é a música mais imersiva do trabalho, criando uma paisagem cheia de guitarras e vocais etéreos. O solo de guitarra vai num caminho delicioso bem Eagles e Dire Straits.

“Flowers”

A balada do disco, momento que para os fãs de Marina é bem importante, dadas faixas como “Happy” e “Obsessions”, sempre pontos altos da composição da artista. Em “Flowers”, as vozes vão crescendo em camadas conforme a faixa passa, chegando a um lindo ápice ao fim.

“Goodbye”

É uma canção que brinca com a estrutura de uma forma bem original. Na letra, Marina diz adeus para a garota que ela costumava ser, tomando novas decisões ao fim de um relacionamento.

***

Ouça “Ancient Dreams in a Modern Land” nas plataformas de streaming.

voltando pra home