Capa da revista The Hollywood Reporter, o ator Billy Porter revelou nesta quarta-feira (19) que convive com o vírus HIV há 14 anos. Em um relato longo e pessoal, o artista revelou que se descobriu soropositivo em 2007, mas que preferiu manter o diagnóstico em segredo temendo a marginalização e eventuais retaliações da indústria por meio de colegas de elenco, colaboradores e até mesmo da própria mãe.
O astro de “Pose”, sucesso da FX que se encaminha para a última temporada, também falou sobre a responsabilidade e a gratidão que tem sentido – sentimentos vetores da decisão de falar sobre o assunto publicamente.
“Descobri em 2007, o pior ano da minha vida. Estive no precipício da obscuridade por cerca de uma década ou mais, mas 2007 foi o pior de todos. Em fevereiro, fui diagnosticado com diabetes tipo 2. Em março, assinei os papéis da falência. E em junho, fui diagnosticado com HIV”, lembra.
O diagnóstico foi feito graças ao que chamou de “um golpe de sorte”, em uma visita de rotina ao hospital. Ao dirigir-se à clínica mais próxima por notar uma anormalidade na pele, aproveitou pra fazer o teste de HIV, que deu positivo.
“Por muito tempo, todo mundo que precisava saber, sabia – exceto minha mãe. Eu estava tentando ter uma vida e uma carreira, e não tinha certeza se conseguiria se as pessoas erradas soubessem. Seria apenas outra forma de as pessoas me discriminarem em uma profissão que já é discriminatória. Então, tentei pensar a respeito o mínimo que pude. Tentei bloquear. Mas a quarentena me ensinou muito. Todos foram obrigados a sentar e calar a boca”.
Sobre o processo de aceitação, Porter relembrou os muitos traumas vividos em sua vida, entre eles os abusos sexuais que sofreu do padrasto entre os 7 e 12 anos e a saída de casa, aos 16, em meio a outra epidemia: a do HIV. Todas estas pautas enfrentadas com a ajuda da terapia, tempos depois.
“Descobri ano passado que nunca houve um momento em que eu não tivesse passado por um trauma. E isso foi o que me impulsionou por muito tempo. Meu trauma me serviu, minha história me serviu de alguma forma em termos de avanço. E como artista, sou grato por ter tido a oportunidade de trabalhar com minhas coisas”.
O artista também disse que sua participação em “Pose”, bem como outros papéis ao longo da carreira, foi fundamental no enfrentamento de traumas.
“A vergonha daquela época se agravou com a vergonha que já havia [se acumulado] em minha vida, me calou, e tenho vivido com essa vergonha em silêncio por 14 anos. Ser HIV-positivo, vir de onde venho, crescer na igreja pentecostal com uma família muito religiosa, é como receber um castigo de Deus. ‘Pose’ foi uma oportunidade de trabalhar com a vergonha [do HIV] e onde cheguei. O brilho de Pray Tell e essa oportunidade me tornaram capaz de dizer tudo o que eu queria dizer por meio de um substituto”.
O texto de Porter, que pode ser lido na íntegra em inglês clicando aqui, também revela planos para a estreia de uma autobiografia.
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