Repaginada por conta da pandemia e acontecendo cerca de dois meses após sua data tradicional, a 93º entrega do Oscar chamou a atenção pelo formato. Com cerca de 170 convidados que puderam levar apenas um acompanhante, a cerimônia foi a primeira da temporada, desde o início da pandemia, a adotar regras de distanciamento mais frouxas – até porque, a vacinação nos Estados Unidos segue a todo vapor.
Ainda que todos os profissionais estivessem de máscara e houvesse uma barreira invisível no red carpet, a imprensa pode falar calmamente com quem passava por ali – uma situação bem distinta de anos anteriores em que dúzias de relações públicas e assessores de imprensa apressavam os concorrentes.
Em 2021, aspirando uma espécie de normalidade incompleta e prezando surpresas do espectador, a festa também inverteu a ordem de revelação das categorias chave e entregou o prêmio de Melhor Filme, o mais importante da noite, antes do esperado. Quem levou a melhor foi “Nomadland“, longa da cineasta chinesa Chloe Zhao e considerado o projeto menos lucrativo da história a triunfar. Das 6 estatuetas que concorria, ele levou metade, incluindo a de Melhor Diretor – que pela segunda vez em 93 anos foi para as mãos de uma mulher e cidadã não-branca.
“Que jornada louca fizemos juntos. Ultimamente tenho pensado muito em como sigo em frente diante das adversidades”, disse Zhao em seu discurso de agradecimento. “A primeira frase diz ‘As pessoas a quem dou à vida são inerentemente boas. Isso me impactou muito quando o descobri e uso essa máxima no meu trabalho. Esse prêmio é pra quem tem a fé a a coragem de olhar pra si mesmo e pros outros com bondade. Esse troféu é pra vocês, vocês me inspiram”.
Seria uma prova de mudança nos parâmetros da Academia? Não necessariamente, mas o jornal The New York Times chamou a atenção para o fato de que pessoas de cor foram indicadas aos quatro principais prêmios de atuação – uma marca de que a indústria cinematográfica, de fato, implementou reformas expressivas. Os feitos do filme de Zhao não pararam por aí e deram também a Frances McDormand o troféu de Melhor Atriz.
Melhor roteiro original foi outro destaque porque conferiu a Emerald Fennell um importante feito por “Bela Vingança“. A última vez em que o troféu foi parar nas mãos de uma candidata foi em 2007, com “Juno”, escrito e dirigido por Diablo Cody. O drama da vez quebrou um jejum de 14 anos sem o devido reconhecimento a profissionais mulheres na categoria. Juntas, aliás, todas as obtiveram êxito somaram um recorde: foram 17 vitórias em 2021.
Também pela primeira vez uma atriz coreana venceu o Oscar. Foi Yuh-Jung Youn, a vovó de “Minari“, quem levou o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante e fez um dos discursos mais divertidos da edição.
“Senhor Brad Pitt, finalmente, muito prazer em conhecê-lo! É uma honra! Eu sou da Coreia e a maioria das pessoas erra meu nome. Hoje à noite vocês estão perdoados. (…) Não acredito em concorrência, como posso ganhar da Glenn Close? Todas as indicadas, todas nós somos vencedoras por filmes diferentes e papéis diferentes. É errado concorrer. Tive mais sorte, talvez? Talvez houve hospitalidade americana pra uma atriz coreana”.
A dupla Mia Neal e Jamika Wilson foi outra que bebeu na fonte dos ineditismos. Ambas se tornaram as primeiras mulheres negras a ganhar o Oscar de Melhor Maquiagem e Penteado – prêmio que dividiram com Sergio Lopez-Rivera por seu trabalho em “A Voz Suprema do Blues“.
Ann Roth, que venceu por Melhor Figurino pelo mesmo filme, se tornou, aos 89 anos, a mulher com mais idade a ganhar o prêmio. Chadwick Boseman e Viola Davis, protagonistas da obra, eram favoritos, mas acabaram não levando a melhor nas categorias de Melhor Ator e Atriz.
Favoritíssima, a sensível animação “Soul”, da Pixar, levou duas categorias importantes para o seguimento. Além de Melhor Animação, o filme, que conta a história de um homem que, após morrer, se descobre dividido entre a antiga vida na Terra e um universo paralelo de almas, arrasou na disputa por Melhor Trilha Sonora.
No quesito streaming, assunto bastante debatido já que a Academia se mostrou mais receptiva a seu respeito por conta da pandemia e do consequente fechamento dos cinemas, a Netflix foi quem mais se destacou. Venceu 7 estatuetas, entre elas a de Melhor Documentário, por “Professor Polvo”, Melhor Penteado e Maquiagem e Melhor Figurino (“A Voz Suprema do Blues”, já citado), Melhor Curta de Animação, (“If Anything Happens, I Love You”) e Melhor Curta-metragem em Live Action.
“Hoje a polícia vai matar 3 pessoas, amanhã mais 3, e depois de amanhã mais 3. Em média, a policia norte-americana mata 1000 delas por ano, pessoas que são principalmente negras”, disse um dos diretores de “Dois Estranhos”, Martin Desmond Roe. “James Baldwin disse que a coisa mais desprezível que alguém pode ter é indiferença quanto à dor do outro. Não sejam indiferentes ao nosso povo”.
“Mank” e seu charme retrô também rendeu dois Oscars: Melhor Design de Produção e Melhor Fotografia.
Também entre os discursos mais emotivos da noite esteve o do diretor de “Druk”, vencedor da categoria Melhor Filme Internacional. Representante a Dinamarca, o cineasta Thomas Vinterberg citou a precoce morte da filha, Ida, ocorrida dias antes do início das filmagens. A estatueta de ouro foi dedicada a ela, que havia lido o roteiro e também participaria do projeto.
“Dois meses antes de a minha filha morrer, ela estava na África e ela leu o roteiro. Estava animada e amou a história. Ela iria participar do filme”, disse. “Se alguém duvidar de que ela está conosco, vocês vão conseguir vê-la comemorar aqui com a gente. Fizemos este filme para Ida. [A vitória] Foi um milagre que acabou de acontecer, talvez você tenha interferido de alguma forma. Isso é pra você”.
Embora a maioria dos indicados tenha se deslocado a Los Angeles e feito tanto testes, quanto quarentena para estar no Dolby Theater, atores europeus que optaram por continuar no velho continente puderam acompanhar cerimônias remotas organizadas em Paris e Londres, eventualmente conectadas à tela durante suas respectivas participações. Não houve limite de tempo para os discursos, o que alongou a duração do evento.
Gravadas semanas atrás, as apresentações musicais desta edição foram alocadas em um único bloco predecessor à festa principal – algo distinto do que sempre aconteceu, visto que os 5 indicados eram geralmente convidados a cantar durante o evento, entre os anúncios. Apesar das comoventes apresentações de Laura Pausini, Leslie Odom, Jr., Celeste e Molly Sanden, foi H.E.R., quatro vencedora do Grammy, quem subiu ao palco pra receber a honraria de Melhor Canção Original. Ela concorreu com “Fight For You”, faixa-tema de “Judas e o Messias Negro”.
Melhor filme
“Meu pai”
‘”Judas e o messias negro”
“Mank”
“Minari”
“Nomadland” – VENCEU
“Bela vingança”
“O som do silêncio”
“Os 7 de Chicago”
Melhor atriz
Viola Davis – “A voz suprema do blues”
Andra Day – “Estados Unidos Vs Billie Holiday”
Vanessa Kirby – “Pieces of a woman”
Frances McDormand – “Nomadland” – VENCEU
Carey Mulligan – “Bela vingança”
Melhor ator
Riz Ahmed – “O som do silêncio”
Chadwick Boseman – “A voz suprema do blues”
Anthony Hopkins – “Meu pai” – VENCEU
Gary Oldman – “Mank”
Steve Yeun – “Minari”
Melhor direção
Thomas Vinterberg – “Druk – Mais uma rodada”
David Fincher – “Mank”
Lee Isaac Chung – “Minari”
Chloé Zhao – “Nomadland” – VENCEU
Emerald Fennell – “Bela vingança”
Melhor atriz coadjuvante
Maria Bakalova – “Borat: fita de cinema seguinte”
Glenn Close – “Era uma vez um sonho”
Olivia Colman – “Meu pai”
Amanda Seyfried – “Mank”
Youn Yuh-jung – “Minari” – VENCEU
Melhor ator coadjuvante
Sacha Baron Cohen – “Os 7 de Chicago”
Daniel Kaluuya – “Judas e o messias negro” – VENCEU
Leslie Odom Jr. – “Uma noite em Miami”
Paul Raci – “O som do silêncio”
Lakeith Stanfield – “Judas e o messias negro”
Melhor filme internacional
“Druk – Mais uma rodada” (Dinamarca) – VENCEU
“Shaonian de ni” (Hong Kong)
“Collective” (Romênia)
“O homem que vendeu sua pele” (Tunísia)
“Quo vadis, Aida?” (Bósnia e Herzegovina)
Melhor roteiro adaptado
“Borat: fita de cinema seguinte”
“Meu pai” – VENCEU
“Nomadland”
“Uma noite em Miami”
“O tigre branco”
Melhor roteiro original
“Judas e o Messias negro”
“Minari”
“Bela vingança” – VENCEU
“O som do silêncio”
“Os 7 de Chicago”
Melhor figurino
“Emma”
“A voz suprema do blues” – VENCEU
“Mank”
“Mulan”
“Pinóquio”
Melhor trilha sonora
“Destacamento blood”
“Mank”
“Minari”
“Relatos do mundo”
“Soul” – VENCEU
Melhor animação
“Dois irmãos: Uma jornada fantástica”
“A caminho da lua”
“Shaun, o Carneiro: O Filme – A fazenda contra-ataca”
“Soul” – VENCEU
“Wolfwalkers”
Melhor curta de animação
“Burrow”
“Genius Loci”
“If anything happens I love you” – VENCEU
“Opera”
“Yes people”
Melhor curta-metragem em live action
“Feeling through”
“The letter room'”
“The present”
‘”Dois Estranhos” – VENCEU
“White Eye”
Melhor documentário
“Collective”
“Crip camp”
“The mole agent”
“My octopus teacher” – VENCEU
“Time”
Melhor documentário de curta-metragem
“Collete” – VENCEU
“A concerto is a conversation”
“Do not split”
“Hunger ward”
“A love song for Natasha”
Melhor som
“Greyhound: Na mira do inimigo”
“Mank”
“Relatos do mundo”
“Soul”
“O som do silêncio” – VENCEU
Melhor canção original
“Fight for you” – “Judas e o messias negro” – VENCEU
“Hear my voice” – “Os 7 de Chicago”
“Husa’vik” – “Festival Eurovision da Canção: A saga de Sigrit e Lars”
“Io sì” – “Rosa e Momo”
“Speak now” – “Uma noite em Miami”
Melhor maquiagem e cabelo
“Emma”
“Era uma vez um sonho”
“A voz suprema do blues” – VENCEU
“Mank”
“Pinóquio”
Melhores efeitos visuais
“Problemas monstruosos”
“O céu da meia-noite”
“Mulan”
“O grande Ivan”
“Tenet” – VENCEU
Melhor fotografia
“Judas e o messias negro”
“Mank” – VENCEU
“Relatos do mundo”
“Nomadland”
“Os 7 de Chicago”
Melhor edição
“Meu pai”
“Nomadland”
“Bela vingança”
“O som do silêncio” – VENCEU
“Os 7 de Chicago”
Melhor design de produção
“Meu pai”
“A voz suprema do blues”
“Mank” – VENCEU
“Relatos do mundo”
“Tenet”
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