Johnny Hooker não quer guerra com ninguém. Quase três anos após o lançamento do elogiado álbum “Coração”, o cantor se viu obrigado a bater em retirada. Com o vírus correndo solta e os números cada vez mais alarmantes, preferiu ficar na sua e rechaçar a ideia de lançamentos festivos, bolados em uma época em que pouca coisa parece fazer sentido.
Essa escolha não significa que tenha se calado. Diante da presença inconveniente da Covid-19, que o privou dos palcos e tomou conta do debate, o artista se viu embebido por uma espécie de senso protetor para com o próprio público.
Bastante ativo nas redes sociais, hoje ele se diz mais ponderado quanto aos julgamentos e brinca ao se autodeclarar “divulgador científico”. Em segurança e, para além da corajosa missão de informar sendo uma pessoa pública, entre uma postagem e outra, likes e RTs, segue trabalhando de forma remota em projetos musicais.
Prepara para o último trimestre de 2021 o terceiro álbum de inéditas, que tem como mote criativo o sexo. Antes, lança “Macumba Ao Vivo”, primeiro DVD da carreira. Gravado no Recife, em 2016, e considerado uma espécie de lenda entre os fãs por nunca ter visto a luz do dia, o material chega cinco anos depois ao streaming para revelar uma noite épica de arte e de sonhos. É o registro de uma outra era, entenda como quiser.
Entre as participações estão Fafá de Belém, Otto e Karina Buhr, que dividem a cena em versões inéditas do clássico “Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito”. O apaixonado disco que estreou um ano antes e lotou casas de de todo o Brasil foi o mesmo que o catapultou rumo a uma vitória no Prêmio da Música Brasileira.
Ao Papelpop, o cantor fala sobre música, amadurecimento e o sentimento de estar em um país que derrete em meio ao fogo do negacionismo. Hooker também comenta o comportamento recente da musa Madonna, vítima das fake news.
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Papelpop: “Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito” é um disco denso, que se propõe a falar das dores do amor romântico. Como foi a lida de cantar essas paixões fadadas ao fracasso? Houve algo de imoral nessa missão?
Johnny Hooker: Eu acho que o ‘Macumba’ é fruto de um momento da minha vida em que eu era muito jovem. Eu tava saindo da adolescência, entrando ali nos 20 anos, então essa ideia do amor romântico ainda era muito, muito forte no meu imaginário. Confesso até que isso é algo que desconstruí muito ao longo dos últimos anos. Mas o artifício da tragédia, da passionalidade, é uma coisa que é muito forte e move paixões dentro da gente. Cantar o amor, de qualquer forma que seja, nunca pode ser imoral, mesmo que se viva uma história de amor que dá errado, que se experimente um amor que é tóxico. Na posição de intérprete e compositor posso dizer que quando cantamos o amor, existe a tentativa de se entregar, uma tentativa de transmitir algo. É impossível você chegar 100% em alguém. Mas é sempre uma tentativa válida.
Esse trabalho também te deu uma vitória no Prêmio da Música Brasileira. Que memórias você tem daquela noite?
Nossa, aquela noite foi muito especial. O Prêmio da Música Brasileira, é muito importante lembrar, deixou de existir nos últimos anos, infelizmente, por conta da falta de patrocínio, por essa perseguição que as artes estão sofrendo em geral. É muito triste que a gente não tenha mais esse acontecimento porque era uma das únicas honrarias que tínhamos no Brasil, um país que produz música a rodo, que investe em criação, mas que ao mesmo tempo não reconhece o que se faz de bom aqui. Claro, temos o Prêmio Multishow, que é voltado pra indústria, tivemos o VMB, igualmente com um viés mais comercial… ambos são e foram importantes. Mas, às vezes, me parece que o país está desaparecendo. Se você não celebra a memória, a produção artística do seu país, é preciso se perguntar: que país é esse? Que espécie de país não abraça sua cultura? Bem, o que me lembro da noite em que venci… Foi a primeira vez que concorri ao troféu e aquela edição era uma homenagem à carreira de Maria Bethânia, uma das minhas maiores referências, uma gênia. Me chamaram pra cantar uma música dela junto com Alcione. Foi uma responsabilidade enorme, meu coração tava na boca. Foi muito, muito lindo, ainda mais por ter cantado no palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, uma casa de cultura belíssima. Lembro que concorri com Fagner e Roberto Carlos e quando eu ganhei foi uma emoção muito grande. A gente sempre sonha sendo adolescente em receber um troféu e discursar agradecendo mãe e pai. Meus avós também estavam lá… É uma noite que carrego no coração.
Aproveitando o gancho, você tem uma relação muito bonita com a sua avó. Volta e meia ela aparece nas suas redes sociais…
Sim! A minha avó, que mora em Recife, apoia muito a minha carreira. Vai aos shows sempre que pode e tenho certeza que desconstruiu muita coisa na própria cabeça pra poder estar ali. Eu a admiro muito por ser uma mulher que, apesar de vir de outro mundo, tenta o máximo ser uma mulher do tempo dela, atualizada.
Ainda sobre shows, como era o clima nos bastidores do espetáculo de ‘Macumba’?
Imagine as coisas mais loucas possíveis [risos]. Eu já fazia música há muitos anos, mas nunca tinha lançado um disco solo. Ali, finalmente, tínhamos uma estrutura pra viajar com banda. Primeiro: poder conhecer esse Brasil lindo e diverso me possibilitou entrar em contato com as pessoas, a cultura e a música do restante do País. Entrei em contato com a produção cultural do Pará, com o que se ouvia no Rio de Janeiro, cidade em que morava à época, e acho que isso influenciou de forma direta o que veio a ser ‘Coração’ [segundo álbum de estúdio, lançado em 2018], porque me ofereceu a liberdade de abraçar toda uma diversidade de ritmos. Agora, falando sério. Era muita farra… tudo acabou sendo mais ou menos uma excursão de amigos porque, apesar da relação profissional, somos todos muito próximos. Me lembro das festas nos hotéis, das turbulências durante os voos em que a equipe inteira passava mal. De quando reuníamos 20, 30 pessoas no mesmo quarto de hotel. Pedíamos umas cem cervejas, que obviamente não cabiam ali, e tínhamos que pegar todos os frigobares dos outros quartos… Estávamos muito embebidos de felicidade. Pela primeira vez na vida tudo dava certo, os shows lotados, volta e meia fazendo colaborações no palco com artistas que sempre admirei. Foi uma experiência fantástica. Das lembranças mais vívidas: antes de o disco sair já fazíamos algumas apresentações com o repertório e fomos convidados pra tocar numa cidade pequenininha do interior, no Nordeste. Era época em que não tinha viral, música em novela… portanto, nossa estrutura era bem precária. Mesmo assim nos divertimos muito. Uma imagem muito forte que tenho é dessa passagem, de estar com o pessoal na caçamba de uma camionete, passeando pela cidade de madrugada, sem nada, nem ninguém ao redor. Cantando e gritando músicas do disco. Sendo felizes. ‘Macumba’ é também um disco que é fruto de amizades bonitas, verdadeiras, de muito amor. Foi tanto beijo na boca, confusão, briga. Olho pra trás e vejo tudo como uma versão brasileira de ‘Quase Famosos’ [filme lançado em 2000, com direção de Cameron Crowe].
Vários artistas estão mantendo os lançamentos e pensando em estratégias alternativas na pandemia. Por que preferiu ficar recluso e resgatar o DVD?
Olha, eu tenho muito medo dessa doença e levo tudo muito a sério. Que fique claro, não se trata de um julgamento sobre quem, obviamente, segue fazendo estreias. Precisamos de arte, de fazer a roda da cultura girar, de grana pra sobreviver. Mas eu não quero me sujeitar, nem sujeitar ninguém da minha equipe, a passar pela experiência do vírus. Não temos como controlar isso. Na medida do possível fui mantendo o que eu conseguia, finalizei o terceiro álbum à distância, mas por outro lado também não queria lançar nesse momento de tragédia. Muito menos, fazer uma estreia incompleta. Está pronto, mas também quero fazer clipes, reunir uma equipe, montar uma estrutura. Confesso que ainda tenho muito medo de circular, de fazer qualquer coisa que não seja essencial. É muito perigoso, principalmente agora, neste momento que vivemos em que não há vacina pra todo mundo, em que milhares de pessoas morrem toda semana. Eu acho uma loucura ver produções gigantescas voltando a rodar, a filmar. Então durante essa reclusão, foi meio natural. O presente ficou suspenso e quis voltar ao passado, resgatar. Esse registro tinha ficado na gaveta, na época a gravação foi um momento muito ousado da minha parte. Só com 1 disco fazer um registro daquele tamanho com Fafá, Otto, Karina Buhr… Fomos lá, metemos a cara e deu tudo certo – apesar de o que aconteceu depois ter sido um tanto desgastante.
Houve um atropelo de compromissos?
Quando terminamos a turnê do ‘Macumba’, já tínhamos data de lançamento pro segundo disco, porque o projeto havia sido aprovado pelo edital Natura Musical. Tínhamos marcado também um show no Rock In Rio, turnê nacional, duas temporadas internacionais… o DVD, naquele ritmo caótico, acabou ficando no fim da lista de prioridades. O ritmo era outro. Resgatando esse material, descobrimos que o que tínhamos na gaveta era algo belíssimo. Foi uma noite histórica, que rendeu memórias de um tempo em que não tínhamos sofrido um golpe, de quando tínhamos esperança de dar a volta por cima e que o Brasil parecia apostar na diversidade, no futuro, no progresso. Ficou a coisa mais linda do mundo também porque descobrimos, dentro desse material, fruto de um trabalho que as pessoas já conhecem, a existência de várias coisas inéditas amarradas ali. A parceria com Fafá que lancei, as outras participações, arranjos. Não é só um disco ao vivo.
Confesso pra você que a parceria com Karina Buhr foi a que mais me deixou curioso.
Deu muita liga, sabe? Eu a admiro muito como cantora, pintora, escritora, artista mesmo. Tem também o fato de que a gente é rebelde, a gente se provoca no palco, ri, se abraça, se beija. Acho que temos uma coisa anárquica, selvagem ao cantar. É muito bonito se ver em cena, quando assisto aos vídeos percebo que ambos estávamos muito felizes ali.
A primeira amostra de ‘Macumba Ao Vivo‘ foi um cover de “Abandonada“, desta vez com a colaboração da própria Fafá de Belém, que gravou a faixa em 1996. Que dimensão ela tem pra você no âmbito artístico, de criação?
Sabe, eu fui crescendo com Fafá já sendo uma referência nessa coisa do canto passional, da mulher empoderada, do símbolo sexual do Brasil. Ela sempre foi a mulher livre que sempre cantou o que quis. Foi também um símbolo político por conta do envolvimento no movimento Diretas Já (1984). Fiquei muito surpreso e feliz quando ela regravou uma música minha, ‘Volta’, em um dos discos dela. Eu quis retribuir esse carinho, homenageando e convidando-a pra fazer parte de algo do meu universo desta vez. Quando ela chegou ali foi muita emoção, essa canção escolhida é basicamente uma intersecção dos nossos universos. É até pouco engraçada por explorar uma coisa meio latina, derramada, ao mesmo tempo em que emprega uma poesia muito forte, que toca as pessoas. Nessas participações, acho também que aprendo muito cantando com outras pessoas e observando o jeito delas. Sou muito nerd nesse sentido, gosto de perceber como funciona o universo criativo-imaginário dos meus parceiros e parceiras de trabalho, tentando absorver o máximo. E ali Fafá foi super generosa, uma grande amiga como sempre.
Você leu “Orgia – Diários de Túlio Carella” e decidiu que este seria o mote criativo para o terceiro álbum. Por que escolheu falar sobre o sexo?
É engraçado você me fazer essa pergunta porque eu não encontrei esse livro, ele me encontrou, na verdade. Eu senti que isso era um sinal de que eu devia mergulhar naquele universo. Quando fiz isso, encontrei um Brasil muito parecido com esse que estamos vivendo, quase como se me percebesse dentro de um desses ciclos intermináveis de América Latina em que vivemos situações em loop. No momento em que o enredo se passa, nos anos 1960, havia proeminência de alguns setores progressistas, os ideais de comunismo chegavam ao Brasil. Você tinha também as moções camponesas de Pernambuco, o despontar de um movimento que se identificava com o socialismo, o povo começando a se rebelar quanto ao abandono e a pobreza. A sexualidade aflorada, presente na minha cidade natal, também estava lá. A Recife daqueles tempos era muito parecida com a dos dias de hoje, é possível traçar muitos paralelos. Também há, claro, o lance da pobreza, do abandono, da intensidade e da cultura. Ontem e hoje achamos que iríamos avançar, que pautas de liberação, identidade, sexualidade estavam colocadas na mesa… mas de repente uma nuvem escura se formou sobre nossas cabeças de novo. É isso o que acontece com Túlio, protagonista da obra e autor dos diários, ao decidir embarcar em aventuras românticas, em uma vida noturna da cidade portuária. Ele avança enquanto também avança o autoritarismo, o reacionarismo – é aí que percebo como esta é uma das formas mais consistentes e eficazes de se resistir. Através do corpo, da sexualidade, da nossa singularidade, individualidade. Quem, de fato, reafirma quem somos, como amamos, como nosso sexo é, são as nossas aventuras. É essa vontade de viver, que acaba sendo tão importante pra atravessar períodos de trevas. O sexo fala muito sobre isso e é um tópico que não abordei, objetivamente, na minha discografia. ‘Macumba’ (2015), como você mesmo disse, é sobre o amor romântico. ‘Coração’ (2018) já é mais político, tropical, tange de forma aberta a resistência no Brasil. Faltava falar sobre as aventuras sexuais do nosso tempo, como elas se estabelecem. Muito disso também se deu pela minha mudança pra São Paulo, em 2017. Acho essa cidade dona de uma energia lasciva, nervosa, à qual eu mesmo me entreguei. É um lugar que vive nas noites, uma cidade que ferve em becos sujos e ruas escuras, que conserva em si uma entidade noturna. Devo soltar no último trimestre de 2021 e a narrativa começa, justamente, com aquele barulho que você ouve quando atravessa um túnel. Uma coisa meio David Bowie em ‘Station to Station‘, só que com o som dos aviões rasgando o céu. Há também outros pontos no livro que quis explorar, claro. Quis fazer esse movimento também pensando na minha própria libertação sexual depois dos 30 anos, o próprio fato de Túlio ter sido professor de teatro, de estar em cena, de viver o universo burlesco, o cabaré. Fiquei muito feliz com o resultado, sempre que colocamos uma obra no mundo temos o hábito de taggear isso como “a melhor coisa já feita” dentro de uma carreira. Mas desta vez preciso concordar e aceitar o clichê. Acho muito maduro, embora também seja pop, cheio de refrãos como eu amo.
As pisadas na bola que a Madonna deu nos últimos tempos foram uma decepção?
Eu acho que não. Eu entendo um pouco o contexto. Ela é uma mulher bilionária há 20, 30 anos. Querendo ou não, você acaba se deslocando da realidade, é algo natural pras condições que ela tem. Todo o trabalho que Madonna desempenhou, a alegria que trouxe, os tabus que quebrou são muito mais importantes do que, eventualmente, cair em um papo de WhatsApp e se confundir. Acaba que você também pode ser, de uma forma ou de outra, influenciado por alguém que está no seu entorno e, estando em uma posição de pessoa pública, ver a sua declaração ganhar um alcance enorme, novos contornos. A gente está sujeito a isso, a esses erros. Não é nada tão grave que apague a avalanche interplanetária de coisas lindas, profundas e sensíveis que essa mulher nos trouxe. Tome ‘Madame X’, um show politicamente contundente, recente, como exemplo. Outro dia assistia uma entrevista feita nos anos 1990 em que ela demonstra uma força, uma vulnerabilidade enormes ao falar sobre a ausência da mãe… isso é uma das coisas que a tornam tão especial: Madonna é humana, falha, exageradamente corajosa. Nesse paradoxo, acaba sendo vista como uma divindade por muita gente. Não tenho religião, não acredito em muita coisa, mas se cheguei perto de seguir algo similar ao longo da vida, com certeza foi por ela.
Como tem recebido as notícias desse Brasil que insiste em tratamento precoce contra a Covid-19, que rechaça os artistas, que não é nem um pouco solidário?
Acho que o Brasil acabou. Estou tentando ficar um pouco mais afastado das notícias porque o que resta é tentar viver a vida com um pouco de tranquilidade, cuidar dos nossos amigos, dos nossos, de quem a gente pode com o alcance das nossas vozes, das nossas condições. Mas enquanto nação, esse meu disco que vem fala sobre resgatar a vontade, a alegria de viver. Fala do desejo, que no fim do dia é a única coisa que nos restou. Pra sair desse buraco vamos levar décadas, vamos estar velhos. É muito triste, mas ao mesmo tempo… já me envolvi em algumas polêmicas, não vou deixar mais o ódio e a violência entrarem na minha vida. No meu mundo só tem espaço pra liberdade, amor, respeito, questionamentos, filosofias e melhoramentos. Pra raiva também, porque de certa forma ela constrói, move a gente adiante. Mas isso que tá aí, institucionalizado, isso não tem lugar na minha vida. Não vou deixar que tenha. Eventualmente, a vacinação vai andar. Vai demorar, claro, mas vai atingir um número maior de pessoas. Mas não se pode esperar mais nada, esse jogo político prende as pessoas. O povo já foi esquecido há muito, muito tempo. É óbvio que existem pessoas boas e que trabalham em prol da gente, mas as estruturas… estão um tanto viciadas.
Tem enfrentado o isolamento de que forma?
Há momentos em que ligo o foda-se e digo ‘Deixe que eles se destruam’. A gente é tão pequeno no fim do dia, os poderosos são os outros. Sei que quero viver minha vida e ser feliz, não temos tanto tempo assim na terra. Mas a real é que a gente foi obrigado a confrontar a ideia da morte com muita intensidade. No começo eu surtei, passei uns 6 meses achando que ia morrer ao menos deslize, tendo crises de pânico. Mas teve também aquele momento de dar um basta. Tomo todos os cuidados possíveis graças à minha condição social, minha família também tem o privilégio se isolar, que bom! Mas não dá mais pra pensar em morte 24h por dia. Não compensa, porque é um tempo que você pode usar pra viver. Estamos, claro, vivendo de rebento, fazendo entrevistas, discos e lives à distância. Mas é como dá, embora seja muito triste. Morre mais de uma pessoa por minuto e ninguém faz nada. Mas tento me divertir. Sábado fiz uma live no ZOOM, um amigo foi o DJ, ficamos até as 2h da manhã bebendo e dançando. Ficamos na caixinha de som e parece uma festa normal. Também vi o Golden Globes com a minha avó, sempre vimos juntos… Comentamos looks, prêmios. E olha, eu virei uma pessoa fitness, quase não bebo mais. Acho que se algum dia pudermos voltar à estrada na mesma frequência que antes, se superarmos todos esses desafios, acho que vou ser uma pessoa disciplinada, que faz exercício, se alonga, toma sopinha e volta pro hotel logo depois do show. É a idade que chega [risos].
No Twitter você chegou a se descrever como “divulgador científico”, para além das atividades como artista… É engraçado como as redes sociais são ao mesmo tempo uma saída para o isolamento e ainda assim exigem certo cuidado quanto as más interpretações. Como Johnny Hooker lida com elas?
Quando se fala em redes sociais existe essa coisa do imediatismo, da resposta e da própria militância persecutória. Nos últimos anos vejo até que evoluíamos, as pessoas entenderam que ficar nesse ciclo vicioso de condenar, às vezes, até por frases fora de contexto, não dá em nada. As questões não são discutidas, vive-se um punitivismo, um linchamento barato, ódio pelo ódio. Na pandemia mesmo, como você disse antes, virei divulgador científico. Eu estudo muito sobre o vírus, sobre o desenvolvimento das vacinas, mutações… e acabei falando sobre ‘a variante de Manaus’. Fui corrigido pelas pessoas e aceitei, percebi que era uma colocação xenofóbica, ainda que não intencional. É por aí, não colocar as pessoas na fogueira. Sobre reacionários, religiosos, sinceramente, não dou a mínima. Já me afetou, sendo bem sincero. Ninguém ensina você a ser uma pessoa pública, ninguém te aconselha e diz ‘Seja menos reativo, respire antes de falar ou cuspir as coisas’. E você, muito jovem, com 25, 26 anos, solta coisas que provocam fúria. É normal. Crescer aos olhos do público é um processo compartilhado. E muito louco também, o que me traz à mente o movimento #FreeBritney, o escrutínio que essa garota [Britney Spears] não passou, e continua a passar. As pessoas se esquecem, mas você tem a chance de escolher melhor as suas lutas. É uma coisa que vem com a maturidade.
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