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Crítica: novo disco do Evanescence se equilibra entre a dor e o caos ao fazer rock mais maduro

Após dez anos sem lançar um CD com inéditas, a Evanescence está de volta, reforçando a potência e a maestria com que Amy Lee trabalha a própria voz. Há tanto tempo distante, os fãs sentiram falta de ouvi-la compartilhando experimentos sonoros e inquietações pessoais em canções originais – desejo finalmente atendido em “The Bitter Truth” (‘A verdade amarga’, em tradução livre para o português).

Lançado no último fim de semana, o projeto se esquilibra entre a dor e o caos a fim de criar um rock mais maduro, ora combativo, ora sombrio – mas sem perder de vista temas mais afáveis, apaixonantes.

Momento importante: trata-se da primeira vez em que entramos em contato com o conteúdo original da “nova” formação da banda, que só tem a vocalista Amy Lee como membro remanescente do projeto musical criado em 1995.

Com estes novos versos, a coleção de faixas inaugura uma fase menos sombria e mais impositiva, em que as letras introspectivas e nervosas sobre crises, perdas, e reflexões pessoais são deixadas para trás presenteando o ouvinte com Amy Lee cantando, principalmente em singles, letras mais confiantes e confrontantes. Mas não se engane, as músicas lidam, talvez mais do que nunca, com temas pouco afáveis, românticos.

A obra também inova ao ser o primeiro disco banda a ter faixas de interlúdio, que preparam e otimizam ainda mais a experiência da narrativa como um todo.

Desde “The Open Door” (2006) e, mais intensamente, no autointitulado “Evanescence” (2011), elementos eletrônicos vinham ganhando destaque e exposição na musicalidade da banda. Eles deixam claro que tal decisão foi acertada ao longo dos anos através da impactante faixa de introdução “Artifact/The Turn”, que se revela uma das melhores faixas do álbum “Broken Pieces Shine”, em que a voz de Lee é uma espécie de xamã, de belo transmissor para a mensagem.

As faixas “Game Over” e “Yeah Right”, oferecem um momento de calma e talvez nostalgia ao ouvinte, já que não surpreendem, embora transpareçam a musicalidade típica da banda.

Sobre este mesmíssimo tópico, é bom observar o que acontece em “Feeding The Dark”, um ótimo exemplo de nostalgia que, por mais que traga resquícios musicais dos discos “Fallen” e “The Open Door”, ainda consegue se destacar ao encontrar a própria essência em uma singularidade que combina com a nova fase da banda. Já “Better Without You” talvez seja o melhor single da nova fase, por conseguir resumir, através da sua estrutura e tom, o que se espera de “The Bitter Truth”.

Com backing vocals das cantoras Lzzy Hale (HALESTORM) e o ícone Taylor Momsen (THE PRETTY RECKLESS), a faixa política “Use My Voice”  é uma daquelas que nos obriga a sentir falta de um bom show. Aliás, quem não sonha com dias melhores, quando será permitida uma aglomeração com milhares de pessoas gritando “don’t you speak for me!”? Melhor ainda: de frente com a própria Amy Lee?

Em “Take Cover” temos mais um exemplo de Amy Lee se impondo na letra e usando sua voz como ferramenta principal para transmitir uma mensagem que assim se torna inquestionável. A única balada do CD se revela na faixa “Far From Heaven”, que lembra um pouco “Good Enough” do disco “The Open Door”, ou seja: estamos diante de uma balada bela e poderosa.

Em outra direção, “Part of Me” é talvez a maior canção do álbum, tudo graças ao seu refrão que nos lembra como o som do grupo é detalhadamente trabalhado. Ainda bem! Dá liga e o álbum se encerra com “Blind Belief”, uma conclusão densa e coesa dessa experiência narrativa.

Musicalmente, o disco se difere dos passados em termos de novas camadas líricas, fonte de maturidade emocional que antes eram mais sutis. Por isso mesmo a obra como um todo deixa sua marca na discografia.

No geral, as faixas se equilibram em dor e caos e se constroem a partir da força do rock que Evanescence com tanta majestade – mesmo com novidades e inovações inesperadas por fãs e amadores do gênero. É um álbum que, mesmo sendo perfeito para ouvir em casa e nos dar forças durante o momento caótico em que estamos vivendo atualmente, confere a típica e deliciosa catarse que nos leva ao inevitável anseio de experimentar algo do tipo ao vivo.

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