Entrevista com Danna Paola: “Não se deve permitir que o fato de estar com alguém mude sua maneira de ser”

Não é muito fácil encontrar artistas que sejam cirúrgicos ao tratar de sentimentos como afeto e mágoa. Menos ainda, quem saiba plasmar em arte, sem parecer piegas, as próprias emoções. A cantora mexicana Danna Paola, 25, foi feliz na tentativa de narrar essas experiências pessoais no disco “K.O.”. Lançado em meados de janeiro, o projeto “nocauteou” as plataformas de streaming ao emplacar parcerias com a brasileira Luísa Sonza e outros nomes importantes da cena pop, como Aitana e Mika.

Como uma espécie de odisseia enamorada, as dez canções se interconectam como fases de um amor fadado ao fracasso. Funciona meio que como uma síntese de uma longa e complicada busca por auto respeito, uma jornada que ao fim lhe ofereceu compreensão pras suas configurações internas. No futuro, pode soar também como uma saída emergencial pra eventuais ciladas.

Feitas as reflexões e passados os dramas, o objetivo agora é compartilhar. “Não há idade para encontrar o amor próprio”, diz. “Há pessoas que o encontram mais tarde, outras com mais facilidade. Tudo é uma questão de intermédio da vida”.

Estrela da série “Elite” e uma das figuras mais conhecidas da TV Azteca, segundo maior canal do México, ela deixa claro que a parte mais densa dessa jornada é a de recortar temas e, ainda assim, ser didática com o público – em seu caso, formado por uma maioria esmagadora de jovens. Somadas as audiências dos perfis que administra nas três principais redes sociais, Twitter, Instagram e Facebook, Danna tem diante de si cerca de 40 milhões de seguidores.

Na entrevista a seguir, por telefone, a artista fala sobre a nova fase, pautada em uma atmosfera intimista, e os shows digitais que prepara para o mês de fevereiro. Ela também se permite filosofar sobre a posição de prestígio que ocupa, refletindo sobre imposições e marcas do tempo.

Papelpop: O que há de mais belo e mais desafiador na missão de cantar sobre o amor?

Danna Paola: Escrever esse disco foi uma catarse, uma espécie de terapia interna, porque pude drenar tudo o que sentia por meio das canções. Eu enfrentava uma situação e compunha, passava por outra coisa e corria pra escrever. De tudo o que vivi, os altos e baixos, as coisas boas e ruins, os desamores… isso desembocou aqui. E se você escuta todas as músicas, o projeto completo, acaba sendo nocauteado – daí vem o título “K.O.”. Pra mim era essencial conseguir expressar isso, o drama emocional, a bipolaridade, por assim dizer, que pode existir dentro de você estando em uma relação. Portanto, sem dúvida, o que há de mais bonito e desafiador nisso tudo é o processo de estar diante do outro, das diferenças que existem em cada tipo de relação, em cada tipo de amor. Enquanto seres que se apaixonam, nós mudamos e crescemos como pessoa depois de permitir que alguém passe por nossa vida, que entre em nosso coração. 

Acho que quando nos apaixonamos, existe uma espécie de “termo de responsabilidade” em que você pode ou não ser vítima de algumas armadilhas. Você discute isso em vários momentos no disco… Quais lições podemos tirar dessas aventuras, de consequentes derrotas?

Cada amor é, de fato, uma aventura, uma história diferente, uma viagem a um destino desconhecido. É uma descoberta de si, da outra pessoa, e veja: nunca se pode terminar de conhecer alguém, embora ao fim dessa história você tenha a convicção de que conhece você mesmo muito mais do que antes. O que eu acho é que não se deve permitir que o fato de estar com alguém mude a sua maneira de ser, o amor verdadeiro te aceita e te quer exatamente como você é. Não se deve aceitar um amor ordinário, sabe? É super importante que tudo seja recíproco. Realmente, todas as pessoas que passamos por relações tóxicas , realmente acredito que todos passamos por isso, é quando mais crescemos e se você consegue sair daí – sim, podemos sair, não é o fim do mundo e ninguém vai morrer de amor – você deixa de se permitir estar infeliz. Quando você não quer alguém ou pensa em ser infiel, quando isso passa pela sua cabeça… saia daí já. Isso não é amor, o amor nem sequer permite que você pense em enganar seu par. Não há um manual, não existe uma definição perfeita do que é o amor. Mas vamos nos adaptando ao longo do tempo. 

O amor próprio é outro tema latente nas novas faixas, o que me faz pensar no alcance da sua plataforma e na responsabilidade que assume enquanto influenciadora. Qual a importância de falar sobre isso pros jovens? 

Total, e acho que uma das primeiras coisas que se deve ter em mente é que não há idade para encontrar esse autocuidado. Há pessoas que o encontram mais tarde, outras com mais facilidade. Tudo é uma questão de intermédio da vida. Enquanto seres humanos somos nada mais do que um número, quanto mais sabemos sobre isso e as mensagens batem nas gerações futuras, mais inexperientes, por assim dizer, e que são o futuro do mundo, entendemos que dá, sim, pra mudar para melhor. O amor próprio, eu penso comigo mesma, diz muito também sobre a auto aceitação. Não quero dar um sermão, nem nada, mas eu passei por muitos momentos em que não me cuidava, não gostava, não acreditava em mim mesma. Passei por isso e, tendo a noção de que somos todos diferentes, somos seres-humanos com sentimentos e vontades, suscetíveis à boa ou má sorte, temos que aprender a lidar e reconhecer aqueles que nos querem, genuinamente. Aqueles que estejam dispostos a nos amar de forma transparente.

Sua coragem em expor vulnerabilidades e emoções por meio de canções pop desmistifica também uma série de imposições sociais, de pressões. É preciso ter coragem de compartilhar fragilidades pra se sentir bem, pra ser visto como alguém confiante?

Eu acho que esta decisão deve ser completamente sua. Ninguém tem o direito de dizer como você deve ser hoje em dia. Das coisas que mais me deixam com raiva estão as comparações que fazem com os vários padrões expostos nas redes sociais, no Instagram, no TikTok, o que seja. Particularmente, acho que hoje em dia isso é bem complicado… veja o meu exemplo, cresci das câmeras e tive muito trabalho pra me encontrar, pra firmar bases. Tanto que escrevi um disco inteiro sobre isso [risos]. É difícil, mas é preciso se dar conta de que ‘you don’t fucking need it’ [“Você não precisa disso”, em tradução literal]. É um processo de autoconhecimento, porque evoluímos. A vida se trata de experimentar, de falhar e de aprender também. Quando a sociedade vem te dizer como se deve ou não ser, é preciso se perguntar: por que é preciso ser assim? Cada um de nós é lindo e ímpar, à sua maneira.

“Amor Ordinário” é uma balada muito delicada, acompanhada pelo piano. Imagino que a experiência de gravá-la deva ter sido intensa… Se lembra como foi?

Claro [risos]. Eu escrevi essa canção em janeiro de 2020, logo depois de voltar de Madrid. Tenho a impressão de que as pessoas ficam mais tristes neste mês… Lembro que logo em seguida fui ao estúdio me encontrar com Stefano [Vieni] e Raquel [Sofía], meus dois co-autores maravilhosos, e lhes contei tudo o que estava acontecendo, internamente, o que eu estava passando. Precisava falar dessa situação, estava sobrecarregada, tinha a certeza de que estava fudida. Eu vinha ainda de um período em que precisei estar focada no trabalho, as gravações de “Elite” tinham se encerrado há pouquíssimo tempo, estava envolvida em outros mil projetos. ‘Amor Ordinario’ é, sem dúvida, um exercício de terapia, uma das catarses mais bonitas que já aconteceram comigo. Nós a gravamos em uma tomada só e quando, por fim, coloquei voz, acabei chorando. Terminamos a produção resgatando certos takes da versão original, se você a escuta atentamente percebe que estou bastante fragilizada – talvez por isso a considere uma obra prima de meu catálogo, o que me emociona muito. Me emociona duas vezes, pelo resultado e por saber que algo tão genuíno pra mim é capaz de provocar emoção nos demais. Sua pergunta também me faz lembrar que compus a minha primeira música, ‘Dos Extraños’, por conta de um coração partido, portanto, perceba que ambas têm uma letra super honesta. 

O álbum se encerra com “Me, Myself”, um dueto com Mika em Spanglish [mistura entre inglês e espanhol]. Falei com ele em 2020 e comentamos, justamente, sobre esse interesse pelas várias línguas latinas…

Ele queria cantar em espanhol, já chegou me dizendo que tinha essa vontade. O Mika é alguém que tenho admirado por toda a minha vida, é um ícone pop. Poder ir até a casa dele em Miami e trabalhar nisso foi uma experiência incrível, ainda mais porque ele já tinha assistido a ‘Elite’ e, igualmente, vinha acompanhando o meu trabalho musical. Existia uma admiração mútua. Uma curiosidade sobre como nasceu esta faixa é o fato de que não tínhamos um engenheiro de som. Estávamos apenas ele, um amigo e eu no estúdio, o que rendeu uma produção inicial super crua, divertida… É óbvio, tive que ensiná-lo a pronúncia de algumas coisas, foneticamente, acho que isso foi meio complicado, mas ele tem muita facilidade. É poliglota e entende espanhol com uma precisão tremenda. Ele fez acontecer e foi muito generoso ao me dizer ‘Faça o que quiser com a canção porque ela é muito pessoal’. Mika sabia que eu tinha escrito aquilo em um momento muito difícil, em que tentava encontrar meu amor próprio e se era só sobre ‘Me myself and no one else’… Assim foi.

Uma pergunta mais técnica, sobre lives… Você se prepara neste momento para estrear, nos dias 13 e 14 de fevereiro, o show “#WelcomeToMyBreakUpParty”. Kylie Minogue, Dua Lipa, entre outras, mandaram muito bem no formato, inclusive adicionando novas ideias. Como espectadora, chegou a assistir a alguma dessas lives? Se sentiu impactada por algum ponto específico?

A experiência de apresentar um show online, remoto, me coloca num estado de fascinação. Tenho trabalhado incessantemente e quero fazer muito mais do que um show com uma megaprodução no palco, instrumentistas, bailarinas, quero que seja algo que represente tudo o que tenho trabalhado para construir, que seja um ‘nocaute’ [em referência ao título]. Tive a oportunidade de ver vários shows por streaming, mas sabe, o que mais curto nesse formato e que nem sempre é explorado é a possibilidade que o artista tem de oferecer ao fã uma espécie de participação. Quero que as pessoas tenham acesso ao backstage, aos antecedentes… ao processo em si. Então acho que vai ser bem interessante nesse sentido. Espero, de coração, que possam curtir do início ao fim.

***

Os ingressos para a live “Danna Paola: Live Experience” (uma dobradinha que acontece nos dias 13 e 14 de fevereiro em horários distintos para México e Espanha) estão disponíveis no link a partir de R$ 70 reais. Ouça o álbum “K.O.” nas plataformas de streaming.

Spotify | Deezer | Apple Music

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