Marcado por acontecimentos atípicos, 2020 trouxe diversas mudanças para a sociedade mundial. No entanto, infelizmente, o que já se tornou rotineiro e parece não ter tido nenhum avanço é o fato de que pessoas negras, ainda, precisam pedir para que suas vidas sejam respeitadas. No meio artístico isso não é diferente. Aliás, diversos nomes da música, cinema e TV se uniram a um único coro para dizer que “Black Lives Matter (vidas pretas importam)”.
Durante este ano, assassinatos cruéis, como o de George Floyd, Breonna Taylor e Ágatha Félix, foram o estopim para que uma série de protestos tomassem conta de vários países do globo. Uma manifestação que cobra por justiça e um novo rumo social, em relação às milhares de mortes de pessoas pretas todos os anos.
Para ajudar a refletir, inspirar e fortalecer, separamos uma lista com dez músicas lançadas neste contexto. Confira:
Mais uma vez, a rainha do universo surpreendeu os fãs e lançou a faixa “Black Parade”, tratando de orgulho, poder e acolhimento entre pretos. Fazendo parte de um projeto que estimula e promove a visibilidade de empreendedores negros, a música chegou no mês de Junho, marcando o juneteenth, data que relembra a emancipação de povos escravizados nos Estados Unidos, em 1865.
Beyoncé, que tem se posicionado bastante sobre problemas envolvendo questões raciais, também escreveu uma carta aberta cobrando respostas a justiça no caso de Breonna Taylor, assassinada covardemente pela polícia local.
Na publicação, a artista escreveu:
“Três meses se passaram – e as investigações do LMPD criaram mais perguntas do que respostas. Três meses se passaram – e zero prisões foram feitas, e nenhum oficial foi demitido. Três meses se passaram – e a família de Breonna Taylor ainda espera por justiça. A família de Taylor não conseguiu levar tempo para processar e lamentar. Em vez disso, eles têm trabalhado incansavelmente para reunir o apoio de amigos, sua comunidade e o país para obter justiça a ela. Seu escritório tem o poder e a responsabilidade de trazer justiça a Breonna Taylor e demonstrar o valor da vida de uma mulher negra”.
Dono de um dos maiores hits do ano, o rapper DaBaby não hesitou em usar sua voz, que até então ocupava o 1° lugar na parada HOT 100, da Billboard, para colocar o dedo na ferida e cantar sobre suas próprias experiências envolvendo policiais e protestos nos Estados Unidos.
Presente no álbum álbum “Blame It on Baby”, a faixa “ROCKSTAR ft. Roddy Ricch (BLM Remix)” ganhou novos versos, além de uma apresentação incrível na última edição do BET Awards.
“Os policiais querem me puxar, me envergonhar / abusar do poder, você nunca me conheceu, pensou que eu era arrogante / Quando jovem, a polícia puxava as armas como se tivesse medo de mim”, conta o rapper. “O que aconteceu, quer que a gente mantenha a paz / Deveria ver os haters com raiva quando comprei a Lamborghini / a polícia não pode me pegar”, continua.
Questionamentos em tom de inconformismo, esse é o sentimento que a cantora H.E.R traz para seu single “I Can’t Breath”. De maneira super elegante, como sempre, a artista vai direto ao ponto narrando o genocidio, o racismo e o silenciamento de vidas negras.
Dando título a faixa, “Não consigo respirar” foram as últimas palavras ditas por George Floyd, antes de ser morto por um policial que permaneceu ajoelhado em seu pescoço durante minutos seguidos.
No single, a cantora ainda traz reflexões sobre como a estrutura social faz de tudo para transformar negros em inimigos e questiona sobre o que é necessessário para que alguem proteja uma vida negra.
Se mostrar vulnerável, muitas vezes, é ser visto como fraco. Principalmente quando esse sentimento está relacionado a um homem negro. A partir dessa reflexão, depois de estar com as emoções à flor da pele com os rumos da situação racial nos Estados Unidos, que Usher decidiu lançar a faixa “I Cry”.
A música, que ainda não tinha sido finalizada, ganhou novas letras e significados com fatídicos os acontecimentos de 2020. Isso fez com que o artista voltasse à canção e a finalizasse.
Em uma publicação no instagram, Usher comentou quais foram suas motivações para lançar a faixa.
“Essa música foi inspirada por querer ensinar aos meus filhos que não há problema em um homem sentir emoções profundas e chorar. Como muitos homens, fui criado para acreditar que precisamos ser ‘durões’ e não mostrar nossa vulnerabilidade, o que não quero ensinar a eles. Enquanto eu estava trancado durante a pandemia e assistindo a morte de George Floyd, o massacre de homens e mulheres negros, os protestos e os eventos que se desenrolaram, fiquei muito ligado ao sentimento universal mais amplo de desesperança“, desabafa.
“Como muitos, fiquei cada vez mais frustrado com a lentidão das coisas“, continua o cantor. “Fiquei muito deprimido pensando em todos os filhos que perderam seus pais por brutalidade policial, injustiça social e violência; as filhas e mães também. Então, voltei a essa música e percebi que ela era destinada para esse período, então terminei e aqui está ela”, conclui.
Uma injeção de ânimo e autoestima, é o que Ciara traz com a música “Rooted”. Acompanhada de um clipe poderosíssimo, gravado dois dias antes do nascimento de Win Harrison Wilson, seu terceiro filho, a faixa traz referências ao movimento Black Lives Matter, assim como à Breonna Taylor e George Floyd.
Além de cenas hipnotizantes, a produção, que teve parte dos lucros destinados a instituições que apoiam garotas negras, ainda conta com uma mensagem de esperança em seu clipe. “Não parem de lutar pelo que acreditam. A todos as minhas rainhas e reis negros, continuem a plantar e espalhar amor, esperança e orgulho em suas tribos. Tudo o que precisam para sobreviver e prosperar está em vocês”, conclui.
Sem perder sua essência e sempre disposta a refletir pautas sociais em seu trabalho, a rapper Karol Conka é um dos nomes brasileiros que transformou momentos de 2020 em arte. Sendo assim, nada mais apropriado do que uma música chamada “Tempos Insanos”, não é mesmo?
Fazendo menção aos protestos antirracistas, que tomaram conta do mundo este ano, a artista traz para seu clipe manchetes que tratam dessas manifestações no Brasil.
Se alguém ainda tinha dúvidas de que é impossível calar Jorja Smith, em “By Any Means” a artista deixa isso bem claro. Com seu timbre único, a faixa traz um certo tom de revolta, enquanto cobra por justiça e aponta o dedo para as inúmeras violências policiais que a população negra tem enfrentado.
“Vejo toda essa dor nas manchetes, mas eu chorei pela última vez / você sabe o que acontece, veja / Você estaria cego se fosse olho por olho”, canta, Jorja.
No seu perfil no Twitter, Jorja comentou o lançamento. “Estou muito orgulhosa de vocês ouvirem minha nova canção ‘By Any Means’, tirada do meu próximo projeto da Roc Nation, ‘Reprise’. Esse projeto tem como objetivo chamar atenção para os problemas de injustiça social através de um protesto musical”.
Tomando como referência a clássica música do N.W.A, de 1998, em “FTP” (Fuck The Police), YG traz, de forma geral, toda a sua indignação e revolta com a violência policial nos Estados Unidos. Com um certa urgência em seus versos, o rapper demonstra estar esgotado do fato de ter que protestar sempre pelas mesmas injustiças. “Estou cansado, foda-se os cartazes de papelão”, pontua. “Estou cansado de me sentir cansado”.
Para deixar ainda mais explícita sua revolta, a faixa ganhou um clipe com imagens de manifestações antirracistas e embates com a polícia.
Conhecido como guitarrista do “Rage Against The Machine”, Tom Morello ressignificou a canção “Marching on Ferguson”, lançada em 2014 e mostrou ao público um pouco sobre sua visão em relação a violência racial tão presente na vida da população negra. Em tom de curta-metragem, a faixa ganhou um vídeo, intitulado “No Justice No Peace” (Sem justiça sem paz), que reúne, além das imagens do assassinato de George Floyd, noticias de diversos crimes contra pessoas pretas.
Além disso, o clipe também conta com crítica ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, várias gravações dos protestos do movimento Black Lives Matter.
Repleto de críticas a desigualdade racial, o rapper Edi Rock, do “Racionais MC’s”, não hesitou em trazer para sua nova faixa casos de pessoas que tiveram suas vidas interrompidas pela violência. Aliás, o clipe de “Vidas Negras” chega como o complemento pontual à música. Isso porque a produção apresenta imagens, como a de João Pedro, Marielle Franco, Ágatha Félix e Maria Eduarda, que foram assassinados no Brasil de forma brutal. Além disso, cartazes dos protestos nos Estados Unidos também fazem parte do compilado, deixando a canção ainda mais impactante.
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