Qual o seu disco favorito de 2020? Se você curte música pop, é bem possível que a sua escolha tenha bebido, mesmo que só um pouquinho, na fonte da era disco. Quer dizer, no revival dela! É que esse foi o ano em que diversos artistas se inspiraram no som único e dançante dos anos 1970. Mas ó, não é nada novo! O movimento vem sendo resgatado em pequenas porções desde meados dos anos 2000. Agora, sem muita razão, acabou se tornado uma febre (o que não é nada ruim em um ano em que dançar se restringiu apenas às lembranças e à sala de casa).
Mas foi só isso? Certamente, não. Com a indústria enfrentando percalços por conta da pandemia, a arte se mostrou mais uma vez resiliente, entregando hit atrás de hit e pondo em evidência o surgimento de “bolhas” estético-sonoras. Com mais esse ciclo se encerrando, a gente não deixa de se perguntar. qual deve ser a referência musical preponderante em 2021 entre os grandes lançamentos? O Papelpop reuniu algumas apostas do que pode ser hit, baseado em pistas deixadas no agora. Olha só!
Críticos musicais afirmam que a house music, estilo de música eletrônica que se popularizou entre os anos 1980 e 1990, é uma das heranças que a discoteca nos deixou. Nada mais lógico, então, que esse movimento venha com tudo em 2021. O hiper comentado “Club Future Nostalgia”, disco de remixes que Dua Lipa lançou em 2020, pode ser indício dessa tendência. Inclusive, as produções da DJ The Blessed Madonna, colaboradora do trabalho, são 100% house.
Outro sinal super quente é o mais recente trabalho da Róisín Murphy, o impecável “Róisín Machine”. Super inspirado nas cenas clubber das décadas de 70 e 80, o trabalho é uma ode à house music e à pista de dança. A britânica ainda é pouco conhecida para muita gente, mas antecipou muitas tendências hiper marcantes, como o electropop que colocou Lady Gaga no mapa em 2008. E, falando na mãe monstra, espia ali em cima mais um indício de que o house está aí pra ficar: a música eletrônica noventista é a referência de quase todas as faixas de seu último trabalho, o “Chromatica” (que como qualquer trabalho excelente, deve envelhecer muito bem). A cantora ítalo-americana é uma das maiores lançadoras de tendência de sua geração, reforçando ainda mais nossa hipótese.
Quem ouviu “Plastic Hearts”, o sétimo disco de estúdio de Miley Cyrus, sabe o que a inspirou para esse trabalho. Rock de arena, synthpop, Debbie Harry e mais uma série de referências SUPER anos 80, que aqui são traduzidas em uma linguagem mais atual. Artistas como Carly Rae Jepsen e Blood Orange, menos abraçados pelo grande público, vêm antecipando essa onda de revisitação à década perdida já há alguns anos, através de sintetizadores pesados e letras que parecem narrar roteiros de filmes do John Hughes. Para 2021, esperamos esses e outros “oitentismos”, sempre em versão revista para o público jovem.
Entre várias polêmicas, as indicações do Grammy 2021 trouxeram pelo menos uma surpresa agradável: a categoria de Melhor Performance de Rock foi ocupada apenas por mulheres ou bandas com liderança feminina! Um baita avanço, principalmente considerando que, historicamente, o rock é um gênero dominado por homens.
Algumas das indicadas, como a banda Big Thief e Phoebe Bridgers, ainda não são conhecidas do mainstream. Tanta visibilidade, em uma plataforma de enorme prestígio como o Grammy, pode alavancar mais ainda suas carreiras e ainda estimular uma nova safra de mulheres arrasando no rock. Esperamos que sim.
Frequentadores de bailes funk em meados de 2018, em São Paulo, já percebiam o potencial do rave funk, mistura metálica, agressiva e pesadíssima agora que já se espalhou pelo país. Anitta também percebeu essa força, apostando nela, inclusive, para um de seus hits do último Carnaval – a polêmica parceria com Major Lazer e MC Lan, “Rave de Favela”. Em novembro, foi a vez de Pabllo Vittar fazer essa experimentação, incluindo na brincadeira toques de kpop, em “Bandida”. Outro hino da maior drag queen do mundo, “Rajadão”, une batidas eletrônicas com o gospel. O pop brasileiro é cheio dessas misturebas inusitadas, que devem fazer ainda mais parte do nosso repertório ano que vem.
Nem Chloe, nem Halle eram nascidas quando a dupla de R&B Zhané estourou nos Estados Unidos, na primeira metade da década de 90. Apesar disso, elas parecem entender a importância do duo, e se inspirar muito em seus vocais harmonizados e suaves, assim como as produções que flertam com o hip hop – que nomes como Mariah Carey, Mary J. Blige e TLC ajudaram a popularizar no fim do milênio. Seu último disco, o cristalino “Ungodly Hour”, reflete diretamente essa referência. Para ajudar ainda mais, a dupla regravou o clássico “Sending My Love”, das meninas do Zhan, num EP de faixas ao vivo para o Spotify.
Ariana Grande, quase sempre acompanhada por Victoria Monét, parece ser outra apreciadora desse movimento. E é uma das hitmakers do momento! Por isso, é possível que o R&B inspirado em grandes vocalistas – como Ashanti, Brandy, Monica e Aaliyah – não saia da nossa cabeça em 2021.
Vamos falar também de estética? Essa tendência tem tudo para grudar no imaginário geral no próximo ano. Isso porque o cottagecore vem de vários lados, como moda, cinema e televisão, ganhou força em pesquisas do Google e já virou febre nas mãos de influenciadoras do hemisfério norte. Quem parece ter pescado essa novidade é Taylor Swift, que sugere uma versão romanceada da vida no campo e o contato com a natureza em seus dois últimos discos, os irmãos “folklore” e “evermore”.
Se você já ouviu falar no termo, é possível que seja super antenado com o que ocorre nas redes sociais mais acessadas atualmente – alô, TikTok. Figurinos inspirados em camponeses de séculos passados, assim como a música baseada em instrumentos analógicos e fotografia nostálgica compõem esse universo.
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Colaborou Leonardo Teixeira
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