Desde que nomes como Michael Jackson, Madonna, David Bowie e Kate Bush, entre outros, revolucionaram a arte do videoclipe lá atrás, principalmente a partir dos anos 1980, tornou-se quase impossível imaginar a música pop sem os visuais para acompanhar. Mas vale lembrar que um vídeo musical precisa ter vários elementos para grudar no nosso imaginário e se eternizar na cultura. Uma boa direção é um deles, sem dúvida. É trabalho do diretor colocar em prática a visão que nossos artistas preferidos têm de suas músicas.
Entre lançamentos nacionais e internacionais, produções filmadas presencial e virtualmente e estreias inusitadas, são muitos os videoclipes incríveis lançados esse ano. O Papelpop fez uma reunião dos(as) responsáveis por alguns dos vídeos musicais que mais amamos em 2020. Ano que, apesar de super conturbado, teve ótimos momentos na música. Se liga!
A riqueza de “After Hours”, de The Weeknd, está nas referências. É claro que isso se aplica aos videoclipes da era, que é provavelmente a mais bem-sucedida do ano – o segundo single, “Blinding Lights”, passou apenas 41 semanas no top 10 da parada americana Billboard Hot 100. Com 4 vídeos amarradinhos entre si, o diretor Anton Tammi (que já trabalhou em vídeos para Lykke Li e Halsey) se inspira em fenômenos indispensáveis do cinema, como os cineastas Martin Scorcese e Wong Kar-Wai e filmes de terror slasher dos anos 80, entre outros elementos, para dar vida a essa saga. Acontecimentos entorpecentes, loucura e morte, a cara de tudo que Abel Tesfaye busca expurgar na nova leva de canções.
Sobre a parceria com o cantor, Tammi falou à revista GQ: “O que fazemos é aberto à interpretação. É arte e é poesia, e eu acho lindo demais poder criar mistério junto com ele”. Sim, nós concordamos. Fazem parte da saga também o carro-chefe do disco, “Heartless”, e “Until I Bleed Out”.
Rodrigo de Carvalho é quem assina a direção e criação do mundo em 3D de “Corpo Sem Juízo”, EP de estreia da Jup do Bairro. A cantora define o trabalho como uma “ação efetiva de sobrevivência preta”, com faixas que narram suas vivências sobre racismo, transtornos depressivos, transfobia, entre outras confissões. Para ilustrar um trabalho tão bonito, ela nos serve visuais à altura. Os quatro vídeos da saga retratam o corpo de Jup recriado com areia, ferro polido, holograma, entre outros, tudo como uma forma de dar vazão às reflexões da artista sobre a vida, a sociedade e seu lugar no mundo.
Mas não é só: pelas mãos de Carvalho também nasceram todos os videoclipes do disco “Rito de Passá”, que a maravilhosa Mc Tha colocou na pista ano passado, mas que caiu no gosto do público em 2020. Em vídeos diferentes, mas bastante coesos entre si, os trabalhos mesclam elementos já conhecidos do universo da cantora com a linguagem cinematográfica. Destaque para “Oceano”, faixa sobre tristezas tão grandes quanto o mar.
Ninguém quebrou mais a internet esse ano do que Cardi B e Megan Thee Stallion. O vídeo para “WAP”, rap explícito e de construção sonora viciante, quebrou recordes de visualização e virou desafio no Tik Tok. Alguns meses depois, Megan lançou o vídeo de seu single “Body”, outro hit que não sai da cabeça de ninguém. Os visuais de ambas as faixas foram dirigidos por Collin Tilley, veterano no ramo e figurinha carimbada em produções de hip hop e R&B atual. Quer mais uma prova do talento? Outro viral inesquecível, “Anaconda”, da Nicki Minaj, também foi encabeçado por ele.
As irmãs Chloe x Halle fizeram tudo esse ano. Seu disco impecável veio acompanhado de ótimas apresentações, vocais na régua e videoclipes poderosos. É muito bom gosto. Uma das mentes brilhantes por trás de tudo isso é C Prinz, diretora e coreógrafa baseada em Los Angeles que comandou com maestria o universo visual da dupla em 2020. Em “Forgive me”, por exemplo, o plano de fundo distópico se transforma quase que em instalação de arte, enquanto “Do It” é puro glamour noventista. Prinz já vem arrasando desde o ano passado, quando coreografou o vídeo “So Hot You’re Hurting My Feelings”, da cantora americana Caroline Polachek. Não dá pra fechar o ano sem prestigiar esses trabalhos.
Sabemos pouco sobre o diretor criativo de Bad Bunny. Segundo a revista Billboard, Stillz é um fotógrafo e videomaker colombiano de apenas 21 anos. Foi ele que comandou os visuais dos três discos que o cantor lançou em 2020. O destaque, é claro, fica para “Yo Perreo Sola”. O vídeo para esse batidão foi lançado em março e mostra Bad Bunny em looks e situações inusitadas, inclusive montado de drag, para fazer um comentário sobre empoderamento feminino e masculinidade tóxica na cena do reggaeton.
Um dos EPs mais aclamados do ano é dela, a francesa Christine & the Queens. Nas mãos de Colin Solal Cardo, “La Vita Nuova” se transformou em um poderoso curta-metragem de 13 minutos, que se passa no pomposo prédio da Ópera Garnier, em Paris, e narra o romance entre Christine e uma criatura mitológica. O filme é lindamente fotografado e vem com coreografias complexas, que fazem referência a artistas como Kate Bush, Prince e Michael Jackson. O diretor é conhecido na cena e já vem arrasando desde 2019, quando dirigiu projetos para as já prestigiadas Robyn e Charli XCX.
O nome dessa dupla de coreógrafos franceses é irônico, já que sua proposta é unir moda, dança e linguagem pop em seus trabalhos. E é exatamente isso que eles fizeram em dois dance videos imperdíveis com Jessie Ware – que arrasou em 2020 com o seu 4º disco de estúdio, “What’s Your Pleasure”. Sob direção do ICNBD, “Soul Control” e a faixa-título do álbum se transformam em dois fashion movies de dança, que traduzem muito bem o glamour setentista da música de Jessie para os dias atuais. O coletivo também já trabalhou com veteranos da indústria, como Chaka Khan e Pet Shop Boys.
La Rosalía é uma das figuras mais criativas que surgiram nos últimos anos, e não podia ficar de fora dessa lista. O diretor catalão Nicolás Mendez, que já assinou trabalhos incríveis com a queridinha do pop flamenco – assim como Tame Impala e El Guincho, entre outros – dá vida a “TKN”. A parceria com o rapper Travis Scott narra a história de uma mulher que se torna viúva e mãe solo após o assassinato de seu marido. A direção é impecável, mas ganha ainda mais força com os figurinos assinados por Alexander Wang e a coreografia de Charm La’Donna (que já colaborou com Selena Gomez e Dua Lipa).
Não é um fenômeno raro, nem novo, mas talvez um dos triunfos de 2020 seja esse: artistas assumindo a liderança de seus próprios videoclipes. Não faltam bons exemplos. Começando pelo aguardado retorno da SZA, que brincou com paisagens urbanas e muita coreografia em “Hit Different”, sua parceria com Ty Dolla Sign. Sempre com uma mensagem sobre liderança feminina para passar, Taylor Swift também arrasou na direção de “The Man”.
Em território brasileiro, só se falava em Manu Gabatti (o alter ego loiro de Manu Gavassi) na semana de lançamento de “Deve ser horrível dormir sem mim”, parceria com a musa Glória Groove. O vídeo tem cerca de 10 minutos de duração e várias participações especiais. Por sua vez, Pabllo Vittar colaborou com o seu coreógrafo, Flávio Verne, no explosivo “Bandida”, que tem referências à K-pop e Cardi B, entre outras.
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COLABOROU PARA O PAPELPOP: Leonardo Teixeira
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