Como prometido, nesta quinta-feira (10) Silva lançou um novo álbum. Intitulado “Cinco”, já que é o quinto da carreira do artista e tal número tem uma série de outros significados para ele, o projeto chega às plataformas digitais com um total 14 faixas.
Ali, o cantor capixaba mistura ritmos tradicionalmente brasileiros com jazz, ska e reggae. Entre as músicas, estão os singles “Passou, Passou” e “Sorriso de Agogô”. Como um bônus, o disco ainda traz participações especiais de Anitta, Criolo e João Donato.
Por telefone, nós batemos um papo com o Silva para saber mais informações sobre o novo álbum. Durante a entrevista, ainda falamos sobre os ídolos do artista, a importância de se valorizar o passado e fazer músicas mais leves em meio a uma pandemia.
Confira!
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Papelpop: Silva, parabéns pelo “Cinco”! Mais uma vez, você veio com um disco leve. Em “Passou Passou”, por exemplo, você fala do fim de um relacionamento sem ter aquela carga melancólica. Qual a importância de lançar algo assim em tempos tão difíceis?
Silva: Olha, eu faço músicas tranquilas porque sou um cara ansioso, sabe? Quando conto isso tem muita gente que fala: “Não, não é possível. Eu duvido”. Mas é real! Eu sempre tive essa coisa. É daí que vem a minha ligação com fazer música mais leve, porque é o que eu gosto de ouvir e me fazem bem. Se a gente está em um momento mais tenso, dificilmente vou colocar um heavy metal para tocar, sei lá (risos). Estou usando só um exemplo meio exagerado, mas principalmente agora com a pandemia eu não queria fazer algo assim. Todo mundo já está meio triste, em uma situação difícil… Eu penso muito em música quase como um antídoto, um remédio.
E o material veio com três participações especiais. Como elas aconteceram? E como foi repetir a parceria com a Anitta depois do sucesso de “Fica Tudo Bem”?
Se a Anitta te disser que vai fazer [alguma coisa], ela faz. Eu gosto muito disso. A produtividade dela é absurda. Para fazer a nova música, eu mandei assim: “Patroa, vamos fazer mais um hit?” (risos). Aquela coisa bem a cara dela. Então, ela falou: “Me manda porque eu quero ouvir”. Eu mandei a música e ela adorou. Cinco dias depois, ela já me mandou o vocal gravadinho. Com a Anitta foi assim: fácil. Fiquei bem feliz! Com o Criolo, foi um processo mais lento porque a gente não era amigo, apesar de já ter se conhecido e trocado uma ideia por aí. No Réveillon do último ano, eu estava na mesma festa que ele. Foi ali que nos conhecemos direito, conversamos sobre música e tal. Aí falei para ele: “Vou te chamar para fazer alguma coisa qualquer hora. Vamos fazer?”. E ele respondeu: “Quando você tiver uma ideia boa, me manda”. Foi isso. Mandei a música, ele gostou e disse: “Olha, escrevi a segunda parte. Vê se você gosta”. Eu fiquei bem feliz com o resultado. E com o Donatto… Acho ele um Orixá da música. Ele tem um conhecimento musical muito lindo, muito avançado. Sou muito fã. Essa é uma gravação que já tinha rolado em 2019. Estava com o caminho andado e foi só finalizar. Fiquei muito feliz de ter os três, porque dá trabalho e está todo mundo na correria. São universos bem diferentes, né?
Sim! Agora, depois de ter músicas com João Donato, Marisa Monte, Lulu Santos e toda essa galera gigante, só queria confirmar uma coisa contigo: você definitivamente é o tipo de artista que adora trabalhar com seus ídolos, né? Porque tem gente que prefere só observá-los de longe…
Tem pessoas, tipo a Marisa Monte, que são minhas amigas. Confesso que é difícil falar no WhatsApp com Marisa. Agora a gente já se conhece há cinco anos, mas sempre que mando mensagem para ela vem uma coisa assim: “Nossa, estou falando com Marisa – uma coisa muito doida”. Eu não desconstruo. Eu consigo deixar a pessoa no lugar de ídolo, sim. Ao mesmo tempo existe uma naturalidade da relação de amizade. Acabei de gravar com Gal Gosta para o disco novo dela. Foi outra coisa que fiquei assim: “Cara, quando que eu imaginei que teria um dueto com Gal Costa?”. Coisa muito louca!
Com quem ainda gostaria de gravar?
Caetano e Gil são dois que eu adoraria fazer alguma coisa, mas respeito muito o tempo das coisas. Tem coisa que tem que acontecer na hora que tiver que acontecer e se acontecer, sabe (risos)? A música brasileira tem tantos artistas bons que fica difícil escolher.
Você parece valorizar bastante o passado. Eu vi que seu último álbum ao vivo, por exemplo, não foi um projeto pensado. Pelo que contou nas redes sociais, a gravação estava guardada e decidiu simplesmente lançá-la. Para você, sempre foi importante deixar tudo registrado para não se perder?
Acho que comecei a gravar as minhas coisas em 2012. Eu tenho essa coisa de gravar tudo o que tenho de ideia para depois revisitar. Só que nunca nada disso entrava nos discos. Eu acabava usando as músicas que vinham naquele momento. Para este álbum, o “Cinco”, comecei a revisitar essas ideias antigas e fiquei um tempão categorizando as melhores. Foi um trabalho legal. A melodia da música “No Seu Lençol” eu tinha no meu celular desde 2013. Em 2014, fiz de novo, assim como em 2015 e 2016. Todas as vezes que eu gravava acha que estava fazendo algo inédito, mas era aquela mesma ideia insistindo para acontecer. Sendo um músico brasileiro, acho importante valorizarmos a nossa música porque existe um mercado menor. Eu bato nessa tecla porque acho importante não deixarmos a nossa história ficar apagadinha. Acho legal valorizar o passado.
Por falar em registros, eu vi no seu Instagram vários vídeos das gravações do álbum “Cinco”. Aquilo foi só pra divulgar o lançamento ou tem uma espécie de documentário a caminho?
Ah, essa é uma coisa que eu me questiono: “Será que a gente não deveria se gravar mais?”. Lembro que vi um documentário que tinha um músico de jazz tocando ao lado do um amigo com 13 anos de idade em casa. Era uma filmagem mais caseira, mas era um momento tão íntimo e legal. Só que, no Brasil, quem trabalha com música sabe… A não ser que você faça algo que seja muito popular e grande, que consiga ter uma equipe gigante, com cada um para fazer uma coisa, fica complicado. Em geral, a gente rala para adquirir as coisas e ter uma equipe maior, mas tenho muita vontade de ter gente registrando mais vídeo. Essa foi a primeira vez que registrei um trabalho no estúdio full time. Tinha câmera o tempo inteiro, tipo Big Brother. Sem nenhuma pretensão ainda. Foi mais como um registro.
Pensando no processo de criação do disco, no que este novo álbum de inéditas se diferencia do último, o “Brasileiro”, que foi lançado em 2018?
Acho que o “Brasileiro” ficava mais focado esteticamente na música brasileira mesmo. No “Cinco”, eu passeio também por gêneros que combinam com a música brasileira, tipo reggae e ska. A música brasileira tem uma coisa mais jazzy, que combina com isso, R&B e várias outras coisas. No disco, eu fui somando com coisas que fariam sentido. O “Cinco” é um pouco mais aberto que o “Brasileiro” em termos de gêneros.
Para fechar, me conta: como queria que descrevessem o “Cinco” para outras pessoas? O que mais desejava que ficasse em evidência?
Eu acho que ele é um disco leve, mas bem humano em relação às sensações. Ele fala de amor, mas também de desamor. Então, ele tem uma parte que é super profunda no sentido de amar demais e sentir muito ao mesmo tempo. Tem uma canção que chama “Furada”. Ela é um fora com elegância (risos). Isso é uma coisa que eu não fazia muito com meus outros trabalhos. Antes não tinha essa ironia. Costumava ser uma coisa muito mais “pintura”, de contemplar a beleza da coisa. No “Cinco”, tem coisas que são mais pessoais. É um disco bem pessoal.
Ouça o “Cinco” na sua plataforma favorita:
Spotify | Deezer | Apple Music
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