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Entrevista: Carol Biazin fala sobre álbum de estreia, rivalidade feminina e feat. com Luísa Sonza

Depois de singles de sucesso como “Sempre Que Der” e “Desgrama”, Carol Biazin finalmente lançou o primeiro álbum da carreira. Intitulado “Beijo de Judas”, o disco chegou às plataformas digitais no último dia 13 com um total de seis faixas disponíveis para reprodução. Na mesma data, foi lançado o clipe de faixa-título.

Já viu?

Tornando o momento ainda mais especial, o lançamento contou com uma ação inédita. Essa foi a primeira vez no mundo que um álbum foi lançado com faixas escondidas na tracklist dos apps de streaming de música. Ali, o público até pode ver o nome das canções que a artista gravou com Luísa Sonza e Gloria Groove, por exemplo, mas ainda não pode ouvi-las.

Em uma conversa com o Papelpop, Carol explicou que intenção é se adequar ao ritmo acelerado da indústria musical, liberando a reprodução das faixas restantes um pouco mais tarde. Durante a entrevista, feita pelo Zoom, a cantora também discutiu rivalidade feminina e o processo de construção do novo álbum.

Confira!

Papelpop: Carol, achei interessante que você lançou o clipe de “Beijo de Judas” junto com o álbum. Nessa música, você fala sobre rivalidade feminina dentro do pop – que, apesar de ter bastante figuras femininas, ainda carrega coisas bastante machistas. Pode falar um pouco sobre isso? 

Carol Biazin: Essa foi uma música que fiquei com um pouco de medo quando lancei, porque eu falo “se jogar o bundão no chão, aí vai dar bom”, que é uma coisa que escutei muito. Eu converso com cantoras que são divas completíssimas, dançam, cantam, fazem tudo e é bizarro porque as mulheres são atacadas independentemente do que façam. Eu sou atacada por não me enquadrar dentro do pop e a Luísa Sonza, por exemplo, é criticada por rebolar a bunda. É sempre essa coisa. A galera sempre comparando as mulheres… Em pleno 2020, vão ficar me comparando com outra artista? Cada uma tem a sua essência e fico chateada que dentro de outros gêneros, como o sertanejo, rola uma união. No pop, a comparação é muito pesada. Quem consome esse tipo de música fica falando: “Ai, fulana tem muito mais ouvintes mensais do que a outra”. Quando vejo essas coisas, me pergunto: “E daí? O que isso muda para você?”. “Beijo de Judas” existe por causa disso. Eu precisava desabafar, não aguentava mais. Nós, mulheres, já não temos quase nada e ficam nos comparando, tentando empurrar a outra para fora, sabe? Não dá! Acho que essa é uma parada muito necessária de se falar.

Como foi fazer essa música? Porque vi que você descreve ela como um desabafo…

Foi meio gatilho principalmente quando fui gravar o clipe. Toda vez que ia cantar “Prefiro ser o flop do flop do que a cópia da cópia” eu começava a engasgar. É muito o que eu vivo… É óbvio que ninguém quer ser flopado, mas sempre tento manter esse pensamento de preciso manter a minha essência, fazer as coisas da forma que acho correta. Essa música foi muito gatilho para cantar e escrever, mas estou mais tranquila hoje. Foi um lançamento que tive muito ansiedade para acontecer e saber o que as pessoas iam achar. Quando lançou, eu fiquei muito em paz com o resultado e o feedback do público. Estou mais serena agora que coloquei para fora. É assim que estou me sentindo…

Acho legal que você contorna esse cenário de rivalidade feminina na prática, trabalhando com mulheres. O álbum “Beijo de Judas”, por exemplo, traz a participação da Luísa Sonza. Me fala sobre a experiência de fazer música com ela e com a Gloria Groove!  Qual a melhor parte de se trabalhar em conjunto?

As duas parcerias foram muito naturais. A Gloria já era amiga dos meninos do estúdio onde eu gravo. O Pedro mandou um beat para ela e falou: “Escuta aí! Vê se você curte”. Eu já tinha colocado uma letrinha. Aí ela falou: “Vamos fazer! Vamos fazer”. Então, a gente se conheceu no dia que estivemos no estúdio juntas, pessoalmente. Foi muito suave. Percebi o quanto ela é talentosa. Eu sempre fui muito fã. E, quando vi ela escrevendo na minha frente, com muita facilidade, fazendo a música como se fosse comer arroz e feijão, eu fiquei muito apaixonada e passei a admirá-la ainda mais. E com a Luísa foi muito doido, porque foi ela que chegou em mim há mais de um ano por meio de um amigo em comum. Ela me ligou por FaceTime. Eu já achava ela muito foda e gigante. Já sabia todas as coisas que ela passava na internet. Sempre admirei muito a forma como ela se comporta no meio de todo esse caos. Aí ela me ligou e falou assim: “Amo muito as suas músicas. A gente podia gravar uma versão das ‘Suas Linhas’”. E eu fiquei tipo: “Cara, sim! Com certeza! Vamos gravar”. Só que acabamos escrevendo uma música juntas. Aí eu falei: “Eu estou fazendo meu álbum. Não é possível que vamos gravar uma versão de ‘Suas Linhas’. Vamos fazer uma parada nova, que a gente ainda não fez”. Foi quando mandei a música para ela. A Luísa pirou e foi muito parceira do início ao fim. Nunca teve algo do tipo: “Ai, meu Deus, estou falando com a Luísa Sonza”. Foi muito tranquilo. Confesso que, no começo, fiquei tremida, mas depois foi muito suave. E, toda vez que sento com ela, a Luísa me dá um ensinamento em relação à indústria e tudo o que ela passou. Sempre é muito bom ouvir tudo o que ela passou para saber que as dificuldades que passo ainda não são nada [risos]. A gente vai se fortalecendo. Estou feliz de tê-la no meu álbum.

Essas músicas já estavam prontas faz tempo? Tem algo que foi feito na quarentena? Porque vi que faz um tempinho que você está atiçando a gente com essas parceria…

A da Gloria foi a primeira música do álbum a ficar pronta, faz mais de um ano que ela existe. Antes mesmo de eu pensar em fazer um álbum, ela já estava pronta. Achei que ela ia ser um single avulso, sem estar dentro de um projeto maior. E aí, quando surgiu a oportunidade de fazer um álbum, decidimos que a da Gloria iria entrar no bolo das 10 músicas. A da Luísa acho que ficou pronta lá pela metade do álbum. Mas o disco, em si, já está pronto faz um bom tempo. Masterizado, mixado, eu acho que já faz bem mais de um mês, porque tem toda uma burocracia para lançar. As coisas feitas durante a quarentena foram todas realizadas à distância. Foi desesperador no começo porque é mais difícil de ficar palpitando com o produtor o tempo inteiro. Por isso, o processo é um pouco mais lento. Só que acho que isso não afetou de forma ruim o resultado final. Pelo contrário, acredito que a gente teve muito mais cuidado com tudo por estarmos fazendo um álbum dessa forma. Foi tipo: “Vamos pensar se vão ser essas músicas mesmo, se todas elas fazem sentido”. Tanto que algumas músicas caíram. Eram para ser doze. Tiramos algumas que achávamos que não fazia mais sentido.

O que você queria que ficasse em destaque nesse projeto?

Bom, primeiro de tudo, eu não escolhi à toa o nome do álbum. A primeira coisa que pensei antes de escrever a faixa-título foi o nome, “Beijo de Judas”. E eu pensei: “Cara, eu vou fazer essa música, vai ficar incrível. E preciso que o título do meu álbum seja esse, porque tudo o que estiver dentro quero que defina uma menina que não usa fórmula, que não vai na onda”. Queria que as pessoas me vissem assim. Se alguém falasse isso de mim, eu ficaria muito feliz porque é o que queria transparecer.

Quais são os desafios de se promover um disco na quarentena? Porque vocês escolheram fazer o lançamento nas plataformas digitais sem algumas músicas disponíveis para ouvir?

Foi muito doido porque a gente terminou o álbum e falou: “Cara, e aí? O single vai ser qual?”. Eu já sabia que queria trabalhar “Beijo de Judas” mesmo ela não sendo a mais comercial. Queria muito que mensagem dela fosse passada. Aí ficamos meio perdidos porque, com tantas outras faixas, nós sabíamos que queríamos trabalhar “Beijo de Judas”, só não sabíamos como. Foi quando o Pedro da gravadora falou: “E se a gente soltar, ao invés de parte 1 e 2, tudo de uma vez? Só que, no começo, as pessoas não conseguiriam ouvir algumas faixas por estarem ‘escondidas’”. Então falei: “Confirma se vai dar certo. Se não, fazemos parte 1 e 2. De qualquer forma, a gente segura as músicas e vai soltando aos poucos”. Assim, eles tiveram reuniões com todas as plataformas possíveis, com gravadora e tal. Só que todo mundo falava que tinha um risco. Quando lançou e vimos que todas as músicas estavam lá apagadinhas, eu fiquei muito aliviada. Nunca surtei tanto na minha vida, mas valeu muito a pena. Foi até um case para gravadora por ser a primeira vez [que alguém fez isso]. Todo mundo saiu feliz!

E sem o streaming essa estratégia não seria possível, né? Como você acha que ele está mudando o mundo da música? 

Para o criativo, acho que a gente tem mais possibilidades e menos limites. Eu jamais conseguiria fazer o que fiz se estivéssemos em um mundo sem o digital. Mas, ao mesmo tempo, é muito cansativo viver nesse ciclo de “lancei uma música e amanhã a galera já está me cobrando por outra”. Precisamos subir nas plataformas toda música um mês antes de lançar. Temos que correr contra o tempo e isso cansa muito. Você acaba de esgotar todas as suas energias em um lançamento e o público já quer mais. É absurdo como ficamos angustiados. Acho que todo artista tem essa mesma sensação. A galera não aproveita um lançamento por vez. Eles querem tudo de uma vez. É por isso que fiz meu álbum em partes. A indústria é imediatista demais. Essa parte, eu confesso para você, gostaria que fosse diferente, mas em relação à liberdade criativa eu dou muito valor.

Agora, para encerrar, queria perguntar algo mais ligado ao seu passado. Você veio do “The Voice”, né… O que aprendeu por lá que traz com você até hoje?

Nem parece que participei de “The Voice” [risos]. Na minha cabeça, eu fico: “Caramba! Já fiz um reality show enorme”. Tudo o que eu tenho hoje começou lá. Aparecer na TV foi uma vitrine muito grande e o público que conquistei lá continua comigo até hoje. Se não tivesse passado pelo “The Voice”, não sei onde estaria hoje. Eu continuaria fazendo música, mas não sei… Acho que devo muita coisa ao “The Voice”.

 

Ouça “Beijo de Judas” na sua plataforma favorita:

Spotify | Deezer | Apple Music

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