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Jamie Cullum lança clipe de “Turn On The Lights” e fala ao Papelpop sobre novo álbum, jazz e dueto com Maria Rita
Você já conhece o Jamie Cullum? Ele é um cantor e pianista de jazz, considerado um dos maiores nomes da atualidade no gênero. Cullum tem 8 álbuns de estúdio, diversos prêmios, participações em trilhas sonoras de filmes e até novelas brasileiras. Ele acaba de lançar o clipe para “Turn On The Lights”, primeiro single do próximo disco com temática natalina intitulado “The Pianoman At Christmas”. Olha só:
O álbum chega em 20 de novembro e ele conversou com o Papelpop sobre influências, parcerias, cinema e até o dueto que fez com Maria Rita quando esteve no Brasil. Confira a conversa completa abaixo:
Papelpop: Você é considerado um dos principais artistas do jazz atual e um dos responsáveis por “recriar” esse gênero. Por que o jazz? Como essa conexão começou?
Jamie Cullum: Começou, na verdade, com o hip-hop. Quando eu era adolescente, me interessei por hip-hop e comecei a ouvir os samples de jazz dentro desse tipo de música. Eu sempre me interessei por música e por criá-la. Meu irmão mais velho é músico, meus pais sempre amaram música e sempre tocavam em casa, meu pai toca um pouco de violão, minha mãe cantava na igreja e tocava um pouco de violão também, então, eu sempre estive cercado por música. E, quando eu comecei a gostar de hip-hop, de A Tribe Called Quest, The Beatnuts, The Pharcyde, Jurassic 5 e essas coisas, tinha esses pequenos elementos de jazz que me atraíam e eu tentava tocar. E, quando eu descobri que havia vários discos antigos que já estavam na coleção dos meus pais, eu comecei a me jogar mais a fundo no gênero e perceber que, entre vários outros gêneros que eu amava, eu também amava o jazz. Mas acho que eu descobri com o tempo que eu sou interessado em música como essa grande coisa homogênea, qualquer que fosse, eu só amava a criação de música e o jazz é essa coisa linda que eu não vi mais ninguém fazendo, mas realmente me tocou.
Você tem um álbum natalino chegando, o que já podemos falar sobre ele? O que podemos esperar? As músicas vão ser tão pessoais quanto em “Taller”, que foi seu lançamento mais pessoal?
Bem, eu acho que a coisa mais interessante sobre esse álbum é que é feito só com músicas de Natal originais. Acho que há muitos álbuns desse tema por aí, muitos deles fazem cover dos clássicos. Esse está tentando soar como um álbum clássico mas com músicas novas. Então, eu só tento adicionar algo novo ao Natal tradicional, que talvez não tenha sido feito há um tempo. Esse era o plano. Mesmo não sendo pessoal como o “Taller”, eu acho que, se você me conhece e conhece a minha música, você vai sentir a minha pessoa e a minha personalidade através da música também, mesmo que seja sobre a alegria e o espírito de Natal.
Como você fez para trazer novidade e a sua personalidade em um assunto tão clássico?
Acho que o único jeito é deixar a sua marca e espero que, com essas músicas, você veja meu senso de humor, minha alegria em escrever melodias clássicas com mudanças de acordes, mas eu também não quis me afastar da tristeza que também existe no Natal, dos sentimentos complexos. Quando você vê um projeto assim, você só tem que seguir seu instinto e usar um pouco da experiência que você ganhou ao longo dos anos. Eu estou fazendo isso há um tempo já. A essa altura, você só joga tudo fora e pensa: “Eu só vou seguir minha intuição, seguir meus instintos e ver o que eu consigo fazer”. E eu estou muito orgulhoso desse álbum. É tão interessante, eu fiz muitas coisas ao longo dos anos e eu estou tão orgulhoso disso quanto de qualquer outra coisa que eu tenha feito e é um álbum de músicas de Natal. Quem esperaria isso?
Você também tem um programa de rádio sobre o estilo. Como funciona a produção? Quais foram os maiores desafios, o que mais gosta?
Por conta do lockdown, eu faço daqui, eu tenho meu microfone e a minha mesa de mixagem literalmente aqui embaixo, nas minhas mãos, e, na parede de trás, você pode ver centenas de discos e CDs, eu obviamente estou conectado a MP3s, ao Tidal, Spotify e tudo. Quando eu estou apresentando o programa de rádio, eu uso meu conhecimento como músico para falar sobre música de uma maneira interessante, mas eu também abordo como um fã. Eu sou um fã de música e isso pode soar como uma coisa óbvia a se dizer, mas, às vezes, os artistas podem ouvir música como se eles só quiserem fazer, então, eles ouvem algo para pegar ideias. Mas eu ouço como um fã, como a pessoa que quer ir ao show e comprar a camiseta. Eu apresento meu programa assim e eu amo celebrar outros músicos e falar sobre eles.
Você já entrevistou vários nomes incríveis no programa, como Paul McCartney, Lars Ulrich, Billy Joel e muitos outros. Houve uma conversa que você curtiu mais? Por quê?
Entrevistar o Billy Joel foi bem incrível. Ele é um grande herói para mim, dá para perceber pelo título do meu álbum: “The Pianoman At Christmas”. Ele foi maravilhoso, foi ótimo entrevistá-lo, porque a carreira dele é tão completa, as coisas que ele alcançou na carreira dele, então foi incrível. Paul Simon foi outro que eu gostei muito também. Clint Eastwood, Wynton Marsalis. Esses são os meus favoritos, acho.
Você mencionou o Clint Eastwood e eu sei que você gosta muito de cinema, inclusive já fez músicas para alguns filmes. Queria saber de onde veio essa paixão e se tem alguma trilha sonora vindo por aí.
Eu adoraria escrever mais músicas para trilhas sonoras. Não tem nenhuma vindo, mas considere que eu esteja mandando meu currículo agora para o mundo (risos). Isso inclui filmes feitos no Brasil também e Portugal. Eu sinto que meu amor por filmes veio de um amor por cultura em geral. Eu amo ler, ouvir música, assistir filmes e peças de teatro. Então, eu amo pessoas criando coisas e arte no geral. Um ótimo filme é uma fusão de fotografia, roteiro, música e atuações bonitas. É uma forma de arte completa. Eu acabei estudando cinema na faculdade e eu peguei muito daí, como estudante, e criou um amor por filmes para a vida inteira e de uma forma muito profunda.
Noto que há muitos jovens tendo o primeiro contato com o jazz, inclusive por meio de trabalhos como o que Tony Bennett e Lady Gaga fizeram. Qual a importância de atitudes como essa?
Sabe, eu tento não pensar na importância das coisas, porque uma coisa incrível sobre o jazz é que ele não está preocupado com a popularidade, está preocupado com expressão e a habilidade de dizer algo que seja diferente e inovador e fazer improvisações. Sobre a Lady Gaga… Eu cresci em uma família que idolatrava o Tony Bennett e ela teve o início da carreira cantando em bares de jazz, então, eu sei que é autêntico. Para mim, eu vejo, no mundo moderno de música no qual vivemos, que jovens ouvem muitos gêneros, de eletrônica a hip-hop, a jazz, soul, rock… Eu tenho 41 anos agora e, quando eu comecei, com 20 e poucos, jazz era coisa de velho, ou era o que parecia. E, agora, tem muitas pessoas com 20 anos falando de jazz da mesma que falariam de folk ou rock e eu acho que isso é uma marca dos tempos em que vivemos e isso é uma coisa maravilhosa.
E que balanço faz da cena jazz hoje? Você vê mais artistas no estilo?
É difícil saber, porque estamos muito conectados agora. Quando eu comecei, não tinha ninguém. Agora, você pode se comunicar com a sua comunidade, é muito mais fácil, então, parece que tem muito mais gente fazendo. Então, eu não sei a resposta para essa pergunta, honestamente. Mas o que eu percebi é que… Um dos singles mais recentes da Dua Lipa, eu percebi jazz nele, por exemplo. Eu percebi o jazz abrindo caminho para um hip-hop mais famoso, seja Ty Dollar $ign ou Kanye West. Eu acho que está mais disponível para o público agora, o que é uma coisa incrível.
Você ganhou o prêmio Ivor Novello pela composição de “The Age of Anxiety”. Parabéns! É uma ótima música. Quais são os compositores que mais te inspiram?
Muitos, na verdade, é até difícil de especificar. Eu comecei mais interessado em violão e compositores e cantores que usavam violão. Eu só queria ser o Kurt Cobain quanto eu tinha 13 anos, eu queria estar no Nirvana, mas eu não escrevia músicas daquele jeito. Aí eu conheci esse cara chamado Ben Folds, de uma banda chamada Ben Folds Five, que eu amo, e eu achei a abordagem dele muito inspiradora, porque ele estava arrasando no piano e ele tinha essas letras inteligentes as quais, pensando agora, soam como teatro musical contemporâneo. Mas aí eu me interessei muito pelo Great American Songbook, então Cole Porter, George Gershwin, Irving Berlin, Rodgers and Hart, Hoagy Carmichael… Aí eu fiz a ponte para nomes como Bob Dylan, mas também Tom Waits. Eu diria que o Tom Waits é, provavelmente, a minha maior inspiração… E o Randy Newman.
Quando esteve no Brasil, em 2006, você cantou com a Maria Rita. Vocês ainda têm contato? Tem alguma colaboração a caminho?
Eu adoraria e eu espero muito que, com esse álbum de Natal, agora que estamos lançando este ano, espero que tenhamos mais tempo no ano que vem… Eu adoraria escrever mais músicas que sejam colaborações com artistas e eu adoraria fazer uma colaboração com um grande artista brasileiro e, com a Maria, seria maravilhoso. Então, eu espero fazer isso, não tem nada programado, mas eu acho que esse disco é uma ótima oportunidade para fazer algumas colaborações maravilhosas. Eu sei que vocês não têm neve no Brasil, na época natalina, mas eu já estive aí nessa época e eu sei que vocês amam o Natal. Eu tenho amigos no Brasil e eu já fui várias vezes, tanto na minha carreira como por diversão. Eu espero visitar o Brasil com a minha família, eu já contei tudo para os meus filhos sobre a cultura linda, a música, as praias bonitas, a comida e o espírito daí. Então, eu espero poder ir visitar e eu espero poder colaborar com artistas brasileiros. Isso não é só uma coisa vazia que eu estou dizendo para você se sentir bem (risos). Eu amo música brasileira, então, eu adoraria fazer isso.
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