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Ivete Sangalo fala sobre Carnaval, coronavírus e clipe de “Dura na Queda”; já assistiu?

Nesta sexta-feira (02), a cantora Ivete Sangalo lançou o single “Dura na Queda”, acompanhado de clipe gravado em casa com equipe reduzida. Tanto a música quanto o vídeo trazem essa leveza típica dela. Esta, afinal, é síntese da obra de Ivete. Além de felicidade, alegria e amor, a musa baiana sempre entregou produções que contemplam os mais variados gêneros e estilos. Por isso, é difícil imaginar para ela uma vida “quarentenada”, em casa, sem poder gritar “Tira o pé do chão”.

Na noite desta quinta-feira (1º), Ivete falou com a imprensa sobre o novo momento da carreira. Além de tocar em pautas como as restrições impostas pela pandemia e o futuro incerto do Carnaval, a rainha revelou o que a torna cada dia mais forte diante das adversidades. Os melhores momentos da conversa você lê abaixo.

Ivete, você é a Rainha do Carnaval. Como está sendo para você esse momento de incerteza, em que não sabemos se vai ter a festa?

A nossa sorte é que esse reino é polimonárquico, nós temos muitas rainhas e muitos reis, o que gera um cuidado ainda maior com a nossa festa, com o nosso reino. Esse reino é importantíssimo pra nós. Mas, acima de tudo, quem povoa o nosso reino… Esses são prioridade. Então, eu acho que é um consenso, embora estejamos tristes e o trabalho está sendo postergado, porque é uma crise sem dúvida nenhuma. Mas nós temos consciência do tamanho que é a responsabilidade de você abrir uma exceção para a festa que mais aglomera. Eu acho que seria incoerente com a ideia do coletivo artístico, os últimos pleitos que a gente tem feito para as pessoas ficarem em suas casas. Seria muito antagônico a gente falar “Vá pra rua” porque é conveniente, porque é a festa em que eu vou estar brilhando. Na dos outros, você não brilha, mas aqui eu quero brilhar. Não acho isso. Eu acho que existem pessoas que têm capacidade de discernimento e também compreensão dos fatos que podem reger isso e nos acenar quando é possível que isso aconteça com a segurança de todos, inclusive de nós mesmos. Mas, acima de tudo, do público. Porque eu posso estar cercada de condições de segurança, de higiene sanitária, mas o público talvez não. Então isso não é justo. Eu acho que a gente vai ter que respirar fundo, guardar essa energia que a gente tá, que tá virando uma bola… E aí, mermã, quando tiver esse Carnaval, pelo amor de Deus, eu vou vir pintada, sem figurino pra apertar meu corpo, eu vou ficar livre.

Você falou que os planos estão paralisados por causa desse período, mas, no fim do ano, começa a se falar da música do Carnaval. Mesmo com tudo parado, você consegue pensar nisso? 

Eu consigo. Eu tava pensando nisso. Ano passado a gente compôs “O Mundo Vai”, que é uma música muito gostosa, que eu assumo como uma das minhas favoritas. E eu to num processo de composição e produção de coisas… E eu acho que lançar uma música do Carnaval (Carnaval em maiúsculas ou em minúsculas?) sem o carnaval é uma maneira de você levar essa alegria desse tempo. O que a gente precisa é dizer ao tempo “Agora é a hora do carnaval, a gente via esperar, mas agora é a hora do carnaval, no nosso tempo emocional, na nossa cronologia da alegria, do amor”. Então eu tenho que marcar esse terreno. Eu tenho que mijar na planta, que nem cachorro, pra ele saber que nós estamos aqui. O carnaval não pode sentir que houve um desgarre. Então, a gente vai fazendo a música do carnaval. E, mesmo que ele não exista como festa, ele existe como sentimento e, Ave Maria, acho que eu enlouqueço se eu não fizer uma música pro carnaval ali em janeiro, fevereiro. Nem que seja pra pular sozinha na sala, dizer “Êêêê, tira o pé do chão”. Eu vou fazer.

Essa música, “Dura na Queda”, é uma música do Rodrigo e do Diogo Melim, né? Não é a primeira vez que você grava músicas deles. Eu queria saber um pouco mais dessa sua parceria com o Melim e também se essa música é um começo de um 8º álbum de inéditas.

Começando pelos meninos, a minha relação com eles vem desde o Superstar, que era um programa da Rede Globo do qual eu fazia parte e eles participaram. E eu me recordo muito da sintonia deles três. Isso já impregnou nossos espíritos de uma energia boa dos meninos, você vê que eles são parceiros, amigos, emanam aqui uma relação equilibrada. E isso já é gostoso pra quem ouve. Ela tem uma voz linda, eles, os meninos, cantam lindamente e são bons compositores. E esse caráter, como eles organizam aquilo criou uma personalidade de energia leve. E eu sou uma pessoa muito leve. Primeiro eu gravei “Zero a Dez” deles, aí eu chamei pra gravar “Um Sinal”, que foi uma delícia, e o encontro gerou essas fomentações de novas coisas. Ele me mandou essa e me mandou mais umas oito. Eu fiz uni, duni, tê, salamê, minguê, porque todas eram muito boas e muito adequadas pra diversos momentos da nossa vida. Você falou do álbum. Isso pode se transformar num álbum. Eu fiz “Coisa Linda”, fiz “Localizei”, “O Mundo Vai”, “Não me olha assim”. Tem muitas músicas que não estão atreladas a um projeto de disco então a gente pode compilar ali e lançar um disco. E eu já tô produzindo outra música com o Rada [produtor], quer dizer, já tá pronta e a gente vai produzir mais coisas e mais, e mais, e mais. Vai ser um álbum. Eu acho que a gente vai produzir até mais do que pra um álbum, mas eu sei que vocês querem e eu quero muito. O grande barato disso tudo é o que a música provoca na gente, mas eu entendo também o chamego que tem com aquele projeto. Mas, nessa loucura que tá, eu falei: “Vamos produzir, porque eu não quero parar de cantar nem de mandar canções pros meus fãs”. Eu tenho pensado num projeto todo, como se fosse um DVD, mais quieto. Não quieto no som, mas mais recluso, sem ser um show como foi no Allianz Parque. Mas com as músicas tudo naquela pegada de mainha.

Nessa pandemia, em meio a caos, incerteza, isolamento social, o que te torna mais “Dura na Queda”?

[Risos] Muitas coisas, eu sou uma pessoa muito positiva, eu tento. Tem uns dias em que eu não tô bem e eu busco dentro de mim mesma a opinião que eu dou aos outros sobre determinadas circunstâncias. Esse negócio de respirar tem me ajudado muito a ser mais positiva, a ver pelo prisma do aprendizado das coisas. Óbvio que eu faço essa ressalva sempre sobre os meus privilégios. E a minha grande angústia durante a pandemia foi ver muitas pessoas morrendo, entes queridos… Toda fala que dizia que alguém morreu ou que as UTIs estavam cheias e que as pessoas não tinham atendimento, que tava um caos, tava um volume de pessoas infectadas gigante… Eu me colocava no lugar dessas pessoas, dessas famílias e isso vai maltratando a nossa alma. Então eu acho que, até em respeito à vida dessas pessoas, a gente tem que manter uma força de pensamento positivo pra que as coisas mudem, a energia mude. E tem o ponto de reflexão dentro dessa pandemia, a gente nunca lidou com isso, a gente nunca esteve diante de uma situação dessa e, obviamente, pra qualquer ser humano gera incerteza do que vai ser, de como vai ser. Então, acho que nos resta ter uma visão real porém de positividade sobre o que vai vir, porque, se a gente jogar essa bola pra baixo, soma muita coisa ruim junta. E energeticamente, a gente vai jogando a bola pra baixo e a coisa tende a piorar. Dentro dos meus privilégios, eu não passei necessidade durante a pandemia e isso já é um fator muito determinante na minha alegria, na minha força de continuar fazendo as minhas coisas. Eu tenho fé nos meus pensamentos, nas minhas orações e nas minhas ações que as coisas vão caminhar por caminhos mais felizes.

Como é que foi esse processo de direção? Você é sempre muito divertida, espontânea… Tem alguma história muito doida desse processo? 

A direção veio mais de uma necessidade do que ser uma condição, tipo “Eu quero dirigir um clipe”. A gente produziu isso nessa pandemia. Eu ainda acho que estamos em pandemia. No meu caso, eu sou uma pessoa que ainda pode evitar sair, evitar estar em lugares públicos com muita gente. A gente tem evitado isso muito. Então, a gente não queria uma superprodução, uma equipe, e vamos usar o que a gente tem em mãos. E eu falei: “Não, eu vou dirigir o clipe, eu acho que eu sou capaz”. Tem uns momentos de atuação ali. E aí a gente usou esse cenário paradisíaco que, de alguma maneira, ele representa esse momento de solidão, mas a gente se reconhecendo num lugar, buscando um lugar de conforto pra nós. A ideia de um voyeur, de uma companhia, de uma bate-papo pela internet… Na impossibilidade do encontro, usar a imaginação desse voyeur passeando conosco, viajando conosco. Toda a parte de cenografia eu fiz no quintal da minha casa. Eu peguei uma bicicleta e a gente usou luz natural aqui da Praia do Forte no final de tarde. Eu achei que ficou uma captação de amor, de emoção, de leveza. Comigo tinham três pessoas: dois cinegrafistas e um fotógrafo. A gente usou um carrinho de golfe pra eu ter esse voyeur parceiro ou parceira ou quem quer que você queira que seja. De momentos engraçados são o medo das cobras que aqui tem pouquinha, besteirinha, mais de cinco cobras por semana, e as muriçocas, que elas têm o horário delas e a gente tem que respeitar. E a gente não botou no crédito a presença delas porque elas, na verdade, não ajudaram muito, só atrapalharam (risos).

Qual mensagem você quis passar com essa música pra sociedade no momento em que estamos vivendo?

Se você traçar um paralelo de quando ela canta, ela sou eu, né… “E olha que eu sou dura na queda/Você chegou de paraquedas e me pegou de jeito/E me deixou sem jeito”. Se você trata disso em paralelo, só que você joga, assim como eu falei do carnaval, uma energia de amor, de alegria praquilo… A gente não pode deixar a energia da doença, do caos… O caos já se instalou, cabe a nós varrer isso daqui energeticamente pra que a gente tenha uma saúde mental. Até a nossa saúde física a gente tá tentando driblar dentro de casa e, agora, as pessoas podem ter acesso a determinados lugares pra poder fazer as suas atividades, mas a nossa saúde mental nesses 6 meses foi colocada à prova. E eu acho que o melhor que a gente pode fazer, de ser humano pra ser humano, é dar boas notícias, cantar coisas que a gente gostaria de cantar se estivéssemos em rotinas normais do nosso dia a dia. Então, a intenção é essa. Não é nada intelectualmente pensado mil vezes, é simples como tem que ser. É uma mensagem que tem que chegar nas pessoas e ter leveza, ter uma tranquilidade, um recolhimento, porém tem a palavra “amor”, tem a palavra “alegria”, tem “dura na queda”. A gente é duro na queda, né? A gente só vai se fazer refém desse amor, do que é bom do amor. A gente só vai se entregar, a gente só vai deixar entrar e tomar conta da gente o amor, nada mais.

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