Se você era uma criança (ou adolescente) em meados 2010 e acompanhava toda a programação do Disney Channel, é claro que conhece o duo College 11. A dupla era formada por Mayra e Bruno Martini. Eles foram os primeiros artistas brasileiros a serem contratadas pela gravadora Walt Disney Records. Os hits foram vários, rendendo clipes icônicos para “Go!” e “The Bet”.
Após o fim do contrato, que aconteceu há quatro anos, os dois continuaram a parceria profissional, porém em carreiras solo. Martini se jogou no mundo das pistas de dança, fazendo música até com Iza recentemente. Mayra lançou singles, o EP “Voices” e continuou arrasando nas composições.
O Papelpop bateu um papo com a artista e relembramos a fase emo, falamos da amizade e parceria profissional com Bruno, composição durante a quarentena, tendências fashion, mundo do K-Pop e até TikTok.
Confira nosso papo completo abaixo:
Sua descrição na bio do Instagram diz: cantora, compositora, atriz, escritora e Army. Hoje, qual destas funções está em destaque pra você?
Cara, cantora e compositora é o tempo todo… é sangue, não tem como evitar. Mas tem dias que tô mais artista e tem dias que tô mais compositora, não vou mentir pra você. Quando o Bruno [Martini] me chama pra ir pro estúdio, que a gente tem conseguido ir, escrever e fazer algumas produções… tem dia que quero ir lá e compor algo pra mim, tem dia que quero ir lá só pra fazer uma música e não importa qual o objetivo dela. Hoje, em especial, eu tô me sentido mais artista, com agenda de imprensa… é sempre gostoso de fazer.
E você se identifica com todas as funções sempre?
Graças a Deus, sim! Eu sempre fui cantora e compositora, né? Army é uma consequência da vida, tenho até pôster do show deles [BTS] que fui. Pra sempre vou ser cantora e compositora, acho que nunca vai mudar. Atriz de vez em quando, quando dá pra fazer algumas coisas, gravar videoclipe. Escritora também quando tô inspirada pra escrever umas histórias. Mas cantora e compositora pra sempre.
Em junho você lançou “M.I.A.”, que veio com colaboração do Bruno Martini. Aí teve “Luck Or Love”. Depois, você foi feat. na faixa do Martini, “Skin”, ao lado de Timbaland e Johnny Franco. Qual dessas é a sua favorita?
Tem gente que fala que não dá pra escolher a música favorita, né? Eu escrevi as três músicas, as três são minhas e do Bruno, obviamente. E a última com o Johnny. Mas eu não vou mentir pra você, eu sempre tive um amor imenso por “Skin”, que é do álbum novo do Bruno, “Originals”, que tá pra vir agora em outubro. A gente escreveu ela [“Skin”] há três anos. Então, tipo, a gente já tá maturando essa música há muito tempo. E ela já era uma coisa diferente do que se costuma ouvir. Ela é pop, mas com uma sonoridade um pouco mais 2010 ou 2005, por aí. Era um projeto paixão, tanto pra mim quanto pro Bruno, tava muito ansiosa pra sair. Mas eu gosto das outras também! A “M.I.A.” foi uma coisa que a gente fez e o Bruno falou: “Cara, essa música é muito boa. Vamos lançar?”. Não foi aquela coisa tipo “ai, estou muito apaixonada por essa música”. E a “Luck Or Love” era mais um projeto paixão. É um boom-bap, não é uma música muito pop. Mas a “Skin” é a minha música dos olhos, minha neném.
Aliás, falando do Bruno. Vocês têm uma longa amizade, né? Vocês tinham a College 11, que fez muito sucesso em toda América Latina. Como é a relação de vocês?
Sabe irmão mais velho? Aquele que te irrita o tempo inteiro, faz piada… o Bruno é meu irmão, virou! Faz doze anos que a gente trabalha junto, é muita convivência! E as pessoas especulavam lá no começo [na época de College 11] que a gente era um casal, mas nunca nem foi uma possibilidade pra gente. A gente era estritamente profissional no começo e aí virou uma amizade. Conheço a família dele inteira, ele conhece minha família toda. Eu sou casada hoje em dia, ele é amigo do meu marido também. A gente é irmão, família só que não do mesmo sangue. Eu vou lá pro estúdio e a gente come junto, conversa, sai pra jantar às vezes. É uma amizade muito boa e que funciona musicalmente bem, acho que essa é a parte mais importante, querendo ou não… que fez com que a gente tivesse o que tem. Porque se não tivesse, acho que a química musical não seria como é.
Vamos relembrar a época de College 11 com clipe de “Go”? <3
Este ano está sendo bem complicado, muitos planos tiveram que ser mudados, adaptados. Mas você tem alguma novidade a caminho, que ainda veremos em 2020?
Acho que a quarentena, pra mim especialmente, mudou a minha visão de mim mesma, como artista e compositora… e do mundo. Eu tive essa conversa com o Bruno no estúdio, inclusive! Antes da quarentena, a gente tava muito preocupado em lançar as coisas na hora certa. “Vamos ter que planejar esse lançamento, na hora certa, pra poder atingir o público certo”, sabe? Sempre teve um cuidado pro negócio poder virar, dar certo. Mas, na quarentena, acho que todo mundo tá sedento por entretenimento, né? A gente falou: “Vamos só fazer o que a gente ama fazer, que é a música. E vamos mostrar para as pessoas, só colocar aí fora”. Porque não importa o resultado, importa que alguém vai se entreter com isso e esse é o nosso objetivo, é nossa função. A gente conseguiu fazer muita coisa, muita! Como é só eu e ele dentro do estúdio, não tinha muita restrição. A gente terminou o álbum dele inteiro. Nesse meio tempo, vieram algumas parcerias, do álbum dele, que não posso falar. Fizemos músicas pra mim que tão pra sair no futuro. No fim das contas, meu objetivo na quarentena foi: quero fazer música e colocar no mundo. Não vou ficar esperando… “Ai, vamos fazer um planejamento, marketing disso”… quero fazer música! Não tenho tempo a perder. A gente não sabe quando a próxima coisa vai acontecer e quero mostrar para as pessoas minha música.
E como está sendo trabalhar com arte durante este período de pandemia? Tem sido um momento produtivo pra você?
Muito! Eu diria que mais produtivo na quarentena do que antes. Porque, por exemplo, antes… eu sempre vou comentar sobre o Bruno porque a gente só trabalha junto. Eu não trabalho pra mais ninguém como produtora, ele trabalha com outros compositores, obviamente, mas eu trabalho só pra ele como produtora. Antes, ele tinha agenda de show, agenda “disso e daquilo”, era mais difícil de nos encontrarmos. Acontecia duas vezes por mês, aproveitávamos pra fazer música e era isso. Como na quarentena tudo foi cancelado, era de segunda à sexta, basicamente. Então, muita coisa saiu! Inclusive outros projetos que não são pra mim, outras possibilidades, conheci pessoas do meio [musical] que talvez não conheceria sem a quarentena, porque eles também tiveram agendas cancelas. Mas eu sou muito privilegiada, né? Eu posso… tô num ramo que posso sair da minha casa seguramente e ir pra um lugar seguro, com pessoas que confio. Se me sinto mal, não preciso ir. Se eu tô preocupada, não preciso ir. O estúdio é perto da minha casa, então tenho esse privilégio. Outras pessoas, obviamente, não têm. Outros músicos talvez não tenham. Eu fiz uma campanha pra UBC, que é pra músico acompanhante. Nenhum músico acompanhante tá trabalhando na quarentena, né? Não estão ganhando dinheiro. Mas, bola pra frente, vai acabar essa coisa logo se Deus quiser!
Eu reparei que você também se expressa muito pelo modo que se veste e se maquia. Quais são suas referências de estilo?
Cara… talvez eu me inspire em várias coisas. Eu tenho 27 anos, apesar de ter cara de mais nova. Minha geração não acompanha tanto redes sociais comparado a essa geração Z de agora. Eu sempre mudei meu cabelo… eu era emo, entendeu? Eu era muito emo! Escutava My Chemical Romance, Paramore, All Time Low. Eu vim de uma geração que queria pintar o cabelo, fazer coisas no cabelo. E, naquela época, eu não podia tanto por conta do contrato da Disney, tinha um “padrão Disney” a ser seguido. Quando eu saí da Disney, faz quatro anos já, parece que faz mais tempo, mas não é tanto assim… eu aproveitei para fazer tudo que pudesse no meu cabelo. Agora eu aderi à franjinha das e-girls, né? Eu tô acompanhando bastante essa tendência de e-girls. Voltou tudo que eu gostava dos anos 90, eu sou uma criança dos anos 90, né? Aí eu falei: “Quer saber? Vou fazer!”. E eu gosto de mudar ele constantemente. Antigamente, eu tinha uma mentalidade que, pra cada projeto, tinha que estar com um cabelo por um ano todo. Mas, depois que eu entrei no mundo do K-Pop, eu falei: “O quê? Eu posso mudar meu cabelo a cada dois meses sem nenhum problema? Ah não, agora vou mudar meu cabelo!”. E eu tive essa discussão com meu empresário. Ele falou: “Não, você precisa escolher um cabelo”. E então eu disse: “Não, eu posso fazer o que eu quiser. Se eu quiser pintar ele de azul amanhã, eu pinto”. Aí fui lá e mostrei pra ele e ele me deu razão. Mas, honestamente, minhas principais influências são internet, Tumblr, TikTok e bastante dessa cultura do K-Pop, de pintar cabelo e mudar constantemente.
O que você acha sobre essas redes sociais, principalmente TikTok? Como você vê isso na indústria da música?
Como o Instagram, o TikTok é criação de conteúdo, assim como o YouTube e outras plataformas. Eu, particularmente, não sou ainda muito engajada em criação no TikTok, só assisto mesmo. Mas o TikTok já era trendsetter nos EUA há muito tempo. E a música número 1 no mundo era “Dance Monkey”, depois “The Box”. Agora que, no Brasil, a gente tá vendo que o TikTok tá fazendo isso, indicando tendências musicais para os jovens. Mas o mundo é assim. Antigamente, era a música que o pessoal mais usava pra fazer edit no Instagram, aí essa música fazia sucesso. Qual era a música que a galera mais usava em edit de vídeo no YouTube? Aí fazia sucesso. A internet influencia qualquer indústria, não só da música. A música é uma das principais porque é entretenimento, uma coisa acompanha a outra. Mas, se não fosse a internet, a gente não assistiria às séries que assistimos. Eu, particularmente, gosto muito do TikTok. Porém, acho que é difícil infiltrar. “Quero usar da plataforma pra divulgar uma música”, você faz todo um trabalho e tal. Mas como você vai competir com uma Doja Cat? Não vai, entendeu? É um mercado muito difícil, você precisa entender onde se encaixar nesse meio. Eu conheci artistas, que são antigos, que eu nunca tinha ouvido por conta do TikTok. Of Mice & Men, que também é emo, minhas raízes nunca vão embora. Aí eu vi um dos meninos do TikTok fazendo um POV com uma música deles e virei fã dos caras. TikTok é essa que é a pegada: divulgação e entretenimento. Se bombar, tipo a “WAP”, você tá bem.
Curtiu nosso papo? Vai de “M.I.A.”:
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