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Entrevista: Konai fala sobre desafios do amor e lança clipe para “Bêbados Apaixonados”
Nesta sexta-feira (25) o cantor Konai lança o single “Bêbados Apaixonados”, uma faixa obscura e super honesta que trata sobre temas como a solidão e a complexidade das relações. Aliás, a sinceridade empregada na letra não é algo novo para o artista: aos 19 anos, ele já tem no currículo um elogiado álbum de estreia e uma sequência alucinada de singles de sucesso.
O clipe da vez chega com uma pegada cinemática pra mostrar Konai passeando por bares e ruas da cidade enquanto lida com as muitas versões de si mesmo. Mas, para o artista, o que é estar “bêbado de amor”, tal qual Beyoncé e Jay-Z? Você descobre lendo esta entrevista, feita no início da semana.
PAPELPOP – Você sente que algo específico inspirou a composição de “Bêbados Apaixonados”?
KONAI – “Bêbados Apaixonados” é uma música que escrevi quando passei um tempo na minha cidade pra espairecer. Tenho morado em São Paulo e precisava colocar as ideias no lugar. Estava produzindo e olhei pra cidade, quis criar uma atmosfera pra representar essa parada dos bêbados apaixonados, porque… considero que essas são duas coisas que entorpecem nossos sentidos, de certa forma. É como se esse bar fosse uma cidade, sabe? Cheia de pessoas entorpecidas por seja lá qual coisas e motivos. Esse entorpecimento pode significar que você está apaixonado, ou qualquer tipo de ilusão sobre nosso despreparo para a realidade. Coisas que a gente tem que fazer no cotidiano mas só não sabe exatamente o que está fazendo. Não tem um manual pra vida. É necessário se virar pra cada um, com individualidade e a noção de incapacidade, humildade e compreensão pra não se perder nesses caminhos. É uma música importante pra mim, por falar do fato de que só a gente pode se salvar. Saber a linha tênue do quanto necessito do outro e preciso não depender do outro. As coisas foram acontecendo. Minhas músicas sempre vêm como epifanias. Acontece algo e algum tempo depois, improvisando em algum beat, as coisas se desenrolam, de um jeito quase inconsciente. É uma pira. Escrevo ela tem um mês e pouco.
Você comentou sobre a importância de entender até onde dependências são saudáveis, né? Você percebe isso como uma espécie de padrão nas relações que tem?
Um dos problemas pelos quais passei é colocar o outro como centro da minha vida. De não conseguir fazer coisas caso não estivesse tudo certo entre a gente. E não tem a ver com a importância, é sobre o quanto você vai deixar as coisas na mão de outra pessoa, ou até deixar coisas que independem de sua capacidade ou incapacidade te afetarem. Passo muito pelo conflito de saber o quanto preciso me preocupar comigo mesmo, tipo “será que consigo salvar todo mundo mesmo?”. E não. Primeiro precisamos cuidar da gente pra depois abraçar outra vida perto da nossa.
E como tem sido cuidar de você mesmo enquanto mora sozinho em São Paulo, aos 19 anos?
Moro sozinho já tem um tempo, desde que comecei a me sustentar sozinho. Fui morar sozinho novos as responsabilidades foram jogadas em cima de mim em vários jeito e tentei de toda forma canalizar as minhas energias pra coisas que façam sentido pra mim. Quando você mora sozinho, é muito fácil se perder com distrações e coisas relacionadas a si mesmo. Às vezes isso te confunde porque você tem muito tempo pra pensar sobre as coisas. Estou passando por isso neste momento, em tentar achar meu eixo real de produtividade no meio da quarentena e estar só comigo. Mas tenho conseguido bem. Não costumo me forçar a fazer música, como é muito sobre criação e insights não necessariamente racionais, é uma epifania, um estalo. E a epifania é sobre as coisas que você faz pra se preparar pra aquele caminho, que vem sem perceber. Seu cérebro tende a caminhar pro caminho mais fácil de resolver as coisas. Velho, é um processo bem bizarro, mas estou tentando entender o que cada uma dessas coisas que sinto significa e o que posso fazer pra realmente alcançar minha completude.
Qual a importância de você produzir suas próprias músicas? Como você começou a fazer tudo sozinho?
Foi até engraçado, porque eu não tinha nem computador, mas meu irmão tinha daqueles netbooks, sabe? Aqueles notebooks pequenininhos, que eu pagava pra alugar dele. Baixei o FL Studio e comecei a produzir, fazer minhas músicas. Passei muitas e muitas madrugadas produzindo, tá ligado? Na época foi por necessidade, porque ouvia beats no YouTube prontos não iam ficar como eu queria que ficasse. E não tinha acesso a um produtor bom, então precisava fazer por mim mesmo. Depois que percebi o quanto isso foi crucial pra conseguir implantar minha identidade e conseguir fazer tudo que eu queria fazer, pra soar como eu queria. É por isso que as pessoas conseguiram se identificar, porque minha obra como um todo imprime meus sentimentos e coisas que passaram por minha cabeça em algum momento. Até as produções que fiz com outras pessoas, são com quem me conectei muito e eu acredito nelas. É uma mensagem muito bem alinhada.
Nisso de trabalhar sozinho e em casa, você sente que sua rotina criativa mudou muito com a quarentena?
Isso foi uma questão. Antes mesmo da quarentena, quando vim morar sozinho, já passava muito tempo no estúdio, que é basicamente na minha casa. Acordo, desço do meu quarto e vou pro estúdio. Minha vida é basicamente isso, passei por muitos processos da minha cabeça relacionados a isolamento, porque saí muito menos do que eu devia antes da quarentena. Passei muito tempo produzindo. Depois da quarentena tudo se agravou, porque é muito bizarro não poder sair, é diferente de não querer sair, né? No meu trampo, o processo não mudou tanto, mas é desesperador de jeitos bem diferentes, relacionado ao externo, porque nem parece de verdade.
E no meio de tantos processos minuciosos de fazer as próprias faixas, é tranquilo de se organizar?
Gosto muito de fazer minhas próprias coisas, porque posso exportar meu próprio áudio e já mando pro lançamento. Por isso gosto de mixar e masterizar sempre que posso, mas tenho trampado com outras pessoas pra isso. E tenho muita preguiça de, antes de enviar pra essas pessoas, separar faixa a faixa do projeto. Como meus projetos são muito bagunçados, isso vira um trampo absurdo pra mim. Leva um tempo, mas é necessário.
Desde seu primeiro single, “Te Vi Na Rua Ontem”, muita coisa mudou na sua realidade, certo? Seus sonhos ainda são os mesmos?
Não costumo idealizar tanto as coisas. O acaso é uma das coisas que desisti de tentar prever, porque isso já roubou muito tempo da minha consciência. E isso já me machucou muito, porque o mais temos são incertezas. Mas estou a todo momento esperando uma coisa nova acontecer. Tenho sonhos direcionados de formas diferentes. No começo, eu só queria viver de música. Então o João de 16 anos que começou a fazer música no quarto já está realizado, porque ele já vive de música. Parte dos meus planos, além da realização de tocar em grandes festivais e tal, tem a ver com usar desses sentimentos pras pessoas que tenham algo a aprender com esses caminhos, pra elas veem de alguma forma. Seja ativamente na música, ou projetos de ONG pra pessoas com problemas psicológicos, que é um plano que tenho pro futuro.
Recentemente, você tem sido bem aberto sobre a sua bissexualidade. Você considera importante falar sobre isso no pop hoje?
Querendo ou não, é um sentimento de medo do que as pessoas podiam pensar, mas é bem relacionado a alguma pessoa próxima. Mas quando falei numa live do Instagram que eu sou da comunidade LGBT, eu estava bêbado e não foi como pretendi falar aquilo, mas acabou saindo. De qualquer forma, o processo de saber que precisava falar foi o de lidar com o fato de ter falado. Eu não tinha conversado ainda com minha mãe, sabe? Ela me ligou porque os sites tinham publicado coisas. Esse processo de ter que falar, mas perceber que muita gente estava só me abraçando, foi mais importante que tudo. Essa sensação que tenho, de estar sendo abraçado por vocês, é a sensação que quero que vocês tenham pra se libertar de toda essa prisão que colocaram na sua cabeça em casa, sabe? Se você se identifica com as minhas dores, quero que você se identifique com não precisar ser quem você não quer ser. Você pode se voltar pra suas vontades e desejos sem ter medo disso, sabe? Isso só tem a ver com sua individualidade e ninguém pode falar se é errado. O sentimento de culpa sobre ser quem você é não devia existir. Foi um processo bem da hora pra mim.
Inclusive, uma pergunta dupla: o que você acha de quando te comparam à Billie Eilish? E você pode compartilhar alguns artistas que você tem ouvido e sente que vão te influenciar nessas próximas faixas?
Não me incomodo nunca! Acho a Billie Eilish uma artista genial. Até por todo o caminho que ela teve de vir do SoundCloud. Me inspiro em muita gente, como a Aurora, Kehlani, SZA… esse tipo de som, que é bem relacionado ao meu estilo.
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