Em uma das cenas clássicas do documentário “Part of Me” (2013), abrem-se as portas do camarim e Katy Perry se vê desolada. Às vésperas de mais um show da turnê “California Dreams“, desta vez em São Paulo, ela havia tido mais uma discussão com o então marido, o comediante Russell Brand. O casamento chegaria ao fim pouco tempo depois.
Assistir a isso hoje, no dia em que a cantora deu a luz à primeira filha e vive um momento florido da vida, mais parece uma lembrança desagradável. Mas o que chama a atenção é o fato de que na cena seguinte, quando Katy sobe ao palco, tudo muda.
A cortina que se abre conduz a popstar rumo a um mundo fantástico. A plateia, que espera ansiosa do outro lado, é a responsável pela imediata recuperação da artista. Quem pode ir à Chácara do Jockey, na Zona Oeste da capital, presenciou a catarse de uma mulher superpoderosa que vivia um auge sem igual.
Qual era o cenário? No centro da estrutura viam-se doces gigantescos. No alto, nuvens de algodão. Nas laterais, pirulitos gigantes. No corpo de Katy, para onde todos os holofotes se voltavam, adornos e figurinos repletos de plumas e paetês. Juntos, eles formavam um conjunto perfeito de entretenimento, como não se via há um bom tempo.
Esse sonho adolescente, literal e espalhafatoso, era mais do que parte do nascimento de uma nova geração da música pop, que coroava àquela altura jovens como Lady Gaga, Kesha e Miley Cyrus. Era também a materialização de uma narrativa bem amarrada a partir do disco “Teenage Dream”, um dos mais bem sucedidos da última década.
“O segundo disco é muito importante para mim, porque acredito que ele vai mostrar se tenho vocação pra isso ou apenas fui sortuda”, disse ela em meados de 2009 à revista Rolling Stone. À época, ela se preparava para entrar em estúdio. Verdade seja dita: embora tenha feito muito barulho entre o público infanto-juvenil, chegando a vender 19 milhões de cópias físicas mundialmente, o projeto não agradou muito.
Na plataforma Metacritic, que reúne notas e resenhas musicais, a média final das 19 resenhas publicadas ficou em 52 pontos, num total de 100. Jornalistas como Leah Greenblatt, da Entertainment Weekly, escreveram que o segundo LP da artista parecia “bionicamente projetado para fazer dela uma garota perfeita para todas as temporadas da Billboard”.
De fato. A produção de Dr. Luke, um dos profissionais mais requisitados da música americana antes de uma série de denúncias de abuso sexual recebidas em 2017, ajudou e muito na hora de emplacar as faixas nas paradas. Em sua maioria, os hits se encaixam como uma luva nas ondas do rádio com suas letras grudentas e beats deliciosamente incisivos.
Mas mais do que uma intenção pretensiosa de se apoiar em algorítimos, Katy queria mostrar uma performance exemplar na função de criadora. A partir desse mundo de utopia, jovens de todas as idades se derreteriam ao som dos 6 singles do projeto, que a certa altura estacionaram no Top 40 da Billboard ficando ali por 3 anos ininterruptos.
Um recorde semelhante só havia sido conquistado pelo rei do pop, Michael Jackson, quando em 1987 chegou às lojas o LP “Bad”.
No texto de apresentação ela escreve:
Dali em diante, para que o visual de perucas multicoloridas fosse copiado à exaustão, seria necessário apenas algumas aparições.
Hoje há quem tenha mudado de opinião, afinal “Teenage Dream” não pode ser tratado como um álbum fútil simplesmente por se apoiar em um universo de sonho. Pelo contrário: do início ao fim o disco segue uma curva ascendente, subindo e baixando a guarda ao falar de sentimentos. As faixas, todas autorais, simbolizam na primeira parte uma explosão de liberdade.
Ao som de canções como “California Gurls”, “Last Friday Night” e “Peacock”, por exemplo, o ouvinte é convidado a aloprar geral em uma grande festa dada em casa. Já com a misteriosa e agressiva de “E.T.”, vai-se ainda mais longe. É possível imaginar um encontro com aliens.
A faixa-título, mais neutra, versa sobre a plenitude dos romances adolescentes. Você se lembra como é sentir borboletas no estômago? Katy dá o caminho.
Há também momentos raivosos como a ótima “Circle The Drain”, um breve momento de expurgo. Mas cá entre nós? Um disco de pop que se preze também precisa dar um respiro e é aí que entram as baladas, fundamentais para o equilíbrio.
Permitindo-se encontrar um lugar de vulnerabilidade, ela baixa a guarda e abre o próprio coração. Como bem pontuou a repórter do USA Today, Elysa Gardner, ao falar de “Pearl” e “Not Like the Movies”, Perry mostra ser “alguém que tem muito mais a oferecer do que uma piscada de olho e chamar a atenção”.
A longevidade foi pouco a pouco sendo galgada até que chegou uma reedição, lançada dois anos depois. Dessa doce colheita surgiram “Part of Me” e “Wide Awake”, concorrentes igualmente fortes nas listas de mais tocadas.
O grande mérito, entretanto, está nas mãos de “Firework”. A gente sabe como esse single tocou à exaustão em todas as baladas possíveis do mundo e você talvez torça o nariz ao se lembrar disso. Não importa. Nem todo mundo consegue segurar notas tão altas e cantar com verdade um encontro necessário consigo mesma tal qual a artista faz aqui.
Se “Teenage Dream” tem hoje um legado, este talvez seja o de um grande disco pop que merece ser ouvido sem julgamentos – tal qual um adolescente, que experienciando sensações precisa de um voto de confiança pra viver o seu momento.
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