A Companhia das Letras anunciou no fim da manhã desta sexta-feira (17) a publicação da obra de Carolina Maria de Jesus, célebre autora brasileira e um dos maiores símbolos da literatura negra. A iniciativa, de acordo com a própria editora, contará com diversos títulos, entre eles escritos memorialísticos, romances, poesia, música, teatro e narrativas curtas.
Em nota, a Companhia disse que a decisão de resgatar a obra de Carolina Maria foi tomada graças a um desejo de restituir a voz autêntica da autora, trazendo ao público seu projeto literário completo. A editora também explicou que a atitude é um passo no processo de reparação.
Quando se lançou como escritora, a autora de “Quarto de Despejo” foi vítima de incontáveis situações de preconceito nos círculos literários, episódios que a Companhia descreveu como “fruto de um racismo estrutural que lhe negava a presença nesses lugares”.
Foi informado ainda que os lançamentos serão feitos com base no resgate de cadernos originais, espalhados por diversos acervos do Brasil. A supervisão e curadoria dos conteúdos, entre eles alguns inéditos, ficará a cargo de um editorial composto por Vera Eunice de Jesus, filha de Carolina, bem como pela escritora Conceição Evaristo. As pesquisadoras Amanda Crispim, Fernanda Felisberto e Raffaela Fernandez também participam.
A Companhia assegura que as datas de publicação serão divulgadas em breve.
Nascida em Minas Gerais em 1914, Carolina Maria de Jesus é uma das primeiras autoras negras a serem publicadas no Brasil. Vítima da fome e da desigualdade social, ela relatou em cadernos a vida dura que teve desde a infância, vivida em uma favela onde catava papel.
Reconhecida internacionalmente, a autora fez de sua obra um forte instrumento de denúncia social, que confrontam diretamente a elitização da literatura e a norma padrão culta da língua portuguesa. Os livros de Carolina Maria de Jesus, entre eles “Quarto de Despejo” (1960), “Casa de Alvenaria” (1961), “Pedaços de Fome” (1963) e “Provérbios” (1965), chegaram a ser traduzidos para 14 idiomas.
Vivendo em um sítuo em Parelheiros, zona sul do Município de São Paulo, a escritora faleceu em 13 de fevereiro de 1977, aos 63 anos, completamente esquecida pelo mercado editorial.
*Imagem meramente ilustrativa
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