Nesta segunda (13), o cantor Guigo lança a capa do segundo álbum de estúdio, “Lúcifer: O Evangelho Segundo Meus Demônios”. O artista, que ganhou fãs e visibilidade em 2018 ao fazer parte do grupo Quebrada Queer, deve mostrar novas facetas neste novo trabalho.
A começar pelo visual, quase “pós-humano”, fazendo referência às obras de Madonna e Marilyn Manson. “Acho que a gente precisa ousar e fazer diferente”, diz Guigo. O projeto estreia em 07 de agosto em todas as plataformas digitais.
De sua casa em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, o artista falou com o Papelpop. Nesta conversa ele revelou detalhes da produção do disco e falou sobre o que o inspira. Além disso, também comentou as colaborações presentes no trabalho, entre elas as drag queens Aja (da nona temporada de RuPaul‘s Drag Race), Kaya Conky e Frimes.
Papelpop: Qual é a sensação de finalizar um disco novo?
Guigo: É uma luta pra conseguir fazer, porque a gente passa 90% do tempo lutando pra conseguir escrever, depois pra conseguir grana pra gravar, depois criar os conteúdos e divulgar esse trabalho… Finalizei o álbum no finalzinho de maio, estava só esperando as mixagens e masterizações. Mas aí… quando você termina de fazer um trabalho, você fica muito viciado na sua sonoridade, aí uma hora enjoa do que fez e começa a buscar referências parecidos com o que criou. Eu estava nessa onda. E aí eu estava ouvindo umas coisas meio eletrônicas e uns pops mais underground e, do nada, me deparei com a Frimes, que é uma maravilhosa do Maranhão. A gente é da mesma cidade. Me apaixonei e mandei um tweet falando que ela era incrível. Nem sonhava que ela ia ver, mas me mandou uma mensagem dizendo que queria muito fazer uma música junto. Aí tive que correr pro estúdio esses dias pra dar um jeito de gravar. Saiu do cronograma, mas amei a música e agora tem que estar no álbum!
Que massa! No fim, a quantas faixas o trabalho chegou?
São oito. Dentro dessas faixas, temos três feats. Esse com a Frimes e outra música com a Aja e Kaya Conky. Algumas músicas, acabei tirando do álbum por sentir que não combinavam tanto com o que estávamos fazendo, então estamos pensando até numa versão deluxe. Porque a galera já conhece essas músicas, então daqui alguns meses, talvez eu libere. As músicas do disco foram produzidas pelo S4TAN, que é um produtor muito incrível, que faz as músicas das meninas, Danny Bond e Kaya, por exemplo.
E como foi chegar na Aja? Vocês já se conheciam?
Então, menino! Foi muito doido, porque alguém mandou meu trabalho pra ela, aí ela me seguiu e fiquei tipo “MENTIRA?” Hahaha e foi bem na época que estávamos fazendo essa faixa nova com a Kaya. Então mandei uma mensagem pra Aja, tipo “mulher, sou apaixonado por você!” e ela respondeu perguntando se eu queria fazer algo junto. Ela amou a faixa quando mandei. Só que veio a pandemia, pra acabar com a vida das gatas. Ela demorou pra gravar, porque não encontrava nenhum estúdio lá fora que estivesse disponível. E ela foi muito fofa, falou tipo “vou comprar os equipamentos aqui, vou me virar e gravar de casa”. Aí deu tudo certo e a faixa ficou bem linda!
Você sente que o disco tem um tema em comum?
Esse álbum, na real, é um reflexo das coisas que vivi nos dois últimos anos. Junto com mais visibilidade, vieram muitas coisas difíceis. Sempre fui conhecido por ser meio estranho, por conta das lentes e gostar de cutucar coisas que as pessoas não gostam de cutucar, falar de religião… Nos últimos dois anos, levei muita paulada. De todos os lados. Coisas tipo ir fazer uma publicidade pra uma marca com o Quebrada Queer e, na hora de apresentar a gente pros sócios, tinha a foto de todo mundo, menos a minha. Única e exclusivamente por não ser a estética convencional, que vende. Ao mesmo tempo que reconhecem o que faço e entendem a causa, levei muitas chineladas. Chegou um momento no qual ouvi muito falar sobre mim de forma negativa, tipo “ah não precisava ser assim”. E fiquei muito pensando, “será que sou tão demônio assim?”, aí eu estava lendo uma dessas fanfics que a galera escreve aos poucos na internet. Ela chamava “O Evangelho Segundo Lúcifer”, aí fiquei “é bem isso”. Já fui muito demonizado por falar sobre o que as pessoas não querem ouvir. E pensei em aproveitar toda essa raiva e, ao invés de liberar o ódio e me tornar amargo, vou fazer uma limonada disso. Comecei a estudar muito sobre a história de Lúcifer, do nome, da simbologia… porque até na Bíblia tem muita contradição sobre isso. Gosto muito de traçar paralelos nos meus projetos. Ninguém é 100% bonzinho ou 100% ruim. E o álbum fala sobre isso, esse trajeto dos últimos dois anos. Em “Cadeado”, que é uma música bem fofinha, a gente está falando sobre relacionamentos abusivos, até quando a gente é abusivo e não percebe. A música-título é basicamente sobre ser mal visto por ser quem é.
Pra este lançamento, você tem dito que grandes inspirações têm sido Madonna, Prince e Marilyn Manson. Como você sente que eles mais inspiram?
Essas três referências são pra minha vida, não só pro álbum. Elas se estendem a como me enxergo, como sou artista, o que é arte pra mim… essas pessoas me ensinaram a fazer o que faço. Prince, pra mim, sempre foi uma referência visual questionadora, porque além de ele ser um gênio da música, brincava com a imagem, o masculino e o feminino. A bunda marcando na calça e ser sexy com a blusa cheia de babados. Marilyn Manson sempre esteve presente no que faço por conta da estranheza, que gosto muito. Ele consegue fazer o estranho ser pop. Todo mundo sabe quem ele é, por mais que ele faça um rock pesado. Ele quebra a barreira dos som, transformando tudo num pop e joga na mesa de quem consome a Britney Spears. E a Madona… por tudo. Além da sonoridade, acho que por ser ela. Em alguns momentos, eu sempre penso “o que a Madonna faria agora”, sabe? Porque ela já passou por tudo. Já a demonizaram e ela está lá, dizendo “Bitch, I’m Madonna”. Na sonoridade, queria muito trazer algo pra esse álbum diferente do que estamos acostumados. O que eu sinto, e talvez eu esteja errado, é que a gente já estabeleceu o que é pop no País. A gente tem artistas muito bons fazendo coisas bem populares. Tranquilo. Mas a gente não pode deixar que essa preciosidade que temos comece a virar um pop engessado, só aquela caixa. O cenário independente, sobretudo, sempre foi fonte inesgotável de referência pro mainstream. A galera que está lá em cima olhava com lupa pro underground, transformando depois em linguagem de massa. O que sinto é que, no Brasil, o underground está começando a ser um subproduto do pop. Todo mundo soa muito parecido com a gata lá de cima. E acho que a gente precisa ousar e fazer diferente. O pop precisa ser só reggaeton com algum instrumento do Nordeste pra ser música pop brasileira? É aí onde entram essas referências, porque eles são populares por fazer coisas extremamente diferentes e pop. É isso que queria fazer com esse álbum. Assim, se vocês estão acostumados a uma capa de álbum com a bunda da gata, maravilhoso. Mas outras coisas também podem ser pop.
O novo disco de Guigo, “Lúcifer: O Evangelho Segundo Meus Demônios”, estreia no próximo dia 07 de agosto. Enquanto a hora não chega, não deixe de acompanhar o artista nas redes sociais!
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