Lá em 2010, um garoto de 12 anos chamou a atenção de muita gente (tipo, milhões de pessoas) na internet fazendo um cover de “Paparazzi”, da Lady Gaga. Greyson Chance era esse garoto. Com uma voz forte e habilidades bem treinadas no piano, o jovem artista – aproveitando o momento de ouro da internet em descobrir novos talentos -, logo foi ao estrelato: assinando um contrato dois selos musicais: Eleveneleven, da apresentadora Ellen DeGeneres, e também o Maverick, fundado por Madonna.
Dez anos se passaram. Greyson hoje é um jovem gay artista que acredita no poder da verdade e da vulnerabilidade. Em 2019, o cantor lançou seu segundo disco, “Portraits”, que chamou a atenção de um novo público, talvez daqueles que também cresceram nos anos 2000 e ouvindo às canções de Lady Gaga. Greyson tem sido considerado um dos artistas mais notórios da cena pop LGBT, o levando inclusive à trilha sonora da série “Love, Victor”, um drama adolescente super fofo ainda não lançado no Brasil. Fora do país, a série tem sido um sucesso na plataforma Hulu, sendo um spin off do longa “Love, Simon”, de 2018.
Greyson também lançou, em maio, o primeiro single de seu futuro álbum, ainda sem título e data de lançamento revelados. A faixa se chama “Honeysuckle”, que nos apresenta sons que transitam entre o sintético e o orgânico, cheio de harmonias e uma batida super levinha e cativante:
O Papelpop bateu um papo com Greyson Chance por telefone, no qual ele nos contou mais sobre o que podemos esperar de seu disco novo, animação pra vir logo ao Brasil e, claro, a faixa preferida dele de “Chromatica”! Vem ler:
PAPELPOP: Honeysuckle é uma faixa incrível! Como tem sido escrever e gravar ela e as novas do disco que está por vir?
GREYSON: Tem sido uma experiência no mínimo interessante. No ano passado, eu estive em turnê e fiz muitos shows, foram 109 apresentações em 2019. E fiquei muito acostumado a esse lifestyle meio caótico, vivendo no avião e viajando todo dia. Aí corta pra este ano, no qual por causa da pandemia, tenho ficado em casa, em Oklahoma (EUA), encontrando a mim mesmo. Terminando esse próximo álbum num lugar de isolamento. Isso meio que tem refletido, porque fico aqui sozinho. Então, em muitas maneiras, o disco vai ser algo bem mais introspectivo do que meu último álbum foi. O trabalho tem uma sensação bem pessoal pra mim, muito honesto e estou animado pra compartilhar com o mundo quando for a hora certa.
E você sente que as narrativas do disco têm uma história em comum?
Muito! Tipo, quando lancei “Portraits”, meu último disco, eu ficava dizendo que as pessoas deviam ouvi-lo pra saber como 2018 foi pra mim e o que aconteceu naquele ano. E sinto que este novo é a mesma coisa, então a turnê me inspirou muito. É quase como um olhar ao espelho pra mim. É sobre confortar alguns problemas e meus demônios através da música. Porque você aprende muito sobre si mesmo sozinho num quarto de hotel de noite, depois do seu quinto show seguido e você está exausto e incerto sobre o quão bem está. Muita coisa surge nesses momentos e escrevi muito sobre isso para este novo álbum.
Nesse processo de ler sua realidade através das coisas que escreve, como é sua rotina de escrita? Você é daquelas pessoas que andam sempre com um caderninho?
Sim, estou sempre criando música na minha cabeça. E escrevo tudo fisicamente, no papel, todas as minhas letras. Não uso muito o computador. Estou sempre escrevendo coisas que parecem interessantes pra mim, tipo, falando com amigos, aí alguém diz algo e me dá uma fagulha e escrevo. Pra mim, como compositor, o que mais me inspira é contar histórias. É minha coisa preferida na composição. Minhas inspirações como alguém que escreve sempre foram artistas que foram tão… honestos e meio vulneráveis no trabalho deles. Me perguntam a todo momento se é assustador ser vulnerável no que faço. E não acho. Acredito que é tão libertador, de certa forma, porque me ajuda a seguir com minha vida. Eu não saberia como viver sem escrever música. Uso a música como meu refúgio. E acho que os fãs entendem e isso, então eles têm uma relação muito boa com a música.
Começando tão jovem, foi difícil escrever canções que são tanto sobre você? Ainda é?
Acho que antes sentia que sim. Não sinto mais, porque tem muitos capítulos diferentes da minha vida. Tenho 22 anos agora, mas assinei com a gravadora Interscope quando eu tinha 12 anos. Então tenho feito isso há dez anos. Muitos desses capítulos aconteceram durante minha adolescência. Eu não tinha muita liberdade criativa. A gravadora me falava o que eu devia falar e me entregava a canção e a foto. E acho que fiquei mal acostumado com isso. Fui ficando mais velho e esperando que as pessoas fizessem mais por mim. Só percebi isso quando fui pra faculdade, de que tudo precisa estar comigo. Eu sou quem precisa estar à frente de todas as partes da minha carreira. E foi nesse momento que também escolhi ser honesto vulnerável no meu trabalho, porque parecia o único jeito possível de eu voltar à música. Dizer “oi, isso foi tudo muito louco, mas faz oito anos e muita coisa aconteceu, então vou apresentar quem sou agora num disco que mostra isso”.
Você pode compartilhar com a gente alguns heróis que tem te inspirado nos sons e letras que você tem criado?
Acho que minhas maiores inspirações pra este disco são algumas pessoas. A primeira é com quem tenho feito o disco, Teddy Geiger (Christina Aguilera, Pink e Shawn Mendez). Tenho sido inspirado pela carreira e história dela, como a confiança sendo uma mulher trans e tudo pelo que ela já passou. Nos momentos em que estamos juntos, estou sempre inspirado por ela, porque realmente sinto que nossas histórias estão ligadas de um jeito meio peculiar e único. Então ela tem sido uma grande inspiração. Outra pessoa é o Mike Hadreas, o Perfume Genius. Ele tem sido uma obsessão na minha mente. Tenho ouvido muita música country antiga também. Não sei bem por quê. Não estou fazendo um disco de country! Mas umas antigas da Dolly Parton, ou Johnny Cash… e eu diria que, tematicamente, estou muito inspirado pela Christine and The Queens. A habilidade dela de transcender no palco.
Essas referências são incríveis! A Lady Gaga foi não só um marco pra sua vida, mas também pra sua geração, certo? E pergunta dupla: qual sua faixa preferida do “Chromatica”? Hahaha
Hahaha incrível! Bom, vou começar dizendo que a Gaga tem sido não só uma inspiração pra mim, mas realmente uma mentora pra mim nestes dez anos. Ela sempre esteve lá me apoiando e guiando pelos meus momentos mais profundos e complicados na música. Na verdade, ontem mesmo enviei uma música pra ela, do meu novo disco, e foi muito legal poder falar com ela sobre isso. Ela sempre foi uma grande aliada. Entre os artistas, ela é a melhor. Ela entende que é uma oportunidade enorme ser uma artista e ir ao palco, pegar o microfone e contar uma história. Isso é algo que tenho aplicar à minha música, desde o começo e especialmente agora, neste momento da minha carreira. E ainda tenho observado tudo que eu faz, especialmente como ela tem se reinventado. E acho que meu momento preferido do “Chromatica” é a transição de “Chromatica II” para “911” e “Babylon”!
Gostaria muito de saber sobre sua relação com o Brasil! Você pretende vir pra cá assim que for seguro?
Temos planos de ir ao Brasil no inverno (do Hemisfério Sul) de 2021 e tenho estado muito ansioso pra ir aí! Sei que a gente tem uma base de fãs incrível aí, com um apoio fantástico. Faz muito tempo que quero visitar o país. Então espero muito que o mundo esteja curado e tudo melhor nessa época, então se tudo der certo, a gente se vê no Brasil em 2021.
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