A cantora Wanessa comemora neste ano de 2020 duas décadas de carreira. Ao longo desse tempo ela passeou por diversos sons, empregou temas múltiplos e colecionou parcerias. No mês de maio ela deu início ao lançamento de um ambicioso projeto chamado “Uni/verso”, que tem como objetivo celebrar o feito. O trabalho será lançamento em fragmentos, sendo a primeira delas um EP de três faixas inéditas.
Entre elas está “Inquebrável”, uma parceria com a mexicana María León.
O clipe, gravado durante o isolamento social, faz parte do material que abre a nova era, que conta com um forte apelo audiovisual. O Papelpop quis saber um pouco mais sobre o processo e bateu um papo com Wanessa por telefone. Ela falou sobre os planos que faz para esse momento de celebração da própria arte.
PAPELPOP: Estava aqui pensando sobre como atualmente todo mundo está meio igual você e a Bambam no clipe de “Sticky Dough”, falando por FaceTime só, né?
WANESSA: Ah, é o jeito de compensar o contato que não acontece físico. É verdade!
Como tem sido este momento de distanciamento social pra você, especialmente entre trabalho e família?
Estou em casa desde 7 de março. Não esqueço, porque foi quando a escola [do filho de seis anos, João Francisco] falou que não ia ter aula e a gente ficou tudo gripado. Aí ficamos de quarentena desde então. Temos feito muitos pedidos de telefone pra muita coisa, sabe? Saindo o mínimo possível. Saí pra fazer a live, né? Mas a gente tem saído de forma muito pontual, com todo cuidado do mundo, luvas e máscaras. Eu comecei a fazer mais vídeos, mais conteúdo, mais reuniões… aí fico pensando “por que a gente tinha que se encontrar tanto pessoalmente?”, a gente pode ficar mais em casa. Está super funcionando essas reuniões online com a equipe. Neste lançamento, a gente não tinha como gravar nenhum clipe com a produtora e bailarinas. Aí adaptei todo o projeto e foram surgindo mais coisas. Virando uma outra ideia. Quando tudo isso aconteceu, me surgiu a ideia de fazer fragmentos em comemoração aos 20 anos de carreira. Os fragmentos são conteúdos que incluem músicas novas, releituras de outras já gravadas, poesias, live… conteúdo de comemoração. Tanto inéditos quanto revisitados. Esses fragmentos são parte de um todo, que são os vinte anos de carreira. É o meu universo. Se você pegar a palavra “universo” em física quântica, você pega a palavra “uni” e o “verso” separado. Os versos de um, versões de um todo. Essas versões somos nós. Sou um universo. Você é um universo.
As músicas deste primeiro EP do projeto, “Fragmentos Pt I”, já foram gravadas durante a quarentena?
Essas eu já tinha gravado e estavam prontas pra lançar em maio. Faltava filmar os clipes, mas eles vieram a partir desse novo olhar. Serão vinte fragmentos, este é o primeiro, com três músicas. “Inquebrável” é a cabeça, uma parceria minha coma María León, uma cantora mexicana por quem me apaixonei, viramos grandes amigas. Ela lançou uma versão bem bate cabelo e sugeri uma nova edição, que ela adorou. Aí percebemos não ser a melhor ideia esperar tudo voltar para poder trazê-la pra cá e gravar. Essa música tem uma mensagem tão positiva de olhar pra dentro. E acho que todo mundo tem feito isso. Ouvir a si mesmo. Fizemos um clipe caseiro, ela na casa dela e eu aqui. Demos play na câmera e editamos. Ficou bem bonitinha. “Incapaz” foi escrita com meu pai [Zezé Di Camargo] e Liah Soares, uma música muito solar, pra cima, de um amor que dá certo. Provoca paz e boas sensações, com uma pegada mais folk. Bem pra namorar. “Nem Ela, Nem Eu”, é uma sofrência empoderada, meio country velha guarda. Com uma letra sobre uma mulher enganada por um cara e, ao invés de falar alguma coisa indo contra a outra mulher, elas se unem nesse sofrimento. Elas não vão competir. É uma forma diferente de colocar essa referência, que achei muito inteligente.
É corajoso criar um projeto tão grande e permitir que o contexto modifique ele, né? Pensando sobre coragem, tem algum momento que te parece um marco até hoje na sua carreira?
Vixe… acho que quando resolvi fazer o álbum todo em inglês foi um risco muito grande, de onde eu estava e pra onde eu ia.
Era uma coisa que não faziam por aqui, né?
Tinha poucos artistas que tinham feito isso. Não tinha grandes exemplos de gente que tinha dado certo. Mas acho que fomos muito felizes com a música “Fly”, com o JaRule, que veio e abraçou. Foi uma força grande pro projeto. E aí veio o VMB. Foi muito especial, mostrando um lado mais eletrônico, que é um outro universo meu. E vai estar nestes fragmentos, pra poder celebrar quem eu sou, minha música e meu trabalho com gratidão. Cada partezinha do meu ser.
E nessa mudança pro inglês, entrando nessa cena do pop onde as divas são cobradas por faixas e clipes icônicos, você sentiu muita pressão do público?
Eu já senti. Já estive nesse lugar, mas realmente não estou mais. Quando você começa a entender que nada que é externo é real, você pode modificar tudo que quiser. Se você começa a perceber que o olhar e expectativa do outro tem poder sobre você, você tem que perguntar “porque estou carregando o peso que não é meu?”. A única cobrança que eu tenho é estar consciente na minha vida hoje. Viver no presente. E fazer da minha existência algo muito incrível. Essas são minhas responsabilidades. A partir disso, vou dar o melhor de mim e fazer muito mais pelo outro. Tudo é ilusão. Tudo ego. Só existe o agora. É minha responsabilidade, porque me propus a isso de ser cantora, mas pode ser outro trabalho daqui a um tempo. Não sei, está em aberto.
Além de uma artista que está presente, tem alguma forma de definir como você tem desejado que as pessoas te vejam nesta fase?
Não, porque é expectativa, entendeu? Quero me ver. Se você for entrar em expectativa de como o outro tem que te ver… você vai sofrer e não é pouco não. E não quero estar nesse lugar. Trabalho o meu olhar comigo, do amor próprio, todos os dias. É o olhar que é eu sou parte de um todo, sou o próprio universo, eu sou divina, eu sou criação divina, sou amor… é isso que eu sou. O resto é tudo ego. E minha grande questão tem sido cada vez mais ser minha essência. Que quando eu tiver esse amor e consciência, não tem como eu não olhar pra você do mesmo jeito. É um pouco viagem, eu sei! Hahaha está sendo muito libertador e quero que as pessoas entrem nessa viagem comigo. Por isso que continuo fazendo música. A gente é só uma tela em branco. Quando você é mãe, você tem essa percepção mais clara ainda. O quanto essa tela vai sendo pintada pelo entorno. E como ele pode achar que aquela pintura que fizeram é ele. Nossa missão é se libertar dessa pintura que fizeram.
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Ouça “Fragmentos, Pt I” aqui:
https://open.spotify.com/album/3HccIra4Wk4AzMziJdKXSh?si=C2biqTCJS2eH94IifpCsiQ
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