Uma das figuras mais importantes da arte brasileira, Fernanda Montenegro concedeu uma entrevista ao Canal Brasil no último fim de semana. A atriz, considerada a grande dama dama da TV e do teatro nacionais, falou brevemente sobre as dificuldades enfrentadas durante o período da pandemia.
Isolada ao lado da família no interior do Rio de Janeiro, Fernanda disse que também tem vivido dias de luta consigo mesma, tentando manter o equilíbrio. Trazendo os impactos do coronavírus do contexto pessoal para o âmbito público, a atriz se disse grata pela condição social que tem, que a permite viver em pleno isolamento social. Por outro lado, lamentou o fato de que essa realidade só se estende a uma pequena parcela da população.
Chamando a atenção para os mais necessitados, ela falou em esperança, mas sem deixar de mencionar momentos é tomada por sentimentos como culpa e angústia.
“[Sobre a pandemia] A cada dia vem a resposta de que será mais um mês, outro mês, outro mês… está aparecendo uma vacina lá pra setembro, outubro, ouvi dizer aqui no alto de Petrópolis. Estamos tentando cada um de nós, cada um a seu modo, criar um diálogo por meio de trechos, poemas… Enfim, a gente tem que começar a produzir nesse sistema terrível, trágico, no qual estamos vivendo. Mas também há um sentimento de culpa porquê alguns de nós, por exemplo, como eu, estão aqui numa casa que se comprou há não sei quantos anos e que a gente vinha aqui de vez em quando. De repente, esta passa a ser a casa da gente e não tem saída. Graças a Deus temos essa casa, mas se sente culpa porque a maioria não tem. O vírus veio aí como um castigo celeste, é difícil falar sem se envolver do ponto de vista social, humano. Temos que esperar passar isso, é como se fosse um dilúvio. Essa barca deve chegar a algum lugar, e que chegue com um pouco mais de justiça social”.
A atriz comentou ainda a importância das artes na formação e estruturação de uma sociedade, independente dos desafios impostos pelos desafios de saúde que enfrentamos neste momento.
“O artista nunca perde importância numa sociedade. Não existe uma sociedade real sem artistas. A cultura das artes é fundamental, sem ela não tem país, não tem assinatura de país. É só uma fronteira idiota no espaço. O que faz o caráter de um povo é sua arte. Não existe nada, saneamento básico, educação, saúde… É a partir da sensibilização das artes que vemos o outro. Estamos vivendo uma hora muito baratinada.”
Por fim, Fernanda foi questionada sobre o passado, quando ainda jovem viu o desenrolar da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Resgatando sentimentos do pós-guerra, ela deu um conselho valioso sobre o que fazer diante da crise. O essencial, nas palavras dela, é não se manter de braços cruzados.
“Quando a guerra acabou tínhamos uma adolescência pela frente, tínhamos uma esperança carnificada. Depois de tantos mortos, tantos monstros, tínhamos que fazer uma vida de comunhão. Eu tive uma adolescência esplendorosa, de tanta crença no futuro… (…) Não podemos nos sentar. Tem que ser uma esperança ativa, somos vocacionados, não sabemos como resolver isso a não ser indo à luta. Então, o que for, de que maneira for, buscando a linguagem que for… não podemos nos sentar, temos que ativar isso. Essa tragédia vai passar, estamos vivendo diversos vírus”.
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