Sub Urban é um dos novos nomes da cena pop, especialmente pra quem gosta de um som mais sombrio, como o de Billie Eilish e a Melanie Martinez. Aos 20 anos, o artista (nascido Daniel Maisonneuve), tem milhões de ouvintes em plataformas como o Spotify e seu maior hit cresceu no TikTok: entre diversos vídeos de dança na rede, a faixa “Cradles” foi ganhando espaço e levou o nome do artista a uma visibilidade gigante.
O visual do videoclipe, que também tem sido um grande sucesso no próprio YouTube, reflete bem o som de Sub Urban: transitando entre o surrealismo e um mundo retrô meio macabro, fazendo até referências a Twin Peaks, icônica série de suspense dos anos 90, de David Lynch. “Gosto desse tipo de dissonância nos sons”, compartilha o artista ao Papelpop numa entrevista por telefone.
PAPELPOP – Muito bom ver alguém tão novo que tem visões claras sobre o próprio trabalho. Pra você, qual a importância de estar tão envolvido na produção de suas músicas e vídeos?
SUB URBAN – Pra mim, com certeza é ter controle sobre todo os aspectos de uma música, se não, não consigo a considerar completamente uma música minha. Acredito que sou o melhor produtor pra fazer algo meu. Sei que isso parece óbvio, mas sei como fazer sons em todos os gêneros e sei do fundo do meu coração que faço isso melhor do que toda e qualquer outra pessoa que já conheci. Ou que minha gravadora… [a frase não termina] Desde que me mudei pra Los Angeles, participei de sessões com outros músicos e sempre senti que eu era tão capaz quanto eles, então qual o propósito de dar a eles parte de uma faixa se eu posso fazer sozinho? Em se tratando de composição, isso é diferente. Às vezes as pessoas trazem ideias frescas. A única coisa na qual eu falho é tocar violão. Eu posso compor nele se eu tiver o VST (instrumento em software). A não ser que seja algo muito orgânico, que não dê pra ser feito em sintetizador. Mas batidas e baixo, tenho certeza que posso fazer tudo. Tenho controle sobre a composição, claro. E sobre as letras, sempre me senti muito desconfortável se alguém as escrevesse. E não consigo compor se tiver mais alguém no mesmo ambiente. Gosto que o aspecto poético das canções seja bem vulnerável e intimista. E escrever com outra pessoa sacrificaria essa parte de mim.
Sobre começar a produzir suas músicas, foi uma escolha fazer sozinho – poder contar suas histórias exatamente como na sua mente -, ou foi também pelo contexto de talvez ainda não ter mais gente que pudesse ajudar?
Eu queria ser um produtor. Eu não cantava nas minhas canções no início. Eu queria que esse fosse um projeto de DJ quando eu tinha uns 15 anos. Eu fui muito influenciado pela música eletrônica. Sempre achei que era a melhor produção entre qualquer outro gênero, especialmente no mundo mainstream. Tinha muita coisa que me interessava mais sobre o design desse tipo de som, do que o pop baseado na voz. Foi só quando eu tinha uns 16 ou 17 que comecei a experimentar a cantar e escrever letras para as minhas músicas. No início, era bem ruim, mesmo que eu fosse bom em escrever coisas na escola. E eu desisti da escola, mas eu usei isso ao meu favor. Sempre foi um projeto de produção, então quando eu comecei o Sub Urban, eu pensei que eu poderia fazer algo descolado disso tudo, ou que fosse mais sensível e vulnerável. E foi aí que percebi que precisava ser minha própria voz. Se fosse com a voz de outra pessoa, não seria sincero.
Você comentou que sua gravadora já tentou o fazer trabalhar com outros artistas. Você vê isso como uma forma de controle? Qual a melhor e a pior parte de estar na indústria da música numa idade tão jovem?
Honestamente, meu trabalho com a Warner até agora não teve nenhum grande obstáculo. Tenho me divertido muito trabalhando com uma gravadora grande. É muito melhor do que qualquer uma das gravadoras independentes com as quais já trabalhei antes, especialmente no ramo eletrônico, que é bem tóxico. Eu gosto de escrever refrões pop. É o que acho mais gostoso de ouvir, então mesmo que meu som seja mais de nicho e mais bruto, o pessoal da gravadora nunca reclama, porque sabe que sou capaz de fazer canções pop. O que eu mais odeio é a competição, como todo mundo está competindo um contra o outro. Tipo, “agora você está na liga dos que têm gravadora e você tem um hit? É classificado como A. Se não tem, vai pro grupo C”, é bem capitalista. É completamente tóxico. Num dado momento, você começa a se comparar. As pessoas vão te idolatrar, mas também vão idolatrar a outros e você vai se comparar. Mesmo que tenha mil pessoas menores que você que sejam mais talentosas que os mais famosos, que só não estão tendo oportunidades. Por causa de timing e da falta da oportunidade mesmo, por mais redundante que seja. Então esse aspecto da competitividade é a pior parte da indústria da música, porque eu queria que a gente pudesse só fazer nossa arte por fazer. Mas a ideia de inspiração é impossível sem validação. Se a gente fizesse música e nunca lançasse, ia ser um saco, porque ninguém ia ter música pra ouvir, mas quando você lança algo, você está instantaneamente pedindo pela aprovação das pessoas. Não importo o que digam sobre isso, mas é a verdade. Isso nos leva a um ciclo de alguém idolatrar e depois copiar, aí eles querem aprovação e depois serem idolatrados… a validação da expressão é um ciclo constante. E sobre o que mais gosto de estar numa gravadora grande é que eu tenho o dinheiro suficiente para fazer os visuais, o que seria impossível de fazer num orçamento baixo, com meu próprio dinheiro. De maneira alguma eu poderia fazer um vídeo como “Cradles” ou “Freak” sem uma gravadora grande.
Você foi anunciado como ato de abertura de Melanie Martinez. E vocês dois têm uma coisa em comum no som, que é uma espécie de dissonância cognitiva, no dizer coisas macabras com sons até que bem fofos (e o contrário também). Isso vai continuar sendo parte do seu som?
Quero continuar fazendo isso! Gosto desse tipo de dissonância nos sons. É bem relevante pra mim, no meu mundo, mesmo ficando mais velho.
Ouça abaixo o primeiro EP de Sub Urban, “Thrill Seeker”:
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