É um fato bastante concreto: a história da música está marcada pelas contribuições de mulheres poderosas, que nunca tiveram medo de compartilhar suas vivências, medos, paixões e angústias com o mundo. Mais ainda: mulheres que nunca se acanharam diante dos desafios impostos pelo conservadorismo e pelo machismo, buscando exercer seu direito pleno de ser feliz e de criar.
Patti Smith, Rita Lee, Madonna, são vários os exemplos ao redor do mundo. No Brasil temos ainda Marina Lima, Elza Soares… Todas, em suas respectivas áreas e estilos musicais, são brilhantes e mostram o quanto as obras de arte que levam sua assinatura se firmaram atemporais, inspirando gerações de fãs.
A Intimus sempre esteve ligada nisso e reconhece o quanto essas minas são importantes, o quanto seu girl power foi e é fundamental no processo de empoderamento coletivo. Por isso mesmo nós criamos uma lista com dez discos incríveis que você pode ouvir como uma afirmação feminina. A playlist vai ao encontro da hashtag #ChegaDeEstigma, uma ação importantíssima e necessária criada pela marca para discutir os estigmas relacionados à menstruação. Você pode saber mais a respeito do projeto no fim desta matéria.
Vamos lá?
“Uma tragédia amorosa” é como poderia ser descrito “I Never Loved a Man The Way I Love You”. Mas o disco, que representa um marco na cartilha de hinos feminista, é muito mais profundo do que esta simples definição. Foi a partir deste trabalho, lançado pela jovem Aretha Franklin em 1967, que o mundo voltaria seus olhos para uma nova e avassaladora interpretação de “Respect”, canção de Otis Redding.
Se antes ela era entoada sob uma perspectiva hiper-machista, agora ganhava uma versão que invertia seu sentido. Rapidamente se mostrou o maior hino feminista dos nossos tempos porque exigia “Respeito” a todas as mulheres. A letra descreve o marido provedor que chega em casa após um longo dia de trabalho e faz comentários machistas, sexualizados, a respeito de sua companheira. Os arranjos mudaram e o sentido foi colocado de ponta a cabeça.
“Eu não vou cometer o mesmo erro que você quando você tiver fora
Eu não vou cometer o mesmo erro que você, porque não quero
Tudo que estou pedindo
É um pouco de respeito quando você vier pra casa (só um pouquinho)
Querido (só um pouquinho) quando você chegar em casa (só um pouquinho)
Sim (só um pouquinho)
Em sua essência discreta, religiosa e extremamente dedicada à arte, Aretha vai fundo em pontos como a solidão. É ela que pauta a maioria das faixas e mostra, apesar da vulnerabilidade exacerbada, a força necessária para expurgar a tristeza que sente. O próprio sentimento é quem a ensina a sair do fundo do poço. Resiliência, acima de tudo.
“Jagged Little Pill”, álbum de estreia da canadense Alanis Morissette, é sem sombra de dúvida uma das coleções de faixas mais aclamadas dos anos 1990. Lançado em meados da década, esse trabalho fez com que milhões de fãs ao redor do mundo se identificassem com as angústias e os dilemas apresentados pela intérprete. Dona de uma energia intensa, Alanis reflete sobre questões cotidianas, relacionamentos e dramas pessoais. Escancara sentimentos por meio de letras carregadas de raiva, que vão de baladas românticas a faixas alegres em que a amizade, empregada em um sentido de sororidade, é a protagonista.
Além disso, ela aproveita a oportunidade para criticar os modelos de perfeição impostos às mulheres na sociedade americana. Não deixa de fazer duras críticas à religião e àqueles caras que insistem em protagonizar situações abusivas estando em um relacionamento. Como esquecer da icônica “You Oughta Know”, o maior hit da carreira?
“Ela sabe que você dizia que ficaria comigo
Até morrer, até morrer?
Mas você ainda está vivo
E estou aqui para te lembrar
Da bagunça que você deixou quando foi embora
Não é justo me negar
Da cruz que eu carrego e que você me deu
Você, você, você devia saber”
Este é um trabalho maduro e denso, que merece ser ouvido com paciência.
Quem leu “Só Garotos”, mais famoso livro de memórias da poetisa do punk, Patti Smith, sabe quantas barreiras ela venceu até subir pela primeira vez ao palco do lendário CBGB, no início dos anos 1970. A principal delas, talvez, tenha sido a timidez de cantar em público. Mas ainda que suas músicas tenham feito um sucesso estrondoso nas décadas seguintes, perdurando até os dias atuais, foi na poesia que a artista fez o seu nome.
É difícil falar de “Horses”, álbum de estreia da musa, e não dimensionar sua importância para o rock, afinal, foi a partir deste projeto que se definiu uma rachadura entre era clássica do gênero e o punk. Essa rica fusão de elementos que inclui também referências da literatura (que Patti adora, diga-se de passagem) fez de sua intérprete uma lenda. Inspirou movimentos, entre eles o feminista, e cravou seu nome na história da música ao lado de ícones como os Rolling Stones, o The Doors e Bob Dylan.
Acima de tudo: “Horses” abriu portas para mulheres à frente da bandas como Shirley Manson, do Garbage, Courtney Love, do Hole, e PJ Harvey, uma de suas mais diretas discípulas. Nas letras, carregadas de intensidade, há relatos de infância, reflexões sobre a morte, sonhos e liberdade – que aliás, é um dos pontos altos da narrativa. A maior pérola do projeto, entretanto, está nos primeiros versos onde ela faz uma espécie de auto-absolvição, em referência à culpa católica. Poderosíssima, Patti entoa a seguinte frase:
“Jesus morreu pelos pecados de alguém, mas não pelos meus”.
Em 1979 Rita Lee já ocupava um espaço de extremo destaque nas paradas de sucesso. O disco “Fruto Proibido” (1975) havia lhe rendido uma ótima visibilidade após a saída d’Os Mutantes. Com o lançamento de “Babilônia” (1978) (potencializado pelo show de mesmo nome, fabuloso), ela se via em uma fase tranquila. Apaixonadíssima pela namorado Roberto de Carvalho, Rita vivia aquele que seria o início do ápice de sua criatividade enquanto letrista. O casal, que esperava o primeiro filho, quis explorar isso no estúdio e em maio daquele mesmo ano chegava às lojas mais um trabalho aclamado. Ojalá um dos maiores de R&R.
Chamado pela própria de “Mania de Você”, pelo público geral de “Rita 79”, o disco mergulha fundo em questões ligadas ao prazer feminino. Em uma época em que o sexo era cantado apenas sob a perspectiva masculina no rock e o conservadorismo é que ditava as regras (vale lembrar, vivíamos sob um forte esquema de censura organizado pela ditadura militar), ela toma as rédeas. Um plot twist para se tornar protagonista da própria história, falando abertamente sobre o tema e seus derivados. Em “Doce Vampiro”, por exemplo, cria uma metáfora para o orgasmo e o sexo oral.
“Que mata sua sede
Que me bebe quente como um licor
Brindando a morte e fazendo amor
Meu doce vampiro
Na luz do luar”
Há também outros momentos mais safadinhos como “Chega Mais”, um single com claras influências da disco music que Donna Summer entregava no exterior. Na letra Rita convida seu parceiro a se aproximar e a amá-la como sempre quis. Está livre!
O ano é 1971 e Carole King lança o disco “Tapestry”. Co-autora de todas as faixas que compõem este trabalho, ela fez com que suas novas músicas ficassem por 15 semanas no #1 lugar da Billboard e abocanhassem 4 prêmios Grammy, entre eles o de Gravação do Ano, um dos mais importantes da honraria. Entretanto, apesar de ser um dos 500 maiores álbuns de todos os tempos, segundo a revista Rolling Stone, “Tapestry” é também uma carta de amor, amizade e doçura deixada por sua intérprete.
Criado enquanto King se divorciava do marido Gerry Goffin, o álbum se apresenta como o relato de uma jornada sensível, delicada, mas não menos pungente. São instrumentos e letras que demonstram como a artista sente o que canta, mostrando que é possível, sim, se entregar de forma plena aos próprios sentimentos e ainda assim não ser considerada, equivocadamente, uma mulher frágil. Nada de estereótipos. Foi daqui que surgiu o clássico “You Make Me Feel (Like a Woman)”, tempos depois eternizado na voz de Aretha Franklin.
Um outro ponto importante: com “Tapestry” ela fala também sobre sua geração, formada por jovens que queriam mais do que nunca se expressar diante do moralismo e da valorização de coisas que já não faziam mais tanto sentido assim.
Provocativa e inteligente, Elza Soares, além de ser um ícone da luta contra o racismo e a desigualdade, é também um ícone feminista. Quando lançou o elogiado “A Mulher no Fim do Mundo”, ela já tinha pretensão de imergir em temas frequentes à alma feminina. Mas foi em “Deus é Mulher” que se consolidaram suas discussões sobre o tema. Aqui ela traz para o centro do debate pautas como religião, violência e sexualidade.
Em faixas como “Eu Quero Comer Você” e “Banho”, esta última uma composição da maravilhosa Tulipa Ruiz, a musa inverte as cartas e transforma a figura da mulher frágil em algo poderoso, imponente e dominador. Canta sobre o desejo sexual, discorrendo até mesmo sobre a lubrificação da vagina.
“Eu não obedeço porque sou molhada
Enxáguo a nascente
Lavo a porra toda
Pra maresia combinar com o meu rio, viu?
Minha lagoa engolindo a sua boca
Eu vou pingar em quem até já me cuspiu, viu?”
Este é um disco para ouvir e refletir sobre nossos papéis na sociedade.
Por falar em sensibilidade, também no ano de 1971 chegou “Blue”, disco fabuloso lançado por Joni Mitchell. A canadense que viria a inspirar várias gerações de fãs e artistas, entregou um trabalho cheio de letras que versam sobre o fim doloroso de um relacionamento e o início de uma nova paixão. Dá até pra dizer que esse álbum se apresente como uma fênix, que renasce das cinzas após sua autodestruição. A cantora começa sua jornada refletindo sobre o fim da união que teve com o também cantor e compositor Graham Nash.
Inspirada nisso criou faixas como “My Old Man” e “River”, esta última uma das mais melancólicas de seu catálogo. Aqui ela conta detalhadamente como ela mesma tomou a decisão de pôr fim ao romance.
Mas de repente somos apresentados a uma mulher resiliente, autocentrada, que não desiste do amor. Inspirada pelo caso que teve com o ator James Taylor, ela também explode em alegria em faixas como “All I Want”. Há também espaço para falar sobre o uso de drogas por meio de citações diretas a seringas e ervas, como acontece na faixa título. Joni mostra que seus sonhos e suas vontades podem e devem ser vividos. Mais do que isso: vem a público pra provocar empatia.
A obra de Marina Lima é fascinante como um todo. Em 1984, por exemplo, ela empregou seus vocais no alto-astral “Fullgás”, trabalho que reflete o momento de abertura política que se vivia com o impacto do movimento das “Diretas Já” e o fim da ditadura. Em 1991, ela embarcou em uma viagem pelos próprios sentimentos e inquietações em um disco autointitulado, que entrega entre outras faixas “Acontecimentos”, “Não Sei Dançar” e “Serei Feliz”. Foi hit atrás de hit. Mas em “O Chamado”, de 1993, isso se potencializa. Marina se sente livre aqui para promover um expurgo coletivo. Nas composições deste disco ela convida seu público a se libertar de qualquer amarra.
O objetivo é inspirar para que se expresse sentimentalmente, independente dos obstáculos possam aparecer adiante. Mesmo se revelando uma “Carente Profissional”, como diz uma das músicas. Traça-se uma ponte entre sentimentos como a repressão e a liberdade – que podem ser vistos, inclusive, como um aceno para questões ligadas à sexualidade. Na faixa-título há uma poesia inserida que diz o seguinte:
“Não quero só ficar bem na foto
Quero dizer a que vim
Mesmo que isso me custe revelar coisas que não gosto em mim
Nem sempre gosto dessa cara de alegre
Quando sei que tenho tanta dor por trás
Eu não acredito em mais nada, 8 ou 80
Você sabe, eu aprendi demais”
O mundo se chocou em 1992 quando Madonna anunciou o lançamento simultâneo do livro “SEX” e do álbum “Erotica”. Ambos chegaram às lojas no último trimestre daquele ano e fizeram um verdadeiro reboliço. A expressão “foi longe demais”, associada com certa ironia à brasileira Pabllo Vittar, já era usada a essa altura por muita gente, especialmente porque em seu quinto álbum de estúdio a rainha do pop rompeu todos os limites impostos pelo conservadorismo ao criar uma narrativa cheia de fantasias e de liberdade sexual.
Madonna canta em 13 faixas sobre seus sonhos eróticos, seus desejos e seus amores, convidando o ouvinte não apenas a se permitir embarcar em uma viagem imaginativa, como também partir em novas buscas de si mesmo(a). De suas inquietações. Um aspecto interessante: embora ela se coloque em vários momentos em uma posição de submissão, a figura de dominatrix é a que predomina. Madonna é completamente dona de si mesma e mostra que é possível estar em qualquer lugar. Basta querer.
Consegue perceber o quanto a música tem um papel fundamental na hora de romper com estigmas? É a partir dela que muitas vezes mulheres conseguem enxergar uma série de preconceitos e estereótipos enraizados em nossa sociedade. Quantas vezes já ouvimos perguntas como “Você tá muito irritada hoje, deve estar menstruada” ou “Chorando por isso? Só pode estar naqueles dias”.
Por que não questionar isso? Estamos empenhados nessa missão e a Intimus está com a gente! Com você também! Tanto que acaba de lançar uma campanha incrível batizada como #ChegadeEstigma! O objetivo é estimular o diálogo aberto sobre a menstruação entre todos a fim de questionar os estereótipos. É para apoiar, encorajar, dar suporte e empoderar. Como isso tem será feito? Por meio de ações nas redes sociais, cada uma poderá compartilhar com amigos e familiares informação e conteúdo sobre o ciclo menstrual e conscientizar a sociedade sobre como os estigmas impactam a vida das mulheres. Juntos podemos questionar os estigmas e ser parte da mudança.
O conteúdo está disponível no site oficial da marca, onde você encontra mais informações sobre o movimento e pode também ajudar as iniciativas sociais apoiadas pela marca. Além da hashtag #ChegadeEstigma fazem parte da ação cartazes, GIFs e figurinhas personalizadas. Não fique de fora dessa, hein? Lembre-se: uma sociedade informada é uma sociedade consciente!
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