O cinema brasileiro nunca decepciona e em todas as suas fases lançou luz sobre o talento de mulheres poderosas. Os exemplos são vários, não caberiam em uma só mão! O fato é que ao longo de nossa história recente fomos representados várias vezes em importantes festivais do circuito internacional. Cannes, Veneza, BAFTA, Golden Globes e Oscar… marcamos presença em todos esses a partir de belíssimas e diversificadas interpretações feitas por ícones femininos.
Seja por meio do trabalho de lendas como Fernanda Montenegro, Sônia Braga e Regina Casé, ou mesmo a partir das atuações impecáveis de atrizes das novas gerações como Karine Teles e Marjorie Estiano, sempre estamos diante de ótimas histórias. São narrativas que nos fazem ser ainda mais fãs do cinema nacional e por isso mesmo decidimos preparar uma lista com filmes em PT-BR estrelados por artistas maravilhosas!
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O cinema brasileiro viveu uma de suas fases mais brilhantes no fim dos anos 1990 quando Walter Salles convidou Fernanda Montenegro para atuar em “Central do Brasil”. O longa, estrelado ainda pelo pequeno (e estreante!) Vinícius de Oliveira, conta a história da professora aposentada Dora, que ganha uns trocados escrevendo cartas para anônimos na Central do Brasil, importante terminal da cidade do Rio de Janeiro. Dona de uma personalidade forte, a professora recebe certo dia um garotinho e sua mãe que a procuram para que escreva um mensagem para o pai.
Após descobrir que o menino ficou órfão, semanas depois, Dora se mete em uma encrenca com uma traficante de crianças e decide embarcar em uma viagem sem destino pelo agreste brasileiro. Larga tudo pra trás! Juntos os dois firmam uma grande amizade que transcende qualquer fronteira, seja ela a idade, a distância geográfica. Com esta atuação, Montenegro foi indicada ao Oscar e ao Golden Globes de Melhor Atriz em 2000 e 1999, respectivamente, além de ter vencido o Urso de Prata do festival de Cinema de Berlim.
Sônia Braga, assim como Fernanda Montenegro, é uma lenda da atuação. Além de brilhar em telenovelas, ela também encarnou personagens brilhantes no cinema. Uma delas é Clara, uma mulher viúva que reside no edifício Aquarius há mais de 30 anos. Foi neste lugar, que dá nome ao longa e está localizado em uma área nobre do Recife, que ela criou seus filhos e viveu experiências incríveis. Entretanto, sua vida tranquila é ameaçada quando uma construtora revela seus planos de demolição do prédio para erguer outro, no mesmo lugar, só que maior e mais moderno.
Sem motivos para se mudar dali, ela passa a ser vítima de constantes assédios – todos devidamente negados. Enquanto os empresários não desistem de fazê-la mudar de ideia (inclusive usando táticas sujas) Clara segue sua vida revelando ao espectador momentos íntimos e de extrema delicadeza. Como esquecer a cena em que ela diz ao sobrinho pra tocar Maria Bethânia em um de seus dates com a garota que está apaixonado? “Mostra pra ela que tu é intenso”. O trabalho foi indicado ao Independent Spirit Award, considerado “o Oscar” do cinema independente.
Mais uma produção estrelada pela lenda! O maravilhoso Jorge Amado, um dos gigantes da literatura brasileira, publicou em 1958 o célebre romance “Gabriela, Cravo e Canela”. Apresentando-se como uma espécie de crônica de costumes, a obra tem como personagem principal a doce Gabriela, uma jovem retirante que busca uma oportunidade de trabalho em Ilhéus, fugindo da seca. Enquanto tenta encontrar um emprego como cozinheira ou doméstica, ela se envolve com o árabe Nacib, interpretado por Marcello Mastroianni.
O relacionamento segue maravilhosamente bem até que a jovem trai seu amado com o mulherengo Tonico Bastos, considerado o maior conquistador da cidade. Paralelamente a isso, o filme traz ainda uma discussão sobre o feminicídio quando um outro coronel é julgado pela morte de sua esposa e do amante. Enquanto alguns dos personagens afirmam que a vítima mereceu, outros membros da elite acreditam que os tempos mudaram e que determinados conceitos do passado já não são mais aceitos.
Para além desta questão, a produção originou uma cena antológica da dramaturgia brasileira. No dia em que a pipa de uma criança fica presa no telhado, é Gabriela, de vestido, quem sobe para resgatá-la. Aos cinemas o filme chegou em 1983.
Em 2019 não se falou em outra coisa: “Bacurau” foi sem dúvida o grande lançamento do cinema brasileiro. Com direção de Kléber Mendonça Filho (o mesmo responsável por “Aquarius”) e Juliano Dornelles, o longa conta a história de um povoado no sertão do Brasil que de repente se vê completamente fora do mapa. Com a morte de sua moradora mais célebre, há quem ache que o fato estranho possa ter alguma ligação, mas o que se passa realmente, no fim das contas, é ainda mais macabro.
Um grupo de americanos que pratica tiro decide atacar o local e cabe aos moradores prezar por sua defesa, resolvendo o problema. Entre as atuações mais marcantes, para além da doutora Domingas, interpretada pela lenda Sônia Braga, está também Dona Carmelita, a recém-falecida. Apesar de ser apenas uma participação especial, o talento de Lia de Itamaracá conferiu à obra uma aura especial. Karine Teles é outra que arrasa na pele de uma sanguinária.
Entre outras coisas que valem a pena o destaque está o Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2019. Uma curiosidade é que este foi o segundo filme brasileiro na história a levar esta honraria. Antes dele apenas “O Pagador de Promessas” (1962).
Por falar em “Bacurau”… Talentosíssima e versátil, Karine Teles é quem estrela “Benzinho”, outro sucesso de crítica no exterior. Com direção de Gustavo Pizzi, o filme se debruça sobre as preocupações da dedicada Irene, uma mãe super protetora. Contracenando com os dois filhos biológicos, Artur e Francisco, ela se vê nesta narrativa diante de um dos maiores dilemas enfrentados por qualquer genitora: a hora de deixar suas crias ganharem asas.
Aqui, seu primogênito Fernando decide ir jogar handebol na Alemanha de uma hora pra outra. Neste momento ela precisa superar sua ansiedade e ganhar forças para enviar o filho à Europa. O filme é belíssimo e você certamente vai se identificar com alguma das situações vividas. Afinal, amor de mãe é sempre igual.
Karine Teles é uma deusa da versatilidade. Além de viver uma serial killer e uma mãe amorosa, ela também mandou bem ao interpretar a madame Bárbara Bragança em “Que Horas Ela Volta?”. O protagonismo, entretanto, ficou nas mãos de Regina Casé, uma das maiores atrizes que o Brasil possui. Se hoje você sente saudades da Dona Lurdes de “Amor de Mãe”, saiba que em 2015 ela já transbordava ternura ao dar vida à empregada doméstica Val. De origem humilde e vinda do Nordeste, ela deixa pra trás a filha Jéssica para tentar a sorte em São Paulo como milhares de outras mulheres.
Após encontrar um emprego como babá e empregada doméstica na casa de Bárbara e José Carlos, um casal de magnatas, ela passa a cuidar do filho dos patrões, Fabinho. Treze anos depois Val finalmente alcança sua estabilidade financeira, mas se sente culpada pelo abandono ao se ver com saudade da filha. Após a garota desembarcar na capital para prestar o vestibular, a convivência se mostra difícil – ainda mais diante do desejo dos dois jovens de ingressar na faculdade, o que destaca a desigualdade e a separação de classes na casa em que vivem.
Tata Amaral acertou em cheio quando se juntou a Roberto Moreira pra escrever o roteiro de “Antônia”, filme lançado em 2006 e vencedor do Teddy Award Berlin. A produção, lançada apenas nos cinemas a princípio, conta a história de um grupo de quatro amigas vindas da periferia com um mesmo sonho: viver da música. Mais especificamente do rap, um gênero predominantemente dominado por homens. A trama fez sucesso e acabou virando série de TV com duas temporadas. Destemidas, essas lendas vão longe e conseguem se realizar, inspirando milhares de garotas mundo afora. Quem dá vida ao quarteto são as maravilhosas Negra Li, Leilah Moreno, Quelynah e Cindy Mendes. Vale muito a pena mergulhar um pouco nessa realidade a fim de enaltecer sua garra e, claro, a equidade de gênero.
Marjorie Estiano recebeu uma indicação ao Emmy 2019 na categoria Melhor Atriz por seu trabalho em “Sob Pressão”, mas seu catálogo de atuações fabulosas é inesgotável. Sua entrega é única e em “Entre Irmãs”, drama lançado em 2017, isso fica ainda mais evidente. É no Nordeste dos anos 1930, em meio a uma grande seca, que vivem as irmãs Emília e Luzia. Ao lado de Nanda Costa ela interpreta uma jovem criada pela tia, Sofia. Com autoridade sobre as duas sobrinhas, a quem ensinou o ofício de costureira, ela compartilha seus sonhos. Uma delas deseja se mudar para a cidade grande e se casar, enquanto a outra se conforma com a própria realidade, buscando lidar com a atrofia de um de seus braços após um acidente ainda na infância.
udo muda quando o cangaceiro Carcará chega ao povoado de Taquaritinga do Norte e leva embora Luzia com seu bando. O que acontece depois disso é uma sucessão de acontecimentos que reforça ainda mais seus laços fraternos – e destaca o poder destruidor do pensamento retrógrado das elites.
Déborah Secco mergulhou de vez no universo de Raquel Pacheco e foi passar uma semana vivendo ao lado de um time de profissionais do sexo na Grande São Paulo. Talvez justamente por isso sua atuação no filme “Bruna Surfistinha” é tão impressionante: ela sentiu na pele as cicatrizes de meninas que não raro se vêem à margem da sociedade. Até os 17 anos de idade, Pacheco era apenas uma jovem simples da classe média paulistana. Aos 18, entretanto, ela toma a difícil decisão de fugir de casa e de se transformar em uma garota de programa.
Enquanto faz sucesso atendendo a homens e mulheres de todas as idades sob o codinome Bruna Surfistinha, ela também começa a ganhar notoriedade ao publicar relatos de sua rotina em um blog na internet. O elenco do longa, biográfico, traz ainda atuações bárbaras de Drica Moraes e Fabiula Nascimento. Vale muito a pena assistir!
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