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Falamos com Lauv sobre saúde mental: “Parecia muito bobo ver as pessoas felizes”

Lauv, nascido Ari Leff, tem sido um dos queridinhos da atual cena do pop mundial. Suas canções transmitem sentimentos autênticos, que são potencializados por seu carisma (e uma admirável falta de filtro no que diz). Sua admirável habilidade em construir melodias que ficam na cabeça então, nem se fala. Ainda em 2017, o artista começou a chamar a atenção mundialmente com seus primeiros hits, “I Like Me Better” e “Paris In The Rain”, todos lançados de forma independente.

No início de março, seu primeiro disco de estúdio, chamado “How I’m Feeling”, foi lançado e na mesma semana batemos um papo com o cantor. Animado, ele comentou sobre sua vinda ao país para duas apresentações no Lollapalooza Brasil. O festival, entretanto, foi adiado para dezembro após a explosão de casos da Covid-19.

Agora, direto de sua quarentena, ele reflete sobre o momento que vivemos e indo mais a fundo em questões de saúde mental. Para ele, a música é uma terapia – tanto que até seu trabalho anterior, Lauv costumava publicar no YouTube o making of de suas canções. “Eu quero fazer mais”, diz.

Numa recente conversa nossa com Billie Eilish ela revelou que não sente a necessidade de estar num estúdio todo cheio de equipamentos pra fazer música. Comento isso com Lauv e a resposta dele segue a mesma linha: “Eu não gosto de ir pra estúdios, então quase tudo que faço é em casa”. Parece que essa nova onda de popstars tem algumas pequenas trangressões em se tratando da indústria da música. E a transgressão sempre fez bem ao pop, né? Eles têm um feito grandioso, especialmente em termos estéticos, de trazer para uma linguagem mainstream uma visão – e técnica – que tradicionalmente vem de artistas mais experimentais e alternativos.

“Usei dois iPhones, um pra cada lado do fone, pra gravar o piano de ‘Changes'”, conta Ari, com sorriso de satisfação no rosto, quando pergunto sobre as técnicas utilizadas no disco. “E acho que outra técnica meio esquisita que usei foi gravar tudo normalmente, no meu estúdio e microfone certinho e depois tocar num rádio do carro e gravar, pra aí sim usar o som na faixa final. Isso deu uma textura meio suja pro som, na música ‘Julia'”, revela sobre a faixa mais emotiva do trabalho. Ou seja, a questão não é mais a perfeição, e sim a realidade de uma história que você tem a contar.

Mas nossa “boyband de um cara só”, como Lauv tem se auto-intitulado neste trabalho, não necessariamente ama todas as partes de fazer música sozinho. “Sou muito meticuloso em gravar meus vocais. Faço tudo sozinho. Não deixo ninguém controlar a gravação dos meus vocais pra mim. Mas ficar editando [escolhendo o melhor take] é bem cansativo”, compartilha o cantor sobre o processo de criar todas as camadas de voz comumente presentes em suas produções.

Quando perguntado sobre o ritmo mais cheio de Swing presente na batida e no violão da faixa “Sweatpants”, Lauv assume que não conhece muito de música brasileira, então não teve muito como intenção a pegada de bossa nova. Talvez só tenha acontecido, “é a faixa mais diferente do disco mesmo, né?”, adiciona o artista.

Em abril de 2019, o artista publicou em sua conta do Instagram uma captura de tela com um texto de anúncio do disco “How I’m Feeling”, no qual ele comenta que voltou, com o apoio de família e amigos (e passando a aceitar medicações), a se sentir feliz e grato pela vida que tem. Comento que, pra quem está vivendo um episódio depressivo, fica um tanto difícil de se sentir assim, quase como se a felicidade parecesse brega. Pra além de estarmos numa cultura de massa que tem uma divisão muito turva – e perigosa – entre o normalizar momentos ruins e o fazer a tristeza (e até a depressão, uso de remédios e etc) mais cool.

Lauv se entusiasma, quase como se fosse algo que ele queria comentar e diz: “Nossa, é completamente isso! Quando eu estava mal, parecia muito bobo ver as pessoas felizes. Eu achava que nunca poderia me sentir assim. Eu ficava sempre ‘nossa, até parece que isso é real’, mas aí fui entendendo que na verdade o que eu estava sentindo não era algo bom. E eu precisava de ajuda”.

E foi dessas vivências que surgiram faixas como “Modern Loneliness”e “Sad Forever”, esta última com um refrão muito potente onde o artista entrega vocais mais urgentes, dizendo que se sente fora do controle da própria vida e que “só quer acordar um dia e perceber que tudo vai ficar bem”.

A transição de Lauv para este projeto foi marcada pelo dia em que ele raspou o cabelo, conta o artista. “Comecei a escrever as músicas do disco quando eu passei a maquininha no meu cabelo”, contando que a mudança dos visuais muito provavelmente se torne algo frequente nos seus futuros projetos.

Ao ouvir que isso me lembra David Bowie, especialmente percebendo que ambos têm faixas chamadas “Changes”, a resposta é sincera: “Bowie era fantástico, mas ele não foi uma inspiração pra esse trabalho”. E pros mais de 30 milhões de fãs que o ouvem atualmente no Spotify pelo mundo, uma notícia boa: Lauv já está preparando um novo álbum. “Meu som está mudando também. Comecei a trabalhar no próximo disco e vão ser músicas bem diferentes do que eu já fiz”, ressalta o artista.

Mas Ari vê tais mudanças de uma forma natural. “Tento não ficar olhando pra trás, mas sempre tem coisas que eu mudaria nas faixas que já lancei. Eu poderia fazer que nem o Kanye West, e ficar trabalhando e lançando novas versões das músicas, mas prefiro focar em fazer canções novas”, brinca.

No papo, decidimos então dar uma rápida pincelada pelas inspirações de cada faixa do disco. “Drogas” é a resposta imediata sobre “Drugs & The Internet”, assim como a canção “Billy” é “fofa”, segundo ele, por ser uma projeção de si mesmo sob o nome de seu cachorro. A canção “Who”, por sua vez, também tem uma resposta direta “o BTS são tudo nessa música”. Outros duetos do disco também ganham destaque em sua explicação do que cada faixa o lembra. “I’m So Tired…”, que tem a participação de Troye Sivan, é “um hino” (ou “a bop”, nas palavras dele).

“El Tejano”, que conta com a parceria da cantora Sofía Reyes, traz lembranças imediatas do restaurante de mesmo nome (que fica em Los Angeles) onde “servem margaritas do tamanho da sua cabeça”. Digo que adoraria conhecer tal drink único e ele responde “Sério, você precisa conhecer”. A única faixa que o deixa sem palavras é “Julia”, pra qual ele só suspira e fala “ooooh”, sem saber bem o que dizer – muitos fãs acreditam que a faixa é sobre sua ex-namorada, a também cantora e compositora Julia Michaels.

Quando o assunto é o show no Lollapalooza Brasil 2020, que aconteceria no primeiro dia do festival, Lauv ainda não sabe vai estar no lineup, que agora acontecerá em dezembro, por medidas de segurança pela pandemia do Covid-19. “Eu estava muito animado, mas só vou conseguir ir quando tudo estiver seguro pra todo mundo, sabe? Mas assim que tivermos mais informações, vamos avisar!”, confirma o cantor. Ainda sobre a situação atual, o artista lançou um novo item de sua coleção para fãs: um moletom com a estampa “Modern Loneliness”, do qual vai doar todos os lucros para instituições de cuidados para pacientes decorrentes do coronavírus.

E pra terminar o papo, pergunto a Ari sobre sua primeira lembrança sobre estar na internet, já que o assunto é tão presente no seu universo criativo. “Baixar música ilegalmente no KaZaa”, responde rindo. Digo que ele “sempre foi o pesadelo da indústria da música” então. “Pois é”, garante enquanto ainda rimos.

O primeiro disco de Lauv, “How I’m Feeling”, conta com participações de BTS, Troye Sivan, Sofía Reyes, Alessia Cara, LANY e Anne-Marie aqui:

 

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