Sabe a sensação de sentar para ver um filme no cinema e se reconhecer dentro da telona? Ou de maratonar uma série porque você se identifica muito com um personagem e precisa saber que ele vai ficar bem? Se você é LGBT, sabe que esse sentimento não surge toda hora. Caso você seja um homem trans, assim como eu, é mais difícil ainda! Pense rápido: quantos filmes ou séries com protagonistas transmasculinos você conhece? É, eu sei, também precisei de uma ajuda do Google.
Com o passar dos anos, cada vez mais histórias de pessoas trans estão sendo contadas, o que é incrível e muito necessário. Ainda há um longo caminho a ser percorrido, tanto na quantidade quanto na qualidade das obras que se propõem a fazer isso; mas estamos dando um passo após o outro. Felizmente, alguns profissionais já estão muito bem encaminhados e é deles que eu quero falar hoje.
Gosto de pensar na TV e no cinema como um espelho daquilo que somos e do que queremos ser, então é claro que espero ver meu reflexo de vez em quando! Com isso em mente, listei alguns títulos que podem te ajudar a se encontrar na tela também, ou apenas conhecer mais sobre uma parte do mundo dos homens trans. Essa lista é feita em parceria com Intimus, que lançou a campanha #ChegaDeEstigma para questionar estigmas da menstruação. Que tal discutirmos o estigma da menstruação para homens trans? É isso que irei discutir no final desse especial. Então vamos lá?
Este provavelmente é o título mais famoso da lista. Sim, a original da Netflix que muitos consideram uma doideira (das boas) tem um menino trans entre seus personagens. Buck Vu, interpretado por Ian Alexander, é um dos jovens ouvintes de Prairie Johnson. Não dá para falar muito mais sem dar spoiler, mas se você curte ficção científica, vale a pena dar uma chance!
Poucas pessoas ouviram falar desse filme (inclusive eu), que saiu em 2018 nos Estados Unidos e nunca veio para o Brasil. Ele narra a luta de Antonia Brico (Christanne de Bruijn) para se tornar uma maestro, em uma época na qual mulheres não poderiam ter essa ambição.
Onde está a representatividade trans, você me pergunta? No melhor amigo de Antonia, Robin, interpretado por Scott Turner Schofield. Por mais que seja um personagem secundário, a forma com que sua transgeneridade é abordada é mais acertada do que em muitos filmes com protagonistas trans. O fato não é de suma importância para a trama e essa nem é a principal “função” de Robin no filme (até porque ele é muito mais do que isso). Uma ótima pedida para um filme feminista e inclusivo!
Saindo do cinema para a televisão, vamos de The Fosters! A série fala principalmente sobre relacionamentos familiares entre pais e filhos adotivos, além de vários outros dramas que se desenrolam com os episódios.
Entre os personagens, somos apresentados a dois garotos trans: Cole (Tom Phelan), que é rejeitado pela família e vive nas ruas e Aron (Elliot Fletcher), um estudante de Direito que se torna amigo da protagonista.
Você sabia que o filho da Cher é um homem trans? Pois é, não é apenas no Brasil que temos essa coincidência com uma diva e sua prole (beijo, Gretchen e Thammy!). Chaz Bono conta em documentário como foi sua descoberta, transição e aceitação por parte da mãe e das outras pessoas em sua vida.
O longa saiu em 2011 e eu recomendo não levar tão a sério alguns termos e expressões que, hoje em dia, já sabemos que não são adequados (como “mudança de sexo”; o certo é “redesignação sexual”). Ao invés disso, aproveite para analisar o quanto já avançamos de lá para cá! Ah, uma curiosidade: Chaz é ator e já participou de várias séries, incluindo American Horror Story: Cult.
Se você é fã de drag queens e gosta de saber mais sobre o movimento trans e drag do passado, deve conhecer o filme Paris is Burning. Trata-se de uma obra-prima sobre a cena queer em Nova Iorque nos anos 80. Se não conhece, veja! Só não se surpreenda se não encontrar muita coisa sobre homens trans. Para isso, você pode assistir Venus Boyz.
O longa é bem underground e difícil de encontrar pela internet, mas é o outro lado da moeda da cena queer em Nova Iorque e outros locais pelo mundo, mostrando diversas pessoas em suas transmasculinidades. Drag Kings, não-binários e outras identidades e expressões de gênero aparecem também.
Conheça os Gallaghers: um pai alcoólatra e disfuncional e seus filhos… também meio disfuncionais. Shameless já tem 10 temporadas e muita história para contar, incluindo a de Trevor (Elliot Fletcher), novo interesse romântico do irmão gay da família. É só na sétima temporada, mas foi uma boa jogada incluir o assunto em uma série já popular e com milhares de fãs, não é?
A premissa dessa série da MTV é um pouco problemática. São duas garotas que fingem ser lésbicas para fazerem parte de um grupo na escola e não se sentirem mais tão excluídas. Com o tempo, porém, a narrativa viaja por outros aspectos da vida LGBT e apresenta também o personagem trans Noah (Elliot Fletcher), um cara bem carismático e animado com altas chances de ser um queridinho dos fãs.
Sabe o que é mais legal em todos esses filmes e séries? Cada personagem trans é interpretado por um ator também trans!
É claro que existem outras obras populares sobre transmasculinidades, como o conhecido “Meninos Não Choram”, “Tomboy” ou “Meu Nome é Ray”, da Netflix. Só que, nesses casos, o elenco é formado por profissionais cisgêneros. Não quer dizer que os filmes necessariamente são ruins, mas mostra uma discrepância muito grande — a história apela para a população trans, mas a produção não faz nada para ajudar a causa ou incluir de fato. É só perceber, por exemplo, que o nome de Elliot Fletcher apareceu três vezes só nessa lista! Será que há realmente tão poucos atores trans em todo o mercado? Ou será que não estão recebendo oportunidades, nem mesmo em filmes que representam eles próprios?
Espero ver mais Elliots daqui para frente, nos telões e nas telinhas. E ideias não faltam! Há muitos papéis para homens trans, sejam eles sobre a transgeneridade ou não. Quando for, há também vários aspectos que ainda precisam ser mencionados. Por exemplo, o quanto se fala sobre a relação de homens trans com menstruação? Temos aí um leque de abordagens: alguns se sentem altamente disfóricos (com dificuldades em lidar com o próprio corpo); outros conseguem ficar bem, mas experimentam dificuldade para comprar absorventes ou falar sobre o assunto com alguém; outros até levam isso orgulhosamente como parte da luta diária que é ser trans.
Ainda há muito a ser explorado no cinema, na TV e em todos os cantos quando o assunto é representatividade (correta!) do transmasculino. Se continuarmos nesse caminho, as próximas gerações se sentirão muito mais acolhidas e fortalecidas em suas vivências. Até agora, não tivemos muitas chances de ver o nosso reflexo, mas vamos brigar para que o futuro seja um espelho para todos.
Pensando em estigmas como esse, relacionados à menstruação, a Intimus lançou a campanha #ChegaDeEstigma. O objetivo é estimular o diálogo aberto sobre a menstruação entre todes a fim de questionar os estereótipos. É para apoiar, encorajar, dar suporte e fortalecer. Como isso tem será feito? Por meio de ações nas redes sociais, onde cada uma poderá compartilhar com amigos e familiares informações e conteúdo sobre o ciclo menstrual, conscientizando a sociedade sobre como os estigmas impactam vidas de forma que muitos nem imaginam – tal qual acontece na vida de um homem trans.
Além da hashtag #ChegadeEstigma fazem parte da ação cartazes, GIFs e figurinhas personalizadas, já disponíveis no site oficial da campanha. Não fique de fora dessa, hein? Lembre-se: uma sociedade informada é uma sociedade consciente!
** Colaborou Alex Fernandes, jornalista que tem muitos mais textos sobre cultura pop e reflexões em sua página oficial. Siga ele no instagram: @f.alexox
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