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“Até onde o textão nos leva?”, questiona talk no Festival GRLS!
Mais um painel aconteceu no Festival GRLS! neste sábado (7). No terceiro talk do evento o tema foi “Obrigação de Textão”. Os convidados foram Antonio Prata, Cris Naumovs e Fernanda Flandoli, da plataforma Quebrando o Tabu. A roda de debates foi conduzida pela apresentadora Astrid Fontenelle, que abriu o diálogo já com o questionamento: Será que as vezes não devemos ficar com a boca fechada?
Naumovs foi a mediadora e trouxe pra conversa os métodos de checagem do portal, bem como os meios de seleção daquilo que vai ao ar. Fernanda falou sobre a parte editorial, que é basicamente um “jeito de trabalhar”, guiado pelo que acreditam e como se comportam naturalmente.
Para Prata, o momento da eleição de Trump nos Estados Unidos é uma prova do que pode fazer a internet.
“As pessoas vão se unindo e se uniram pra fazer merda. Se uniram para eleger o Trump e o Bolsonaro, por exemplo”
“É 2020 e a gente tem de explicar porque não devemos tacar fogo em morador de rua, estamos vivendo este momento”
Já Flandoli falou como o portal é criticado por todos os lados, tanto pelos movimentos de direita, quanto pela esquerda. Para ela, este foi o termômetro usado pra saber que estavam no caminho certo:
“Estamos expostos a porrada, mas também tem o afago. A gente tem uma veia de produção audiovisual e o nosso vídeo é muito importante, com a linguagem do hoje, meme, pra comentar assuntos que são tão complexos e difíceis”
O extremismo na internet também foi outro ponto levantado. “Ou você é burra ou você é uma fada sensata?!”. A mediadora quis entender melhor como os convidados lidam com os comentários, principalmente os negativos, e como isso os atinge. Antônio Prata destacou a criação do like e como isso atingiu as reações e comportamentos dos usuários:
“Depois que ele [like] surgiu os comentários começaram a ficar mais extremados. As pessoas começaram a tentar conseguir like. O textão surgiu disso, uma cultura de fazer barulho para ser ouvido, não interessa o conteúdo. Sair da bolha é difícil”
“A internet ainda tem espaço pra diversão?”, perguntou a mediadora. A integrante do Quebrando o Tabu afirmou que o uso do online é algo muito pessoal, o que pode fazer alguém ter mais espaço para isso, enquanto alguém usa a internet para criar um posicionamento político. “O bem é algo muito individual. O Quebrando o Tabu não diverte, mas ele tenta falar de assuntos difíceis de uma forma leve, simplificando essa conversa”.
“Eu me arrependo muito quando faço um textão de desabafo. Porque isso não agrega nada! Ficar na lamúria, reclamando, não agrega. E sempre tentar sair desta cultura de lacração. Metade do país votou no Bolsonaro, não é chamando seu tio de ‘facista’ no Natal não vai resolver. A gente tem que conversar com essas pessoas para explicar. Me estendi até, fiz um textão aqui”
Cris também lembrou que muitas pessoas têm pensamentos e crenças por conta de sua criação, ou mesmo pela influência da televisão, que retratava de maneira caricata certas minorias. Ou seja, a mudança é lenta e progressiva, não é simples para alguém se despir de todos seus conceitos, mas é algo que deve ser discutido para mudar.
Mas e as piadas, tudo é possível quando tratado com humor? O trio de convidados quis discutir até que ponto algo é tolerado e sem ser caracterizado como ofensa. Para Prata:
“Uma pessoa que tem dread pode se ofender com uma piada por conta de todas as implicações sofridas pelo povo negro durante a história. Mas e uma piada sobre o cabelo de um judeu ortodoxo de Higienópolis? Eles não sofreram no Brasil como os negros foram escravizados. A vida deles é muito mais confortável do que uma pessoa negra de dreads, não é? Nem tudo é resolvido com: ‘é uma piada’. Mas nem tudo é motivo para cancelamento, talvez uma observação”
É claro que em algum momento todos vão errar, seja sobre qual assunto for. O Quebrando o Tabu, por exemplo, reconhece os erros quando apontados e constatados. Quando isso acontece, eles se prontificam a entender o problema e pedem desculpas, pra assim poder melhorar e não errar mais com aquele assunto.
Momentos de alívio e humor online também foram citados, lembrando a importância de se trazer vídeos que inspirem, seja com a participação de crianças se reconhecendo como seres dotados de beleza, seja por meio de animais sendo resgatados. Para os convidados, criações do tipo são necessários para que se possa seguir em frente. “Não sei se o afeto virou a coisa lavradora também”, questionou Fernanda.
Cris relacionou o mundo atual com programas de TV, principalmente reality-shows que trazem reflexos do que a nossa sociedade representa atualmente:
“O botão vermelho tá sempre na nossa mão, né? Se você apertar o botão, você vira a Manu Gavassi e vai pro paredão, sabe?”
Após a última eleição presidencial brasileira, muitas amizades on-line foram desfeitas. Para os convidados, talvez não seja tão necessário se afastar completamente de todos que pensam diferente de você. Na verdade, eles acham interessante e importante entender pessoas que não fazem parte de sua bolha e qual pensamento eles compartilham. Mas eles também ponderaram ao dizer que algumas pessoas são “causas perdidas” e não vão te escutar, tendo de deixar os irredutíveis para trás.