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música

Jaloo e Gaby Amarantos celebram as belezas da Amazônia em seu novo clipe; assista a “Q.S.A.”

É em seu apartamento em São Paulo que Jaloo passa a maior parte do tempo. O artista paraense trabalha neste momento, em seu próprio estúdio, na produção do novo disco da amiga Gaby Amarantos, ícone pop do Norte. A relação dos dois, que começou ainda em 2011, surgiu quando ele ainda não era famoso. Mais precisamente, de um pedido de entrevista pra uma pesquisa de TCC em que discutia o technobrega. “O que temos é muito maluco, já teve várias etapas. Tipo novela”, brinca ele, por telefone.

Depois de percorrer um longo caminho que teve entre outras paradas o Rock In Rio 2019, quando colocaram a plateia pra tremer ao som do “Pará Pop”, a dupla lança nesta quarta-feira (22) seu mais novo trabalho, “Q.S.A.”. A faixa faz parte do novo disco do artista, “ft (pt.1)”, lançado no segundo semestre de 2019. Pra ilustrar a composição que fala sobre amor e realização pessoal eles foram até uma das mais belas paisagens do Brasil: o Rio Tapajós.

O vídeo, dirigido por Rodrigo de Carvalho e o próprio Jaloo, tem muito close, muito carão, mas também não deixa de ser também uma carta de amor à Amazônia. Na mesma frequência em que ostenta beleza, as paisagens naturais do local se desintegram dia trás dia.

O Papelpop aproveitou a oportunidade do lançamento e trocou uma ideia com o artista. Entre outros assuntos nós falamos sobre inspiração feminina, sua relação com as redes sociais. Ah, e lembra da tour sobre aposentadoria? Nas palavras do próprio, a história não foi bem assim. “É uma coisa complicada nesse momento”.

Papelpop: Vendo “Q.S.A.” e outras colaborações suas, no palco inclusive, não dá pra dizer outra coisa: você e a Gaby tem uma química incrível. Fiquei curioso sobre como surgiu essa relação.

JALOO: Olha… essa relação é muito maluca, já teve varias etapas, tipo novela (risos). A primeira vez que nos falamos pessoalmente foi quando eu fiz meu TCC, em 2011. Meu trabalho de conclusão de curso foi uma discussão sobre technobrega. Eu já fazia remixes, acho até que ela já conhecia o meu trabalho e mandei uma mensagem pra ela no Soundcloud. Ou foi no Twitter? Bem, foi uma plataforma dessas bem velhas. Quando recebi um ‘Sim’, fui até ela, me lembro que a encontrei no salão de beleza. Conversamos, a entrevista foi pro meu TCC e me formei. Me mudei pra São Paulo e nesse mesmo ano ela explodiu com “Treme”. Ou seja, foi algo que veio antes de ela estourar e lançar o disco. Aí ela ficou gigante virou uma deusa e eu tava começando a trilhar o meu caminho e foi meio que isso. Eu fui muito paciente, de trilhar o meu próprio caminho e fazer escolhas. Até que agente se encontrou de novo, porque temos um padrinho musical, Carlos Eduardo Miranda, já falecido. Numa infeliz coincidência, quando ele partiu, fizemos um show pra angariar fundos pra família dele e rolou um convite pra ela participar. Ela gravou vozes no meu disco, veio aqui em casa, se familiarizou com o meu público… Agora eu tô produzido o álbum novo dela.

Vocês filmaram esse novo clipe na região do Rio Tapajós, que é um lugar maravilhoso! Como foi o dia das filmagens, vocês se divertiram?

Foi tudo muito real, ficamos hospedados naquele barco, inclusive. Eu já tinha um roteiro e a ideia era gravar esse clipe inicialmente era no Rio. Era época de Rock In Rio, estávamos todos no mesmo lugar, Gaby já mora lá… Aí achei que era alugar um barco, ligar as câmeras seguindo o roteiro e pronto. Depois percebi que o buraco era bem mais em cima, a época do festival era a pior pra que isso acontecesse (risos). Mas aí descobrimos que Gaby podia resolver esse rolê do barco por meio de um amigo dela, o Saulo. Conversamos com ele, que amou a ideia e acho que três semanas depois estávamos lá. Eu levei o Rodrigo [], diretor q eu amo, que fez “Rito de Passá” da Tha, porque ele trabalha com luz natural. Todas as cenas são captadas de maneira orgânica e acho foda, aquela locação pedia. Passamos dois dias, foi tudo muito tranquilo, gravávamos e tomávamos banho de rio… É um dos lugares mais bonitos do mundo, meio surreal, parece que você tá no mar, quando na verdade é um rio de 15 km de largura, com água doce. Muito doido.

Você comentou algo outro dia sobre a relação com o masculino-feminino. Além da Gaby, você também tem uma relação bem forte com a MC Tha e, por alto, no ano passado também trabalhou com Bad Sista, Duda Beat, Dona Onete, que são mulheres fortes, poderosas. De que maneira essas artistas te inspiram?

Eu acho que tiro muito da minha inspiração de mulheres. Tô tentando, me esforço pra explorar o lado masculino, mas ta difícil. Viver esse universo nesse disco, fazer a divisão dessas questões é um longo trabalho. A Tha é uma força pra mim em especial e ver toda a trajetória dela me “reinspirou” em relação a minha própria, ao que eu gostaria de fazer. A Gaby participou do ultimo show que fiz no Pará e é inexplicável. Ela move o publico, são mulheres muito fortes e acho que é uma questão da gente pautar sempre o quanto elas são guerreiras, fortes e lutadoras. O quanto a gente tem que se inspirar nelas e no universo que existe ao seu redor.

Eu sou goiano e vejo o crescimento do interesse do público, principalmente do eixo Rio-SP, pela cultura de outros estados. Outro dia ouvi Dona Onete dizer que o Pará tem uma das culturas mais ricas do Brasil, o que é verdade… e isso tem sido presente no seu trabalho, nesse momento em especial. Esse interesse de inserir elementos específicos na sua música sempre existiu ou veio mais tarde, já morando fora?

[O envolvimento] Faz parte, tá atrelado ao meu DNA. Sou cidadão do Pará, morei 24 anos lá e repentinamente mudei e vivo em São Paulo, onde já estou há 8. É impossível não fazer parte do que eu represento como artista. A diferença é que no primeiro disco eu tava muito mais preocupado em mostrar quem eu era, no geral. Agora, à medida que o meu nome cresceu, principalmente no Pará – olha, eu fico assustado, é muito louco (risos)… bem, eu já tomei isso como um compromisso. Quero mostrar as minhas raízes e o orgulho que sinto em fazer parte de tudo. Foi um processo, tô enaltecendo agora como um dever. Nós, que nascemos lá, temos muito orgulho da nossa cultura.

Você também passou por um processo de amadurecimento nos últimos anos que acabou resultando no seu novo álbum. Você costuma se autoavaliar? Que evolução você nota entre os dois trabalhos já lançados?

Meu bem, eu sou Virgem com Capricórnio! Eu sou a autoavaliação em pessoa! Não me deixo em paz. Eu acho que a maior questão entre os dois lançamentos diz respeito à minha fanbase, que tem se dividindo muito. Tem gente que ama o primeiro disco, tem gente que adora o segundo… A intenção era essa, mostrar diversos universos. Eu trabalho com eras na minha carreira, então se acabou uma, logo começa outra. Até por isso tô focado pra não mudar tanto nesse disco, pra traçar um fio entre as obras e mostrar algo diferente no próximo. Agora, sobre amadurecimento, sem dúvida o que mais noto em mim mesmo, como artista, diz respeito aos meus argumentos, à maneira com que conduzo as relações. “#1” foi sobre o meu primeiro amor, eu era muito dramático (riso). Agora, em “ft (pt.1)”, eu falo de temas mais maduros. Eu me preocupo mais com o outro, nem sempre me coloco na posição de vítima – que é o que fazemos quando amamos pela primeira vez.

Você participou do Pará Pop, no Rock In Rio, e essa edição do festival foi incrível porque, além de todo esse mix de ritmos que o seu show trouxe, também tivemos o funk brilhando em vários momentos. Sob o seu ponto de vista, o que esse momento significa pra música?

Fico honrado de estar junto ao funk nesse momento. É importante pensarmos que o que aconteceu ali faz parte de uma evolução que acontece devagarinho, que é silenciosa, mas que aumenta e atrai os olhares. Os festivais tem se ligado nisso. O Bananada, aí em Goiânia, por exemplo, só cresce e não busca atrações só do eixo Rio-SP. No Pará temos vários festivais como o Se Rasgum que faz algo semelhante. É possível trazer ícones como Gal Costa, que pertence a um círculo de atrações que a gente tinha mais dificuldade de trazer e que agora conseguimos. Sempre aliadas às “local queens”. É ótimo ver esse crescimento e fico orgulhoso que as coisas tenham caminhado pra esse lado.

Pergunta capciosa: você diz na letra desse novo single que “O tempo é uma flecha” e você “não vai parar“. Também no Rock In Rio você deu uma entrevista em que afirmava não gostar de ser famoso e depois os jornais, inclusive o Papelpop, repercutiram dizendo que era uma aposentadoria. Depois eu interpretei isso como um desabafo, sob a ótica de sobrevivência do artista independente. Quais são os maiores desafios disso? Dá pra listar um só ou são mais?

(Risos) Vamos lá. Eu acho que à medida que a gente cresce e vive disso [da música], é preciso ter consciência de que tem muita gente envolvida. Não é um monte, mas tem uma galera. Pense comigo: banda, manager, equipe técnica, todos em um processo que não é tão simples. É uma empresa no fim das contas e temos que cuidar de tudo sozinhos. Estamos mais envolvidos em todo o processo do que os artistas de gravadora. Dormimos pensando se as contas vão fechar no fim do mês, às vezes no fim da semana. Existe uma pressão psicológica e o que eu disse naquele momento virou desabafo. Além de tudo, se você faz o clipe, pensa em tudo, há quem reclame reclame. A gente fica desapontado. Eu falei sobre um desejo, mas não necessariamente de me aposentar e parar. Era mais sobre, em algum momento, trabalhar com outra coisa. Não é algo que eu queira por agora não, a vontade de trabalhar com música segue firme, tanto que sigo produzindo o disco de Gaby. Só meti os pés pelas mãos nessa declaração. Isso de se expressar artisticamente nunca vai sair de mim, sempre fui uma pessoa multimídia.

 

“ft (pt.1)”, o novo disco de Jaloo, está disponível em todas as plataformas:

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