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Entrevista com Aretuza Lovi: “O Norte e o Nordeste me inspiraram a ser a artista que sou hoje”

Aretuza Lovi cresceu no entorno do Distrito Federal, onde não raro se ouvia o arrasta-pé do forró. Um belo dia, já adulta e inspirada pelas apresentações elaboradas de bandas como Companhia do Calypso e Calcinha Preta – verdadeiras febres no passado – resolveu montar a sua própria. A admiração que sempre sentiu por ídolos como Mylla Carvalho a acompanhou décadas adentro, inclusive quando decidiu seguir em carreira solo.”Ela é uma grande inspiração pra mim, pra Pabllo [Vittar] também. É uma artista completa que canta, dança, performa”, explica ao Papelpop. “Digo com tranquilidade: se ela estivesse em atividade até hoje seria imbatível”.

A drag, hoje um dos nomes mais expressivos do país dentro do seguimento, pensa assim como Mylla em cada detalhe de suas criações. Por exemplo, para construir a colcha de referências de “I Love You Corote”, seu novo clipe, ela fez seu coreógrafo assistir a vídeos de bandas icônicas que marcaram uma geração de adolescentes – hoje adultos. Trabalho incessante. Pesquisou tudo sobre figurinos, sons e estética a fim de obter um registro visual dançante, mas também afetivo.

Ao assistir ao clipe os fãs se deparam com uma colagem conceitual que diz muito sobre a forma com que a artista trabalha. Seus desejos de viver, amar e ser feliz estão todos representados ali. Além de empregar no roteiro uma veia sutilmente cômica, Aretuza aproveita a oportunidade pra renovar seu status de diva com cenas de carão e figurinos extravagantes. “Quis trazer muita verdade e construí um processo semelhante ao que realizei nas minhas primeiras produções. Participei da compra do tecido, da construção de ideias, da pesquisa por referencias, da finalização do roteiro. Busquei trazer o que eu vivi, minha historia”.

Gravadas em um bar à beira da estrada, as imagens trazem a artista como uma grande diva, à la “Priscilla, Rainha do Deserto”. Ela flerta, dança e canta para uma plateia humilde, mas que é na verdade representante de uma multidão cativada por seu trabalho. “Esse clipe é muito especial porque ano passado não lancei nenhum. Perguntaram se eu morri (risos). A gente vive num mercado em que se cobra muito a parte videográfica porque as as drags revolucionaram o jeito de se fazer isso, mas é sempre divertido e alegre fazer”, diz.

Chiclete, “I Love You Corote” gruda na cabeça após a terceira ou quarta audição. Não à toa foi apontada rapidamente pelos fãs como candidata a hino do Carnaval. Ao ler os comentários, a artista diz ter reagido com bom humor. “Não era a intenção, juro. Fizemos o que tinha que ser feito”. Embalada pela sanfona, Aretuza abre uma porta para falar de um tema importante: a ascensão de ritmos que até pouco tempo eram considerados periféricos. Em 2019 grandes festivais do circuito nacional como Bananada, Se Rasgum e o próprio Rock In Rio resolveram abraçá-los de modo que shows marcados pelo funk, technobrega e carimbó foram aplaudidos efusivamente. Ainda falta algo? Pra ela, sim.

“Quis um forró bem raíz nesse single porque quero que as pessoas conheçam mais. Acho incrível quando sons segregados ganham espaço no Sul, onde poucas pessoas conhecem ou nunca tiveram contato. Temos poucos artistas desse meio inseridos na grande mídia, a lógica da indústria mainstream é massacrante”. Apaixonada pelo Brasil, ela destaca ainda dentro desse processo criativo a importância de abraçar as próprias origens. “Automaticamente você faz as coisas com mais vontade e satisfação. As pessoas acreditam em você. Entendi isso logo no meu primeiro single, quando eu gravei um technobrega. Hoje sigo trazendo as regionalidades, e vocês verão no próximo trabalho. É uma forma de homenagear o ritmo, enaltecer e divulgar porque o Norte e o Nordeste me inspiraram a ser a artista que sou hoje”.

Nesse embalo ela faz planos pra 2020, alguns já parcialmente concretizados. Além de tocar no Esquenta Bloco Gambiarra, em São Paulo, no próximo dia 07 de fevereiro, Aretuza pretende expandir sua agenda de Carnaval e finalizar um novo EP, que segue em fase de produção. “No bloco vou tocar músicas nossas em versão de Axé, com mais algumas surpresas… será bem cênico, lúdico. As novas músicas vem divididas em duas partes. O que posso adiantar? Não muita coisa. São letras que falam de todos os tipos de amor, desde a paixão até a superação. Eu diria, um encontro com a felicidade”.

 

“I Love You Corote” está disponível em todas as plataformas digitais. Já ouviu hoje?

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