A gente já comentou aqui sobre como a Allie X é o amorzinho da Pabllo Vittar, né? Agora a cantora canadense está lançando mais um projeto que tem tudo pra conquistar também o seu coração: o disco “Cape God”. Depois de uma passagem por terras brasileiras no ano passado – ela se apresentou em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba – Allie logo começou a divulgar teasers dando pistas do que estava por vir: looks que remetem diretamente a Lady Gaga na era “Born This Way”, texturas sonoras deliciosas e mais amadurecidas, parcerias com Troye Sivan e com (a queridinha da crítica internacional) Mitski. Além disso tudo, claro, letras bem complexas.
Por exemplo, a canção em parceria com Sivan, “Love Me Wrong”, traz uma narrativa sobre aquela sensação de que o amor dos pais é um pouco errado, com um pouco de controle. Já “Regulars” ironiza nosso desejo de nos sentirmos parte dos moldes mais tradicionais. “Muitos desses sentimentos e coisas que vivi nunca tinham sido colocados numa canção”, diz por telefone ao Papelpop. Sobre o Brasil, ela falou sobre suas experiências de retorno, mas foi além: também trouxe pra conversa sua relação com o próprio corpo, os prós e contras das redes sociais e… waffles?! Vem ler:
Papelpop: Estou obcecado pelas canções que você tem lançado, do seu novo álbum “Cape God”. Em nosso encontro para as fotos e entrevista que fizemos na sua última vinda ao Brasil, em junho de 2019, a playlist do estúdio tinha Bowie, Prince e uma galera mais antiga da música. Você sente que esses artistas têm influenciado seu novo som?
Allie X: Sim, acho que muitas canções mais antigas mais antigas têm me inspirado, mas quando fiz o disco [novo], eu não estava ouvindo muito de nada. Tudo aconteceu bem organicamente e surgiu um som. Nunca tinha me sentido “tão eu” enquanto compondo algo. É ótimo.
Num post do Instagram, você disse que “Cape God”, apesar do nome, é como se fosse o “CollXtion III. Nesse momento da sua carreira, qual é a parte do seu X que está sendo decifrada?
Com “Cape God”, escrevi refletindo muito sobre como me sentia sendo adolescente e jovem adulta. E muitos desses sentimentos e coisas que vivi nunca tinham sido colocados numa canção, porque eu não escrevia quando era adolescente. Então a música, as camadas e a complexidade deste projeto realmente me ajudaram a escrever letras que também eram complexas. Nunca senti muito que consegui fazer isso com a estrutura tradicional do pop, com quatro acordes que se repetem até o fim. Foi uma experiência muito terapêutica. Acho que liberei e entendi algumas coisas no processo.
A gente pode saber um pouco mais do que houve nesses eventos que influenciaram as narrativas do trabalho?
Tudo é bem abstrato. Não dá pra levar nada tão literalmente comigo [risos], mas com certeza há muito sobre como eu me sentia muito deslocada na escola. Zoavam muito de mim. E algumas músicas também foram inspiradas numa amiga bem próxima. Também tive muitos problemas em conectar ao meu corpo. Se é que isso faz sentido, no ensino médio, me senti muito fora do meu corpo. E também tive que lutar contra uma doença, então tudo isso está [no trabalho] de uma forma abstrata.
O disco vai ter colaborações com dois artistas: Troye Sivan, com quem você trabalha junto desde 2015 (compondo diversas canções dos dois álbuns do cantor) e a cantora Mitski. Como foram esses encontros?
Trabalhar com a Mitski foi legal demais. Quando descobri a música dela, fiquei muito fã e pedi pra minha equipe falar com a dela, mas nem estava esperando que ela iria topar compor juntas, mas ela quis. E funcionou logo de cara. Essa canção do disco, “Susie Save Your Love”, saiu logo no primeiro dia que a gente se conheceu. Ela é uma pessoa ótima e, em termos de composição, a gente se deu muito bem. Foi muito fácil de escrever com a Mitski.
E como veio “Love Me Wrong”, com o Troye? Ela foi feita pensando no álbum?
Na verdade, ela foi feita para um filme, mas ao mesmo tempo, também é muito sobre os sentimentos que tinha na adolescência. Então, assim que ela não entrou no filme, sabia que ia pro disco. Fazia sentido demais.
Falando de inseguranças, vamos pra um papo mais filosófico: qual tem sido seu maior medo?
Falhar, eu acho [silêncio seguido de risos] Sou muito guiada pelo medo de falhar.
Me identifico demais com isso! Hahaha
Também acho que todo mundo tem medo da morte, mesmo a gente não pensando tanto nisso, porque não é bom ficar com isso na cabeça. Mas provavelmente também tenho medo de morrer também.
Lembro que, no começo de sua carreira, você não falava muito sobre si mesma, especialmente nas redes sociais. Hoje, seus posts são mais engraçados e pessoais. Acredito que isso tenha até a ver com seu conceito de ir “descobrindo o X”, mas você sente que no início tinha relação com o fato de que talvez um artista que se exponha muito perca o mistério ao redor, aí as pessoas poderiam questionar suas habilidades artísticas, ou algo assim?
É, não me sinto mais assim, mas no começo eu era muito tímida. Não queria que ninguém soubesse do meu histórico, das músicas que eu fazia antes, ou até do meu nome real e idade. Queria me manter bem anônima, mas acho que boa parte disso era só porque eu estava nervosa. Aí fui conhecendo bem os fãs, em turnê e tal… eu só me abri. Eu gosto de ser engraçada. É como sou na vida real, então por que não ser assim tanto nas redes sociais, sabe? É a mesma coisa com passar a mostrar meus olhos, por exemplo. Tudo aconteceu… na jornada da coisa toda.
Na última vez que você esteve no Brasil, foi incrível pra todos os fãs. Você pretende voltar logo com sua nova turnê?
Sim, eu gostaria! Eu adoraria fazer um show do “Cape God” aí. Vamos ver quais oportunidades aparecem .
E qual sua lembrança mais especial de tocar aqui?
Ir pro Rio foi muito divertido! A gente fez um festival lá. Foi muito massa. Toquei antes da Gal Costa e ela é sensacional. O palco estava virado pro mar e dava pra ver o Pão de Açúcar. E depois a gente ficou pra umas férias também.
Bom… seus fãs têm feito muitas piadas com você no Twitter sobre waffles da “dieta paleo”. De onde veio isso?
HAHAHAHA é muito engraçado que você saiba disso! Acho que começou porque eu quase nem olho no Twitter durante o dia, mas aí entro na banheira de noite e acesso. E às vezes estou chapada e começo a tuitar coisas aleatórias, aí os fãs criaram a conta pros meus “waffles paleo” [sobre os quais tuitei uma vez].
Eu AMEI. Falando ainda sobre isso, especificamente sobre sua rotina e juntando a um dos tópicos do novo trabalho, que é sua relação com o corpo: lembro que há alguns anos, você seguia uma dieta/filosofia chamada Ecologia do Corpo. Como é sua relação com alimentação e corpo atualmente?
Que pergunta boa! Eu basicamente ainda sigo essa dieta. Mas eu costumava não comer nenhum tipo de farinha, mesmo que fosse, sei lá, de quinoa e hoje fiz umas mudanças, aí como farinha. Por isso que posso comer os tais waffles! Hahaha Eu costumava comer tão pouco açúcar que não consumia nem frutas, mas agora voltei e consumo laticínios também. Acho que essas foram as principais mudanças.
Nossa última pergunta é sobre a indústria da música. Especialmente sobre novas cantoras e compositores, você frequentemente comenta da importância de cuidar do que você cria. Qual conselho você gostaria de saber quando estava começando?
Tem muito que eu poderia dizer. Por exemplo, como não assinar um contrato ruim. Ou que as pessoas iriam me decepcionar e coisas assim. Mas acho que o que realmente gostaria de ter sabido antes era o quanto ia demorar [pra carreira dar certo]. Acho que eu teria ido com mais calma. Tenho ido com toda potência por tantos anos que agora já ficou meio cansativo, sabe? Queria que a alguém tivesse me dito também que não tenho que dizer sim pra todas as coisas. E também pra me curtir um pouco, não só trabalhar até a exaustão.
Allie X lança o disco “Cape God” em 21 de fevereiro. Enquanto ele não chega, vem ver o clipe do single “Regulars” com a gente:
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