Papelpop elege os 20 melhores álbuns internacionais de 2019

Convenhamos: todos nós dançamos, cantamos, choramos e, acima de qualquer coisa, vivemos momentos inesquecíveis ao som de faixas que, embora recentes, tem tudo pra serem levadas daqui para a posteridade. Embora haja quem discorde, os últimos 12 meses foram repletos de lançamentos geniais.

Não importa o meio de gravação: quisemos aprender todas as coreografias do Beychella com seu registro, chegar arrasando nas festas ao som da mistura pop (e sofisticada) de Solange e ainda por cima tomar as dores de Nick Cave. Também fomos tomados pela febre Harry Styles e reavivamos o verdadeiro significado de empoderamento com Lizzo, a nova diva.

O Papelpop pode dizer com tranquilidade: foi mesmo um ano incrível! Logo, estes são os nossos 20 eleitos. Seu/sua fav está entre eles?

20. Nick Cave, Ghosteen

Em 2015 Nick Cave perdeu o filho Arthur, de 15 anos. Diante da tristeza que o episódio lhe reservou, o ícone do rock resolveu se fechar. Entretanto, a onda de comoção que o acontecimento desencadeou no público fez com que o mesmo se sentisse abraçado, ao ponto de encontrar na música e nas conexões que eventualmente esta pode cativar, um refúgio. Logo, nada mais justo do que cantar, ainda que indiretamente, sobre vida e morte. Mostrar-se vivo, acima de tudo, até no conceito da obra.

“Ghosteen”, seu 17º álbum de estúdio, pode ser enxergado como uma família. Primeiro vem os “filhos” para, na sequência, surgirem os pais, representados por uma segunda etapa com apenas 3 faixas de longa duração. Sublime, profundo e sentimental.

19. Songs For You, Tinashe

Após ter se visto sufocada por contratos que havia assinado com sua antiga gravadora, Tinashe foi ao estúdio e gravou as canções do disco “Joyride” – que diante de uma fraquíssima recepção e de uma avalanche de críticas, fez com que rolasse uma série de desentendimentos e uma posterior uma quebra de contrato. O resultado disso tudo foi a gestação de um sucessor, desta vez munido de uma fonte criativa que jorrava boas ideias, embora parecesse adormecida. Carregado de sentimentos, dores e questões por resolver, “Songs For You” dispensa apresentações. É um resgate de identidade por parte de uma artista que pede respeito pro seu ciclo.

18. My Name is Michael Holbrook, MIKA

Após quatro fucking anos sem lançar qualquer material inédito, o franco-libanês Mika decidiu que era hora de voltar ao estúdio. Neste disco, Mika empreende uma jornada rica e intensa pelas dores e glórias dos desafios enfrentados pelo cantor. Bem, em suas próprias palavras:

“Minha intenção foi escrever sobre a vida, assim como aconteceu. Uma espécie de álbum feito em tempo real. É uma explosão de alegria, cor e emoções. É profundamente pessoal, mas também universal. Eu tenho chegado a entender que a única coisa que importa na vida são as pessoas que amamos e as histórias que contamos. Quem dá a mínima para o amanhã? Agora, eu sim”.

Pra dançar, se sentir maravilhoso, se emocionar, mas, acima de tudo, sentir!

17. Shakira in Concert: El Dorado World Tour Live, Shakira

Quem esteve nas duas apresentações feitas por Shakira no Brasil em 2018 sabe: a turnê “El Dorado” foi do início ao fim uma celebração emotiva e poderosa da latinidade, da resiliência da artista e de seus 27 anos de estrada. Foram muitas histórias vividas ao som de faixas como “Antología”, “Inevitable” e “La Bicicleta”. Dançamos, cantamos, choramos… e agora temos o prazer de reviver alguns desses momentos a partir do filme-documentário “Shakira in Concert”, que fez sua estreia nos cinemas de todo o mundo no último dia 13 de novembro.

O conteúdo, gravado em duas noites no The Forum de Los Angeles, está disponível em áudio nas plataformas digitais  (logo mais em DVD) com uma mixagem de maravilhosa que te coloca dentro da própria experiência. É Shakira em sua máxima potência!

16. thank u, next, Ariana Grande

O negócio é ser grata e Ariana Grande sabe muito bem como demonstrar isso. Listando cada um de seus ex-namorados e feliz com os ensinamentos que cada um deles trouxe pra sua vida, a cantora foi ao estúdio e gravou uma faixa. O que veio a partir daí foi um surto criativo que permitiu que outras 11 canções fossem criadas, tornando-a uma das mais ativas estrelas do pop contemporâneo – afinal de contas, quando “thank u, next” afinal chegou às prateleiras, “sweetener”, seu antecessor, mal havia esfriado nas gráficas.

Nestas novas faixas Ariana abre o coração e constrói seu trabalho mais pessoal até então, marcado por infusões de notas altas, precisas, e boas referências. O visual também não deixa a desejar: cada clipe é um show à parte. O pop nunca foi tão vivo – e chiclete!

15. Cheap Queen, King Princess

Uma das grandes revelações de 2019 foi King Princess. Natural de Nova York, o ícone se deixa cercar por referências dos anos 1990 – algo que já vinha sendo observado, por exemplo, nas escolhas de seus colaboradores em projetos antecessores. Meses antes, por exemplo, ela regravou o clássico “I Know”, de Fiona Apple, com a própria. Agora, indo ainda mais fundo, Princess promoveu uma conversa grudenta entre o rock e o R&B que fizeram com que até mesmo seus não-hits se tornassem possíveis sucessos radiofônicos. O mais legal? Há uma linearidade que perpassa toda a obra, indo desde o término de um relacionamento, doloroso, até o início de um novo romance.

14. Magdalene, FKA twigs

Todos nós fomos pegos de surpresa quando FKA twigs liberou nas plataformas o clipe nada menos fabuloso de “Cellophane”, em que ela aparece fazendo pole dance enquanto reflete sobre uma série de questões existenciais. Essa prévia abriu os trabalhos do disco “Magdalene”, Apoiada na figura mítica de Maria Madalena, que rende inclusive título ao projeto, twigs vai fundo nas vivências e na trajetória de figuras femininas, tentando dissociá-las de narrativas a priori protagonizadas por homens. Todo o projeto vem marcado por uma lírica cheia de graça, inspiração e força, capazes de torná-lo seu maior disco até então (foi mal aí, “LP1”!). A melancolia, mais uma vez, dá o tom. Teria sido 2019 um ano triste na música também?

13. Lover, Taylor Swift

O amor é um tema fértil, né? Nunca será possível dizer todas as coisas a seu respeito e Taylor Swift, embora esteja em pé de guerra com a Big Machine Records, sua antiga gravadora, tem levado adiante uma de suas eras mais bonitas. Em “Lover” a artista abre seus diários por meio de letras apaixonadas, que vão da dor ao êxtase de se sentir puramente apaixonado, a fim de traçar uma nova conexão com os fãs. Aqui ela é uma contadora de histórias que faz questão de deixar claro o quanto cada experiência é única e o quanto os caminhos podem ser tortuosos – mas nunca definitivos.

É preciso ouvir atentamente o que ela tem a dizer – e se permitir um mergulho nesta experiência.

12. Hollywood’s Bleeding, Post Malone

Quando Postinho veio ao Brasil no último mês de abril para uma apresentação no Festival Lollapalooza nós mal imaginávamos que um disco novo estivesse sendo gestado. Pois não só isso acontecia às nossas costas, como também tivemos o prazer de realizar com seu lançamento, mais uma vez, um desejo interno de compará-lo ao Chorão brasileiro. Poético, melódico e sempre com boas rimas na manga, “Hollywood’s Bleeding” é o disco mais pop de Post Malone até o momento, servindo também como um desapego, ainda que indireto, de uma necessidade de alcançar números expressivos ou de superar os êxitos alcançados com seus trabalhos anteriores.

Se seu desejo é entreter, é preciso dizer que ele consegue fazê-lo muito bem. O grande destaque do disco está em seu flerte com o rock, expresso por meio de faixas como “Allergic” e “Take What You Want”, seu featuring com Ozzy Osbourne e Travis Scott. Da série featurings que não sabíamos que precisávamos até tê-los em mãos!

11. Father of the Bride, Vampire Weekend

Fofos! Os caras do Vampire Weekend também fizeram neste 2019 seu retorno ao estúdio com o disco “Father Of The Bridge”. O material, elogiadíssimo em revistas especializadas como NME, Rolling Stone e Pitchfork, resgata em meio a experimentos sonoros a transformação do grupo conforme foi passando tempo. Casados e com suas famílias sendo formadas, seria óbvio que o desejo dos integrantes fosse representar em sua próxima obra o cotidiano e a forma com que lidam com questões latentes no momento como a própria espiritualidade. O que não é de todo piegas, pelo contrário!

10. IGOR, Tyler, The Creator

Dois mil e dezenove foi um ano cheio de bons álbuns de rap. Embora o hype tenha ficado em torno de lançamentos como “Jesus is King”, de Kanye West, Tyler, The Creator foi o responsável por um dos discos mais criativos do gênero neste ano – e que não poderia, de forma alguma, ficar de fora desta lista. “IGOR” vai buscar referências na figura monstruosa do servo de Conde Drácula (daí o nome) para criar um personagem que canta sobre suas crises, suas dependências e seus amores. Há uma seleção cuidadosa de elementos sonoros no projeto e o rap, mesmo sendo excelente, fica em segundo plano – por incrível que pareça. O mais legal talvez seja a forma com que ele conduz seu projeto, transformando-o em um culto às múltiplas identidades que é capaz de criar. Genial, controverso e muito, muito descolado.

9. Charli, Charli XCX

É aqui o Disk PC Music? Queremos pedir pra tocar inteiro o novo disco de Charli XCX! Sempre empenhada em sua missão de fazer música pop de qualidade, a fada britânica entregou aos fãs no segundo semestre deste ano um disco autointitulado e cheio de batidas chiclete. Reunindo uma série de parceiros como Pabllo Vittar, Sky Ferreira, Troye Sivan e Christine And The Queens (já viu nossa lista de melhores clipes do ano? “Gone” está entre os 20 mais!), Charli aposta em uma receita que mescla elementos do underground ao pop. Pra quem já compôs até pro Blondie, conquistar seu público se torna uma tarefa deliciosa: aqui a artista se desafia e mostra como ninguém o quanto sabe movimentar a pista. Seu objetivo é fazer todo mundo bater cabelo, assim que se aperta o play.

8. Fine Line, Harry Styles

O que dizer deste álbum que mal chegou e já consideramos pakas? “Fine Line”, novo álbum de Harry Styles, está disponível desde a primeira semana de dezembro e já é uma das nossas grandes obsessões. Dando a impressão de que o artista finalmente se encontrou, somos apresentados a um trabalho redondinho, rico em referências dos anos 1960 e 1970 e que faz com que cada audição sempre se pareça com a primeira.

Entre o presente e o passado, Harry lapida uma narrativa sobre conflitos internos marcada pela melancolia e um tom confessional, dividindo a mesma, sonoramente falando, em duas partes. A primeira, bastante comercial. A segunda, por sua vez, mais experimental, minimalista, com arranjos milimetricamente pensados. Já faz tempo que o cantor deixou de ser aquele garoto da One Direction. A ansiedade só cresce pra vê-lo em cena no Brasil, em outubro de 2020!

7. BUBBA, Kaytranada

Kaytranada é pra maioria das pessoas um daqueles amores fulminantes e somos prova viva disso. Desde que ele lançou seu remix para “If”, da Janet Jackson, sabíamos que estávamos diante de um rapper gigantesco – e não erramos. Em 2019 o cantor entregou o disco “BUBBA”, álbum que chega após seu aclamado debut, “99,9%”. Ainda mais versátil, ele se apoia em referências da década de 1970, passeando entre o R&B e o pop psicodélico, sempre mesclados a rimas fortes e bem trabalhadas. Um ponto alto? impossível escolher, mas as participações especiais só abrilhantam o projeto. Colaboram Tinashe, Estelle, Pharrell Williams e Kali Uchis, que abre a maravilhosa 10%. De ouvir rezando!

6. Madame X, Madonna

O mundo é selvagem e o caminho é solitário foi o lembrete deixado por Madonna a todos nós em 2019, ano em que a rainha fez seu retorno triunfal ao pop com “Madame X”. O trabalho é um salto criativo em sua discografia, se comparado a suas derradeiras produções e vem inspirado pela cultura de diferentes locais do mundo, entre eles Portugal, a América Latina e o Norte da África. A partir das várias noites de fado que frequentou vivendo em Lisboa, M aguçou seus ouvidos para a recepção de novas sonoridades e ao lado do amigo Mirwais Ahmadzaï criou essa espécie de disco-manifesto. A maioria das composições é madura e traz uma Madonna reflexiva sobre o mundo em convulsão.

Ela nos convida a rebolar refletindo sobre a política de armas dos Estados Unidos em “God Control” e lembra da necessidade de se manter resiliente em “I Rise”. Fala também de sua constante busca por identidade na jovial “Medellín” e na séria “Extreme Occident”. De quebra, ainda mete um funk carioca ao lado de Anitta e pesa a mão no autotune pra cantar ao lado da Orkestra Batukadeiras, de Cabo Verde. Uma homenagem belíssima a sua história de luta. “Madame X” está entre os melhores álbuns da rainha.

5. WHEN DO WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO?, Billie Eilish

O disco de estreia de Billie Eilish é absolutamente tudo! Imagine só conseguir acessar sua memória de forma incisiva e transformar sonhos bizarros em canções? Pois ela não só fez isso, como também conseguiu, aos 17 anos, emplacar várias canções nas rádios do mundo todo. Num passe de mágica levou uma legião de fãs à rendição completa por meio das narrativas de “WHEN DO WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO?”, que falam sobre caras malvados, uso de medicamentos e ainda abordam questões internas como a autoaceitação e o peso do cristianismo. Tudo isso, sempre regado ao uso de sintetizadores e do bom e velho autotune.

4. Norman Fucking Rockwell!, Lana Del Rey

Estamos vivenciando a evolução de uma das melhores artistas surgidas nesta década. Lana Del Rey ainda não tem dez anos de carreira (não pelo menos usando seu presente nome artístico), mas já tem se firmado como uma deusa. Se antes ela dava sono a muita gente, agora chama a atenção com suas letras poderosas em que se mostra um tanto mais feliz. A morbidez não tem lugar em “Norman Fucking Rockwell!”, seu novo disco de estúdio. Embora ainda preserve sua essência, Lana se mostra cada vez mais solar e apta a emergir da tristeza. Os cenários decadentes e suas frustrações vão perdendo força em sua narrativa para dar espaço a novas descobertas.

Um ponto especial deste trabalho? A abertura. Quer algo mais sincero do que o verso “He fucked me so good that I almost said I love you”?

3. When I Get Home, Solange

As irmãs Knowles dominaram esta lista e não podemos fazer nada a não ser… nos dobrarmos. Quando “A Seat At The Table”, primeiro álbum de Solange, chegou às lojas, o clima foi de comoção. A obra era brilhante e a impressão que se teve foi a de que seu auge criativo havia sido alcançado logo em seu debut. Uma tolice, pensar assim. Com “When I Get Home” a artista foi ainda mais longe e deu continuidade ao trabalho iniciado em seu antecessor, explorando ainda mais a fundo sua estética e suas dissonâncias.

Com influências dos anos 1980, do R&B clássico e uma produção avant-guarde, o projeto foi comparado à exaustão (sob uma ótica positiva, claro) a “The Miseducation of Lauryn Hill”, clássico lançado há duas décadas. Se fosse possível definir os conceitos de elegância, sofisticação e bom gosto em poucas palavras? “Jerrod”, “Almeda” e “Way To The Show”.

2. Cuz I Love You, Lizzo

“I’m crying. Cuz I love you”. Eu aposto que você leu isso cantando! Lizzo é a nossa medalha de prata no pódio de Melhores Álbuns de 2019 por razões um tanto óbvias: ela tem pose de ícone, entrega um som fresco e ainda por cima é uma super compositora – sempre estamos diante de letras espertinhas, marcadas por uma inteligência que pouca gente anda tendo no pop.

Passamos vários momentos deste ano ouvindo “Cuz I Love You”, que vem como a comprovação de várias questões: a primeira delas, de que é possível ser sincero ao falar de sentimentos. A segunda, de que a inventividade de sua autora só cresce a cada trabalho. E em terceiro, mas não menos importante: a de que a diva dos anos 2020 já tem sua maior representante. Fruto de cerca de 10 anos de um intenso trabalho de construção identitária, o disco evidencia que não há ninguém como Lizzo.

1. HOMECOMING: THE LIVE ALBUM, Beyoncé

Não teve jeito. Foi ela quem mais ouvimos em 2019 e temos que reconhecer: o Beychella foi um marco não apenas na cultura pop do fim desta década, mas também em nossas vidas. Fomos perseguidos pelo desejo de assisti-lo, ouvi-lo e contemplá-lo em todos os lugares. No trabalho, em casa, no jantar, em nosso despertar… o que fez com que Santa Beyoncé e nosso padroeiro Jay-Z ouvissem nossas preces e entendessem que nada poderia ser mais justo do que um lançamento digital.

“Crazy In Love”, “Formation”, “Diva”, “Flawless”… Estão no registro as 40 canções (!) ensaiadas pela artista ao longo de mais de 4 meses e, posteriormente, transformadas em trechos do documentário de mesmo nome, lançado pela Netflix. “Homecoming: The Live Album” é perfeito pra soar nos fones de ouvido enquanto fazemos aquela caminhada fatal e serve também como um statement do impacto de Queen B – uma das mais incríveis e inventivas artistas que ascenderam nos últimos anos.

Diz aí: qual foi o seu favorito?

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