Se existe um gênero musical que não para de surpreender, este é o rap. Seja na produção, no uso de samples ou por meio de parcerias inusitadas, os artistas estão sempre trazendo novidades capazes de transportar o público para uma experiência única.
Neste ano, foram inúmeras as rimas que nos embalaram, inspiraram, empoderaram e ainda por cima deixaram aquele sentimento de que, embora a cultura e as minorias estejam sob ataque, ninguém pode parar mentes criativas e talentosas. Pensando nisso, bolamos uma lista com os principais lançamentos do rap nacional em 2019.
“Eu nasci pra ser grande! Eu penso grande, sonho grande, vivo grande, eu sou grande!”. É isso que Karol de Souza vem provar no seu primeiro álbum solo. Com letras ácidas e afiadas, a rapper é direta em seu discurso e coloca o dedo na ferida ao discutir padrões de beleza, colorismo, privilégios e birracialidade.
Presente na maioria dos lançamentos da cena Hip Hop, o trap também dá o seu nome no trabalho de Karol, mas não pense que se trata apenas de mais um lançamento entre tantos. Se tem uma coisa que diferencia o trabalho da rapper é a personalidade empregada em cada linha.
“Grande” é um álbum literalmente gigante e que merece ser ouvido do começo ao fim.
Sabe quando você escuta um álbum e é como se estivesse em um show? Cheio de detalhes em cada nota, acompanhadas de instrumentos brilhantes e vivos que parecem ser tocados na sua frente… é impossível não se render.
Sobre influências? A África está no topo! Isso porque, após viajar para Angola, Zimbábue e Tanzânia, o rapper trouxe um pouquinho do Afro Fusion para seu novo trabalho – além, claro, de ter resgatado entre suas referências um dos maiores nomes da música do continente: Fela Kuti.
É importante ressaltar que há uma aura de positividade ao longo de todo o disco, já que se fala muito sobre conexão, natureza, ancestralidade e amor.
Musa! Diverso em sua sonoridade e elegante em cada nota, o álbum de estreia de Tassia Reis é a forma máxima de expressão de uma artista versátil, que pode se encaixar em qualquer gênero musical com a mesma excelência. Em “Próspera”, ela canta sobre situações pessoais, amorosas, espirituais e até mesmo financeiras. No entanto, ela não flerta com a tal ostentação. O recado aqui diz respeito a celebração e incentivo a evolução.
O disco vem embalado por uma sonoridade que conversa com o rap, o trap, o R&B e ainda apresenta leves toques de Samba. Cada faixa é uma grata surpresa e um mergulho em uma nova sensação musical.
Metendo dança e rimas em seu novo projeto, Rincon Sapiencia não economiza na animação e faz uma mistura de ritmos sem perder seu flow marcante. “Mundo Manicongo” apresenta uma viagem frenética que vai do grime (ritmo, criado na Inglaterra, com graves profundos) ao afrobeat, além de beber na fonte das percussões africanas. O fim da viagem? O pagodão baiano!
Seu disco é um convite para que o público possa conhecer seu universo, seu mundo. Um lugar que parece reduzir, por meio da arte, até mesmo distanciais continentais. Nas palavras dele:
“Quando você compara as batidas da música africana com o funk daqui, você se liga que elas têm o mesmo BPM. Isso mostra como a gente tá mais perto que imagina”.
Com o lirismo cheio de bom humor já característico de Hot e Oreia, o novo álbum da dupla mineira, “Rap de Massagem”, é um prato cheio para quem gosta de música brasileira. Isso porque os caras, crias da DV Tribo, oferecem ao público ritmos variados com temáticas diversas, sendo quase impossível não gostar de pelo menos uma faixa do disco.
Nas nove faixas que compõem o projeto eles falam sobre amor, religiosidade e política. Neste último caso, a faixa “Eu Vou” cumpre um papel interessante ao abordar a questão familiar em relação a política atual. “Eu vou trocar é de país/ Tentar ser mais feliz, militar eu nunca quis/ Eu vou trocar é de parente/ Um que não seje doente/ Que pense mais na gente”
O álbum traz as participações de Rafael Fantini, Djonga, Luedji Luna e os integrantes da banda Rosa Neon, Luiz Gabriel Lopes e Marina.
Ai, Drik <3 Depois de uma longa espera, finalmente os fãs da musa paulistana puderam conhecer o seu primeiro álbum de estúdio. E para quem achou que a artista chegaria com os dois pés no rap, se prepare! Uma grande surpresa pode estar a caminho. Não que ela tenha deixado as rimas de lado, mas é que no disco homônimo há uma abertura de espaço para uma mistura musical de qualidade inquestionável.
Nessa viagem sonora feita em 11 paradas, as letras seguem certeiras e necessárias. Falando sobre família, ancestralidade e vivencias das mulheres negras, Drik se joga no funk 150 BPM, no dancehall, no pop, no R&B, no pagode baiano e no próprio trap. Tudo isso se torna ainda mais especial com a contribuição dos vídeos, afinal, o autointitulado é um álbum visual que merece, além de ser escutado, ser visto por todos.
Foram necessárias 14 faixas para transformar “Psicodelic” em um dos melhores lançamentos deste ano. Com urgência e agressividade perceptíveis em sua voz, o trabalho de Coruja Bc1 é sagaz e efetivo ao tratar de temas importantes e atuais como política, genocídios, racismo e saúde mental. Além disso, apresenta o rapper em sua forma mais vulnerável, tocando em questões familiares, da infância, frustrações e alegrias.
Nesse projeto, o primeiro do geminiano desde que saiu da Laboratório Fantasma (selo de Emicida e Fioti), o artista transita bem entre o boombap, RnB, trap até chegar, com muita classe, ao samba. O compilado conta com a participação dos rappers Djonga, Chinaski e Zudizilla.
“Diz qual a distância que tu tá do tiro e eu te direi o peso do seu privilégio. Diz a qual a distância que tu tá do topo e eu te direi: Tá louco? Isso é privilégio”. Já deu pra ter um gostinho de como o FBC chega com seu novo álbum, né?
“Padrim” discute racismo estrutural, vivencia, depressão e amor, de modo que o artista vai do trap ao acid jazz. Como se não bastasse tanto, para deixar o compilado ainda mais pesado, Fabrício vem com um time de colaboradores de primeira linha como BK, Ebony, Gee Rocha, Lallo, L7nnon, Luccas Carlos, Matheus Queiroz e produção executiva de Alice Duch e Rafael Barra.
Álbum do ano, sem mais! Que outra pessoa, além de Emicida, conseguiria juntar Pabllo Vittar e Fernanda Montenegro em um mesmo projeto, ainda assim soando tão natural e verdadeiro quanto no álbum “AmarElo”? Depois de cinco anos sem lançar um disco de estúdio, o rapper paulistano entregou um abraço coletivo em forma de música.
Com um clima solar e crescente, Emicida apresenta versos capazes de motivar, incomodar e acolher. Essa combinação explica o sucesso do material que conseguiu ultrapassar a marca de 15 milhões de reproduções em apenas duas semanas.
“Três anos e três grandes obras”. Em “Ladrão”, álbum lançado em março deste ano, Djonga segue nos dando provas do por que é um dos maiores rappers de sua geração. Com letras afiadas e melodias certeiras que passeiam por vários estilos musicais, o rapper mineiro chega para ressignificar estereótipos frequentementes atribuídos aos negros. Entre eles o de ladrão, que dá título ao projeto.
Usando o microfone como arma, o artista promove uma retomada de espaços e vai além de um assalto – realiza um sequestro da própria narrativa ao cantar sobre negritude e ancestralidade. Versa sobre o amor, sobre ser leal, sobre pertencer e sobre o resgate da história por meio da arte.
**Colaborou Jader Theóphilo.
Rápido. Sem trapacear abrindo seu perfil no Letterboxd. Por qualidade, bilheteria, prêmio, meme ou qualquer…
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