música

Cleo e Pocah resgatam história das bruxas no clipe poderoso de “Queima”

Cleo e Pocah são duas mulheres donas de si e que tem trabalhado duro pra fazer seus projetos musicais chegaram a um grande número de pessoas. Porém, mais importante ainda do que se mostrarem bem-sucedidas, essa dupla tem uma preocupação com a essência de seu conteúdo. Tanto que juntas elas lançaram nesta quinta-feira (12) o single “Queima”.

A produção, que marca o início de uma nova era na carreira de Cleo, nada mais é do que uma resposta para aqueles que tentam silenciar o poderio feminino e ganha um clipe que faz referência direta à história das bruxas queimadas na Santa Inquisição. Entre o passado e o presente, elas mostram que muita coisa segue igual e que os paradoxos de antes ainda podem assombrar quem busca ter voz.

O projeto tem a participação de nomes como Zélia Duncan, Anielle Franco, Rafa Villella e Indianare Siqueira – mulheres poderosas que dia trás dia que seguem em suas lutas por respeito, empatia e igualdade. A direção do projeto é do icônico Felipe Sassi.

Pra entender mais a fundo o projeto e falar sobre esta nova fase da carreira, batemos um papo por e-mail com a Cleo. Leia:

Papelpop: Como surgiu a ideia de fazer essa parceria, por que este tema específico?

CLEO: Eu admiro a Pocah desde sempre, a gente já vinha ensaiando uma parceria, mas nunca era o momento certo. Agora rolou! Haha. Acho ela uma mulher forte, que se reinventa e que está há anos no mercado da música batalhando. Senti que essa música tinha um significado para nós duas. É estrutural da nossa sociedade silenciar as mulheres, desqualificar os nossos discursos e lutas, minimizar as nossas dores, mas que a gente sempre pode se libertar disso, queimar mesmo essas opressões e sermos donas de nós mesmas. A música fala sobre isso, que é algo que eu sinto, a Pocah sente e tantas outras mulheres também sentem. Quanto mais falarmos, mais vamos exercer o nosso poder – e direito – de sermos ouvidas. Não vão nos calar, não.

A faixa já chega com clipe e vocês traçam um paralelo entre o passado e o presente ao trazer tanto referências históricas, quanto temas atualíssimos. Queria que você comentasse um pouco sobre a escolha.

Eu quis trazer algo muito real que vivemos, por mais antigo que isso seja praticado. A queimada de mulheres independentes na era medieval, sob o artifício de bruxaria como desculpa, é ainda muito forte nos tempos de hoje, só que feito de outras formas. Hoje não levam mulheres à fogueiras, mas nos silenciam da mesma forma. E se incomodam da mesma maneira com aquela mulher que é independente, que tem o controle da sua própria vida, que afronta esses padrões sociais. Ou seja, é um ciclo que não tem fim, a não ser que a gente se movimente para isso.

O vídeo conta com as participações de nomes como Zélia Duncan, Anielle Franco e várias outras mulheres maravilhosas. Houve uma razão especial para a escolha destes nomes?

Olha, eu vou ser sincera e dizer que ainda não caiu a ficha que a Zélia, Anielle, Dríade e Rafa fizeram parte do clipe, haha. Eu queria trazer mulheres para representar a força e o poder feminino. A história desse lançamento não é só minha, é de várias mulheres. Ela pode se encaixar em qualquer uma de nós. Elas estão ali para queimar também as suas opressões, defender suas lutas. São só algumas das mulheres que sou muito fã, que tenho um respeito enorme pela história que carregam. Foi uma honra estar com elas ali.

Sei que você gosta muito da Madonna, que é uma mulher forte, decidida… mas imagino que tenha outras influências no dia a dia. Que outras mulheres poderosas, não apenas da música, você admira?

Hm, é difícil porque eu admiro muita gente. Eu fui criada por mulheres fodas. Minha mãe e minhas avós sempre foram uma presença muito marcante na minha criação. Ela souberam lidar e incentivar uma menina que desde muito pequena já era jungle kid. Sempre fui muito livre e elas souberam encaminhar isso, então principalmente elas são as que mais admiro. Além disso, acho potente mulheres como Rihanna, Beyoncé, Marina Lima, Preta Gil, Maria Ribeiro… Ixi, a lista não tem fim. Acredito também que a mulher em si é admirável; não só a que está no holofote da mídia, mas a que não está também.

Há quem diga que o cenário atual seja marcado por uma dualidade de situações. Ao mesmo tempo em que existe um progresso e mulheres levantam mais sua voz, o autoritarismo cresce. Vocês concordam com essa visão? O que é preciso, na opinião de vocês, pra que haja mais respeito e igualdade de gênero?

Concordo, e muito. Mas eu acho que isso é algo natural da sociedade. Tudo tem o seu oposto, o que é contra. São pensamentos que divergem e as coisas são assim desde quando o mundo é mundo. O que temos que ter em mente é que o debate e a conversa são necessários para cada vez mais avançarmos para uma sociedade melhor. Eu sou consciente de que cada pessoa tem o seu próprio tempo de aprendizagem e uma hora a ficha vai cair, o que é meu dever é ser uma pessoa melhor do que eu era ontem. Porque isso vai influenciar na minha vida e nos que me cercam, que por consequência vão influenciar outras pessoas e assim vai. O que é necessário para termos uma sociedade melhor é empatia e respeito. Isso eu já acho que é um grande passo para resolvermos muitas das questões que sofremos hoje em dia como racismo, homofobia, transforbia, feminicídio e tantos outros.

 

“Queima” está disponível em todas as plataformas digitais. Ouça:

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