Nesta quinta-feira (13) à noite rolou o Billboard Women in Music, e Taylor Swift foi homenageada com o prêmio de Mulher/Artista da Década.
Em seu discurso, a artista não teve medo de dizer o que precisava ser dito, como denunciar o privilégio dos homens nesta indústria. Ela fez um panorama de sua carreira e também enalteceu suas colegas. Leia o trecho abaixo:
“O que significa ser mulher nesta década? Significa que eu vi muita coisa. Quando esta década começou eu tinha 20 anos e eu tinha lançado meu primeiro álbum com 16 anos e o álbum que se tornou o meu grande primeiro disco de sucesso, o ‘Fearless’. Eu percebi que havia um mundo de música e experiências fora do mundo country que me deixou bastante curiosa. Eu vi rádios pop enviando minhas músicas como ‘Love Story’ e ‘You Belong With Me’ para o primeiro lugar pela primeira vez, eu vi que por ser mulher nesta indústria, algumas pessoas vão ter um pé atrás com você. Se você merece estar ali, se o produtor ou co-compositor masculino são os responsáveis pelo seu sucesso, ou se foi uma gravadora experiente. Não foi”,
“Eu vi que as pessoas amam explicar o sucesso de uma mulher na indústria da música e eu vi algo em mim mudar devido a essa percepção. Foi a década que eu tornei um espelho dos meus críticos. Tudo o que eles diziam que eu não podia fazer, foi exatamente o que fiz. O que eles criticaram em mim se tornou material para sátiras musicais ou hinos inspiradores, e os melhores exemplos de letras que eu posso pensar são ‘Mean’, ‘Shake it Off’ e ‘Blank Space’. Basicamente se as pessoas tinham algo a dizer sobre mim, eu geralmente dizia alguma coisa em troca do meu jeito.
E esse reflexo ditou mais do que minhas letras. Quando o ‘Fearless’ ganhou o ‘Álbum do Ano’ no Grammy e eu me tornei a artista solo mais jovem a ganhar o prêmio, com essa vitória vieram as críticas e uma reação que em 2010 eu nunca havia experimentado como uma jovem artista novata. De uma hora para outra as pessoas duvidaram da minha voz, ‘era forte o suficiente’? Estava um pouco desafinada? De repente eles não tinham certeza se eu escrevia as músicas porque, às vezes no passado, eu tinha co-compositores na sala. Eu não conseguia compreender o porquê essa onde de críticas duras me atingiu com tanta forma. Acredito que uma manchete popular naquela época foi ‘um troco a Swift’, o que é inteligente. E agora percebo que é exatamente isso o que acontece com uma mulher na música se ela alcança um sucesso ou poder além do nível de conforto das pessoas. Agora eu espero que com as boas notícias, ocorra algum tipo de reação. Mas eu não sabia disso até então.
Então eu decidi que eu seria a união compositora do meu terceiro álbum, o ‘Speak Now’, e que faria turnês constantemente, trabalharia em meus vocais todos os dias, aperfeiçoaria a minha resistência em um show ao vivo. Decidi que seria o que eles disseram que eu não poderia ser. Eu não sabia então que, em breve, as pessoas decidiriam sobre outra coisa que eu não estava fazendo direito e então o ciclo continuaria e eu continuaria me acomodando, me corrigindo demais, em um esforço para amenizar meus críticos. (…)
Ultimamente aconteceu uma nova mudança que me afetou pessoalmente e que sinto ser uma força potencialmente prejudicial em nossa indústria, e como sua pessoa alta e residente, sinto a necessidade de trazê-la à tona. E esse é o mundo não regulamentado do ‘private equity’ entrando e comprando nossas músicas como se fossem imóveis. Como se fosse um aplicativo ou uma linha de sapatos. Isso aconteceu comigo sem minha aprovação, consulta ou consentimento. Depois que me foi negada a chance de comprar minha música (meu direito), meu catálogo inteiro foi vendido para a Ithaca Holdings, do Scooter Braun, em um acordo que me disseram que foi financiado pela Soros Family, 23 Capital e Carlyle Group. Até hoje nenhum desses investidores se preocupou em entrar em contato comigo ou com minha equipe diretamente. Realizar a devida diligência no investimento. Em seu investimento em mim. Perguntar como eu me sinto sobre o novo dono da minha arte. A música que escrevi. Os vídeos que eu criei. Fotos minhas, minha caligrafia, meus álbuns. E, é claro, o Scooter nunca entrou em contato comigo ou com minha equipe para discutir o assunto antes da venda ou mesmo quando foi anunciado.
Estou bastante certa de que ele sabia exatamente como eu me sentiria sobre isso. E deixe-me apenas dizer que a definição do privilégio masculino tóxico em nossa indústria é que as pessoas dizem: ‘mas ele sempre foi bom comigo’ quando estou levantando preocupações válidas sobre artistas e seus direitos de possuir suas músicas. E é claro que ele é legal com você. Se você está nesta sala, tem algo que ele precisa. O fato é que o ‘private equity’ permitiu que esse homem pensasse, de acordo com sua própria publicação nas redes sociais, que ele poderia me comprar. Mas obviamente não vou de bom grado. No entanto, o mais surpreendente foi descobrir que seriam as mulheres da nossa indústria que ficariam ao meu lado e me mostrariam o apoio mais verbalizado em um dos momentos mais difíceis, e eu nunca vou esquecer.”
Taylor também ressaltou o caso de Lana Del Rey, que foi brutalmente criticada no começo da carreira e hoje até tem seu último álbum, “Norman Fucking Rockwell”, indicado ao Grammy:
“Mas você sabe. Eu aprendi a diferença entre aqueles que podem continuar criando nesse clima se resume a isso: quem deixa essas críticas te quebrarem e quem continua fazendo arte. Assisti como uma das minhas artistas favoritas desta década, Lana Del Rey, foi cruelmente criticada em seu início de carreira e lenta, mas seguramente, se tornou, na minha opinião, a artista mais influente do pop. Seus estilos vocais, suas letras, estética, foram ecoados e reaproveitados em todos os cantos da música e este ano seu álbum incrível indicado ao ‘Álbum do Ano’ no Grammy porque ela continuou fazendo arte. E esse exemplo deve inspirar a todos nós, que o único caminho a seguir é o avanço. Que não devemos deixar obstáculos como críticas desacelerarem as forças criativas que nos impulsionam.
E vejo esse fogo nos rostos mais novos da nossa indústria musical cujo trabalho eu absolutamente amo. Vejo isso em Lizzo, Rosalía, Tayla Parx, Hayley Kiyoko, King Princess, Camila Cabello, Halsey, Megan Thee Stallion, Princess Nokia, Nina Nesbitt, Sigrid, Normani, H.E.R, Maggie Rogers, Becky G, Dua Lipa, Ella Mai, Billie Eilish. E muitas outras mulheres incríveis que estão fazendo música agora. (…).
E essas são as histórias em que precisamos pensar todos os dias enquanto realizamos nosso trabalho nessa indústria. Aquele em que os sonhos das pessoas se tornam realidade e eles criam música e tocam para as pessoas. Aqueles em que os fãs sentem uma conexão com a música que facilita o dia, tornam a noite mais divertida, fazem com que o amor pareça mais sagrado ou com a dor do coração menos isolada. Aqueles em que todos vocês nesta sala são um exemplo para alguém da próxima geração que ama a mesma coisa que nós amamos: música. E não importa o que mais entre na conversa, sempre a levaremos de volta à música.
E quanto a mim, ultimamente tenho me concentrado menos em fazer o que eles dizem que não posso fazer e mais em fazer o que diabos eu quiser.”
Aff, perfeita!
Assista o discurso completo aqui:
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