Romero Ferro sempre foi um artista em busca de si. Trilhando um caminho pautado em autopistas e determinado a trabalhar na criação de uma obra rica em referências, o cantor pernambucano, guiado por nomes como David Bowie e Reginaldo Rossi, passou pelo rock, o funk e o R&B até chegar ao brega wave.
O gênero é o responsável por dar o tom em seu mais recente álbum de estúdio, “FERRO”, lançado em agosto deste ano. Seguro de si e aliado a nomes como Benke Ferraz (Boogarins), Duda Beat e Mel Gonçalves e Otto, ele versa sobre orgulho, ostentação, mentiras e, como não poderia ser diferente, de amor, em uma narrativa esteticamente fabulosa – e que vem ganhando o coração de fãs em todo o Brasil.
Aliás, logo mais, na noite desta quinta-feira (7) ele se apresenta no Clube Manouche, uma das mais lindas casas de show do Rio de Janeiro. Pra entender um pouco mais sobre sua construção artística, seus anseios e o momento atual de sua carreira batemos um papo, por e-mail, no decorrer desta semana. Vem ler:
Seu disco novo, “Ferro”, nasceu em agosto… Como você tem sentido a recepção do público nesses dois meses?
R – Eu já vinha fazendo um esquenta para esse disco desde o final de 2018, lançando singles e alguns spoilers. O meu público já sabia o que estava chegando. O disco veio para fortificar todo esse momento, e me levar a um outro lugar como artista. Eu tenho sentido o feedback de uma forma bem intensa, tanto nas redes, como pessoalmente nos shows e no dia-a-dia. E tem sido extremamente gratificante.
Você apostou em ritmos eletrônicos e mais dançantes neste novo trabalho, certo? Como funciona seu trabalho de pesquisa sonora?
R – Eu sempre mergulho em algo que tenho identificação, fiz um primeiro álbum bem pop/rock, soul, disco music, na vibe anos 80. E aí nesse meio tempo entre o primeiro e segundo álbum, eu passei por umas experiências sonoras bem loucas e já sabia que queria algo mais dançante para esse “novo momento”. Comecei a pesquisar o que seria verdadeiro em mim, e essa busca começou a partir da música brega. Que sempre foi presente na minha vida, mas que agora recebeu uma atenção super especial. O brega me levou a todos os outros elementos tropicais encontrados no “FERRO”.
Em FERRO há também várias referências à new wave e aos visuais característicos da década de 1980. O que você curte escutar dessa época? Existe algo que tá sempre na playlist? (ps: eu amo Bowie e Blondie)
R – Nossa eu sou louco na década de 80, em absolutamente todos os seguimentos. A New Wave é um universo tão vasto a ser explorado. Junto com o diretor artístico desse álbum, o Patricktor4, resolvemos mesclar a New Wave com todos os ritmos tropicais e foi delicioso. Algo que eu chamo de Brega Wave, ou Tropical Wave. As minhas maiores referências dessa época são: Bowie lindo e maravilhoso sempre presente, assim como Marina Lima, Kraftwerk, A-ha, Madonna, Reginaldo Rossi… Só amor por todes!
E como funciona sua relação com o brega? Nessa vibe de experimentação de ritmos brasileiros, há algum que você ainda queira muito trazer em um futuro trabalho?
R – O brega é a música pop pernambucana, e eu como cantor pop não poderia deixar de te-la no meu som. Fora que é maravilhoso, e é o ritmo que mais movimenta a cena autoral Pernambucana! Eu não tenho amarras com nada, acho que o artista precisa se reinventar sempre, estudar, mergulhar em novos desafios… eu me desafiei muito nesse novo trabalho, mas quero ainda mais! Eu quero fazer algo com o Brega-Funk, com o Forró e o Funk também. Já estou matutando na minha cabecinha as ideias rsrs
Você tem passado por alguns dos festivais mais legais e badalados de todo o Brasil (vi seu show no Bananada) e agora, em 7 de novembro, se apresenta no Manouche, no Rio. Por lá já passaram nomes como Bethânia, Ava Rocha, Letrux… um palco plural, de várias gerações. Como está a expectativa?
R – Que bom que você me viu no Bananada, espero que tenha gostado, foi um dia especial pra mim, amei Goiânia! Eu fico só na felicidade e ansiedade também, os shows têm sido o ponto alto de todo esse processo, é ali que você sente todo o seu trabalho funcionando. Ouvir as pessoas cantando, felizes, emocionadas… nossa, passa sempre um filme na minha cabeça. Eu quero que agora no Manouche seja tão lindo e intenso como tem sido!
E como tem sido levar esse álbum pra estrada? O que mais legal você tem extraído dessa experiência?
R – É uma loucura, artista independente não vive apenas de glamour. As pessoas me veem viajando, na TV, com looks bonitos, acham que eu tô cheio da grana, e não é! Kkk Existe uma ralação gigantesca por trás, um trabalho diário, nada vem fácil. E tudo é fruto de muito esforço e dedicação. Tem seus altos e baixos como qualquer outro trabalho, mas eu amo a música e escolhi ela para mim. E acho que todas essas situações colocam os meus pés muito no chão. Nesse meio é muito fácil você se deslumbrar.
Nós dois somos LGBT e vivemos tempos obscuros, com episódios de censura, de ameaça… e no seu disco você toca em questões de sentimentos, sexualidade, posicionamento… Por que falar disso agora, e com mais abertura?
R – Eu demorei um tempo para me assumir LGBT completamente, por muitos motivos, mas o principal deles foi o medo! Esse trabalho é um divisor de aguas na minha vida pessoal, pois nele eu resolvi abrir minhas experiências sem nenhum melindre. E na real, sempre vai ser necessário falar sobre sexualidade, auto-aceitação, respeito… Como artista me sinto na obrigação de instaurar esse diálogo com o meu público, faz um bem enorme para ambos. Recebo mensagens diariamente de pessoas de todo o país, relatando muitas coisas tristes. Eu quero ajudar essas pessoas no máximo que eu puder, faz parte da minha função, do meu crescimento. É tudo uma grande troca. E quanto mais unidos estivermos, mais fortes seremos!
“FERRO” está disponível em todas as plataformas digitais e os ingressos para a apresentação do artista no Rio ainda estão disponíveis.
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