A cantora norueguesa Aurora esteve em São Paulo no último sábado (18) para uma apresentação no Credicard Hall. Antes de ela subir ao palco para encantar as centenas de fãs lá presentes, a gente bateu um papo com ela sobre ativismo, novas canções e fama.
Esta é a quarta vinda de Aurora ao Brasil e a segunda vez que a entrevistamos: em sua última visita a São Paulo, em dezembro, batemos um papo que acabou ainda não sendo publicado e que resultou nessas fotos desse cristalzinho do pop:
A entrevista abaixo contém perguntas e respostas das duas conversas com a norueguesa. Vem com a gente!
Você é uma contadora de histórias através de suas músicas. Qual a narrativa por trás de seus lançamentos mais recentes, como “The River”?
As histórias de agora são mais gritantes e fortes. Tenho explorado muitos sentimentos e batalhas, além de refletir sobre como a música pode fazer algo pelo mundo. E quais causas políticas quero defender.
Você tem alguma causa política específica na qual se envolve?
Estou envolvida em muitas, como igualdade, o direito de amar quem você quiser, ir contra o abuso de animais, salvar o planeta, as crianças… são muitas coisas. E é ótimo ver que sozinha não vou conseguir algo tão grande e que, somente com meus fãs, a gente consegue fazer uma mudança. É por isso que digo que somos guerreiros [“warriors”].
Que especial! Nos posts de lançamento de “The Seed”, você disse que falta raiva na juventude. Ao mesmo tempo, sinto sentimentos bem mais sutis vindos de você e sua arte. Você acredita que é possível expressar essa raiva transformadora de uma forma vulnerável?
Quando falo de raiva, não quero dizer sobre o que destrói o mundo. Não é o tipo de raiva que deixa as pessoas cegas sobre o certo e o errado. A História já provou que a raiva pode ser muito perigosa, né? Falo mais sobre o sentimento que nos mantem acordado, aquele fogo que queima dentro de nosso peito, para nos lembrar de que nos importamos.
E nós que somos introvertidos e tímidos, também temos muito a dizer através da vulnerabilidade. O mundo ainda precisa aprender a ouvir o que os tímidos têm a dizer, porque são todos muito sábios.
Aliás, parece que você tem estado um pouco mais expansiva publicamente desde o lançamento de “Animal”. O clipe da música tem coreografia e é grandioso. Você tem algo específico ou algum artista que te inspirou a seguir mais nesse caminho?
Não! Na verdade, eu ainda procuro algum artista que me faça sentir amor como meus fãs se sentem sobre mim, sabe? E é por isso que comecei a fazer música. Porque parecia que não tinha nada no mundo que me contemplasse assim, então comecei a fazer minhas próprias canções. Mas eu comecei quando eu tinha 16 e agora tenho 22. Então você vai melhorando mesmo. Você vai florescendo.
Falando nisso, você conheceu a Billie Eilish há pouco tempo, certo?
Sim! Conheci ela e a família, num show da Austrália. Ainda não ouvi muito das músicas dela, mas sei que ela ficou muito famosa num curto período de tempo. A gente conversou e ela e Finneas, o irmão e produtor dela, disseram que eram meus fãs. Ela foi bem fofa e ficou meio chocada. Eu disse pra ela que o mundo é bem esquisito e ela falou “sim, é mesmo”. Foi bem legal.
Sobre fama: você tem ficado confortável com isso?
Sim, acho que sou bem bom em aceitar as coisas como elas são, quando sei que não posso mudá-las. Acho que tenho visto um lado mais positivo sobre a fama, porque agora posso fazer mais coisas e ser mais política nas músicas. Esse é meu jeito de fazer a atenção fazer sentido. Eu não preciso de atenção. Eu nunca gostei de atenção. Mas acho que é sobre união, amor, conhecer e gostar de outras pessoas. Mas no fundo, eu gosto mesmo é de estar sozinha. Às vezes, não gosto de estar com ninguém, nem com meus amigos. Gosto de estar numa sala quieta e fazer minhas coisas.
Dá pra sentir um quê de espiritualidade nas histórias que você conta. Você se considera uma pessoas espiritualizada?
Sou uma pessoa muito espiritual, mas não acredito muito na energia das coisas. Acredito muito nas coisas com vida, como a natureza. Música também é a coisa mais espiritual que eu já vivenciei, porque é o mais próximo do céu que dá pra se chegar, até porque é algo que todos nós entendemos, mesmo com nossas diferenças.
Sobre seu processo de criação das músicas: “Churchyard” tem várias camadas de voz, o que deve dar muito trabalho. Pra você, estar no estúdio é algo estressante?
Nunca! Eu amo estar no estúdio. É quando me sinto mais relaxada e em casa. Mas, como gravar é uma coisa criativa, em alguns dias você não vai estar inspirada, aí vou pra casa e faço alguma outra coisa. Nunca me forço a fazer música quando não consigo. Então fico bem feliz gravando, porque sinto que é minha missão aqui.
Essa é uma pergunta meio estranha, mas qual é seu maior medo?
Hm, acho que é deixar as pessoas que me amam quando eu morrer, porque não vou ter como dar conforto a elas. Eu acho estranho como a gente pode amar tanto sabendo que podemos perder essa pessoa, mas isso também é bem bonito. Também tenho muito medo de ficar presa no deserto e desidratar que nem uma uva passa.
Você tem um livro preferido?
Ah, eu amo muitos! Meu favorito agora é o que estou lendo, que é “O Oceano no Fim do Caminho” [do Neil Gaiman]. É bem pequeno, mas mágico e especial. Parece que o tempo para quando você está lendo.
Você é bem fã de Harry Potter também, né?
Sim! E de todos livros de fantasia. Gosto de mangá também. Mas em inglês mesmo!
Nossa, eu nunca consigo ler mangá, porque me confundo!
Ah mas você se acostuma depois de ler alguns!
E filme preferido, você tem um?
Acho que tem sido “Peixe Grande”, do Tim Burton.
Você parece alguém que respeita muito seu tempo próprio para relaxar. Como é sua rotina na Noruega?
Eu gosto de fazer várias coisinhas. Tipo, como um pouquinho de comida várias vezes no dia. E eu durmo bastante. Faço pinturas também. Gosto de manter tudo bem silencioso. Uma vez, liguei minha máquina de lavar pratos acidentalmente e ela fazia um barulho muito alto. Aí tive que passar umas três horas fora de casa esperando ela terminar de lavar. Foi um GRANDE erro.
E agora você não está em casa, mas sim no Brasil, que já é quase a mesma coisa pra você, né?
Sim! É como se aqui fosse meu lar quente, como a sauna lá de casa. Mas eu amo, porque aqui posso lidar com algumas coisas das quais sempre tive medo, como abraçar. Na Noruega, as pessoas são estranhas e não abraçam muito. Ainda fico um tanto desconfortável às vezes, mas foram meus fãs aqui do Brasil que me ensinaram que é bem legal abraçar. Aprendo muito aqui e com os brasileiros. Aqui, me sinto mais madura e compreendida pelas pessoas.
E a gente tem brigadeiro!
Sim! Eu amo. E caipirinha! Até aprendi a fazer. E coloco um limão a mais.
Foi muito especial bater esse papo com a Aurora <3
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