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Sobre o novo clipe de AlunaGeorge: “Eu parei de tentar fazer sexo como se fosse uma atuação e comecei a me amar”

Você já viu o novo clipe da AlunaGeorge com o Bryson Tiller, “Cold Blooded Creatures”? É lindo, é sobre se amar, se aceitar do jeito que você é, não ter vergonha na hora do sexo e se libertar.

E ninguém melhor pra falar sobre o novo trabalho que a própria integrante da dupla, Aluna Francis. “Eu parei de tentar fazer sexo como se fosse uma atuação e comecei a me amar”, disse em um texto publicado originalmente pelo Broadly na Vice.

O Papelpop teve a autorização da própria Aluna para traduzir e publicar o texto. Você vai entender por que a gente quis muito trazer esse relato publicado aqui ao ler as palavras maravilhoso da artista. O texto segue abaixo, na íntegra:

Eu parei de tentar fazer sexo como se fosse uma atuação e comecei a me amar
por Aluna Francis

Eu me pergunto como seria ser natural, sem fingir ser seu “melhor”, “mais sensual” para um parceiro.

Uma noite de sexo casual poderia ser uma oportunidade para mudar a si mesma? Se sim, como seria? Esses foram os pensamentos em minha cabeça quando comecei a visualizar a essência da música e do videoclipe de “Cold Blooded Creatures”.

Eu estava explorando a noção da “noite de sexo casual” como uma oportunidade para a liberação, em oposição à idéia tradicional de que fosse um erro raso de quando estamos bêbados. Eu me perguntava como seria se a gente decidisse – porque você nunca mais veria aquela pessoa – ser o seu “eu” mais natural, sem a máscara de personagens que normalmente fingimos ser ou sem se empenhar em mostrar a nossa “melhor versão”, “mais gostosona”  para um parceiro em potencial.

“Cold Blooded Creatures” é minha terceira canção com meu grupo, AlunaGeorge, que vem com a temática de crescimento sexual. Ambas “I’m in Control” e “Mean What I Mean” abordaram uma mulher assumindo o controle de sua própria sexualidade e defendendo o consentimento sexual. Essas  foram as minhas músicas mais pessoais, impulsionadas por experiências que eu precisava aprender. Então, por que estou tão intrigada com sexo? Para ser franca, minhas primeiras experiências com sexo foram em grande parte estimuladas pela solidão que resultou em brincadeiras sem amor, juntamente com inseguranças sobre o meu corpo. Em um incidente, eu temi violência. Tudo isso me deixou pensando que talvez eu simplesmente não gostasse de sexo. Tudo mudou quando eu comecei a explorar algumas das idéias que ficavam pairando em quatro paredes e aí desvendei a confusão.

Para mim, sexo era algo íntimo, mas aí as normas sociais, as pressões e as inibições com as quais vivia publicamente me seguiam para as quatro paredes. Em vez de ser natural, eu me vi “agindo” sexy (como via em filmes ou revistas), sentindo que havia certos comportamentos “não sexy” (como dizer o que você gosta e o que não gosta de fazer na cama), ou simplesmente não sendo honesta comigo mesma (em relação a seguir meus próprios desejos, não os dele).

Sem que eu soubesse, meu nível de positividade em relação ao meu corpo estava diretamente relacionado à minha positividade no sexo, ou a falta dela – se eu não me sentisse sexy, deixada essa responsabilidade inteiramente para o meu parceiro, o que resultou na objetificação dos meus sentimentos. Se nos sentimos ou não sexy, isso é tão grosseiramente emaranhado com a publicidade e o photoshop, e tudo isso chega ao seu ponto mais intenso no momento em que você tem que tira todas as suas roupas e tenta se sentir confiante. Não é espanto algum eu estar com dificuldades, como tenho certeza que muitos outros também estão.

Nos estágios incipientes de aprender a abraçar minha sexualidade, negligenciei que o ato sexual estava ligado às minhas visões pessoais do meu corpo. Como você pode até começar a assumir o controle de sua sexualidade sem levar em consideração seus sentimentos sobre seu próprio corpo?

O vídeo de “Cold Blooded Creatures” é um recorte de um momento idílico em que dois estranhos decidiram se sentir completamente à vontade consigo mesmos, sem nenhum julgamento de si mesmo ou do outro, sem dramatização, sem hiper-masculinidade ou hiperfeminilidade, sem tentando impressionar uns aos outros, apenas duas pessoas de coração aberto, aproximando-se uns dos outros com a intenção de descoberta, humanidade e intimidade. Optamos por parar antes deles se tocarem porque o vídeo não é sobre o que essas pessoas fazem no quarto – eu queria focar no como.

A nudez desinibida desprovida de afetação é extremamente importante; era a maneira mais forte de comunicar essas coisas. Eu sou fascinada por qualquer pessoa que esteja nua e relaxada: isso demonstra um certo tipo de positividade corporal profunda que eu ainda quero alcançar. Eu adoraria experimentar isso, mas eu queria me incluir como alguém que se esforça para isso, e meus colegas atores como pessoas que já chegaram lá.

As tomadas longas de corpos lindos e nus me evocam o erótico, ao invés do hiperssexual. O erótico, que para mim é uma noção mais feminina, está imensamente ausente de muitas das imagens que vemos envolvendo corpos nus. Para mim, o erótico explora um aspecto muito mais profundo da experiência humana que todos nós precisamos sentir inteiro e conectado. É um componente do sexo, mas existe inteiramente em seu próprio espaço. Refere-se ao sentimento do sol em sua pele; ao som dos batimentos cardíacos de alguém; ao cheiro do cabelo deles. Neste vídeo, o modo como a luz dança sobre as formas e as superfícies únicas dos corpos desse pessoal nu é o brilho de sua exuberante liberdade.

Texto de Aluna Francis.
Publicado originalmente em Broadly.
Tradução: Rodrigo Gorky e Phelipe Cruz

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