Apesar de entrevistas por telefone com artistas internacionais serem geralmente um tanto complicadas — você não escuta a pessoa do outro lado muito bem, o tempo é curto, você não está cara a cara com o artista, então não sabe se ele (a) está reagindo bem às perguntas… —, felizmente deu tudo certo com a nossa conversa com Halsey.
O Papelpop a entrevistou no dia 15, quando ainda faltava um tempinho para sua turnê brasileira. Hoje, 1º de junho, os shows estão cada vez mais perto. Halsey canta em São Paulo na quarta-feira que vem, dia 6, e no Rio de Janeiro na quinta-feira, 7.
Não é a primeira vez dela no Brasil. Halsey fez sua estreia no país em 2015, em um único show no Lollapalooza — na época a gente até a entrevistou.
“Aquele foi um dos maiores shows da minha carreira. A plateia foi incrível, sabia as letras de todas as músicas; eu conheci muitos artistas, passeei pela cidade, vi fãs que me esperavam há muito tempo, então foi um momento muito especial.”
Agora, com a carreira mais consolidada, Halsey vem com sua própria turnê e ainda trazendo uma cantora tão amada quanto ela por aqui: Lauren Jauregui, do Fifth Harmony.
“Ela é uma amiga muito querida, na verdade uma das minhas melhores amigas. Lauren é uma artista muito talentosa e agora tem a chance de mostrar aos fãs um lado mais pessoal com sua carreira solo. Sei que parte dos meus fãs a amam também, então é uma oportunidade muito legal. Ela é incrível e trará uma energia muito boa para os fãs.”
A turnê da cantora tem base em seu segundo CD, “hopeless fountain kingdom” — assim como seu álbum de estreia, “Badlands”, esse também tem todo um conceito e fala de uma história de amor impossível inspirada em “Romeu e Julieta”. Não exatamente na peça original de Shakespeare, mas sim no filme de 1997 feito por Baz Luhrmann, aquele com Leonardo DiCaprio e Claire Danes. Toda uma mitologia nova foi criada por Halsey, que queria reinventar a famosa tragédia, imprimindo sua identidade nela.
“Eu tinha acabado de sair de um relacionamento, que teve um término bem ruim. A questão em ‘Romeu e Julieta’ é a intensidade — você sente que vai morrer se ficar sem a outra pessoa, depois o relacionamento acaba ficando tóxico… Quando eu assisti ao filme [Romeu + Julieta, de Baz Luhrmann], me identifiquei com o fogo, as chamas, o caos, as cores, toda essa estética, que representava como eu estava me sentindo.”
A ideia para o sucessor de “hopeless fountain kingdom” é fazer mais um álbum conceitual — contar histórias faz parte de quem ela é, explicou.
“Eu amo fazer clipes e trazer o álbum à vida de uma forma diferente. Espero que no meu próximo CD eu consiga fazer uma experiência mais interativa. Também acho que ele será o meu trabalho mais pessoal e sinto que finalmente tomei coragem de escrever coisas mais confessionais, como se eu estivesse realmente revelando meus segredos, porque não estou mais preocupada com esconder isso. Sei que meus fãs me amam e vão me apoiar, assim posso ser mais sincera. Eu sempre fui, mas agora tenho mais histórias para contar.”
Embora Halsey ainda não possa falar abertamente sobre outros projetos novos, essa sinceridade mencionada representa boa parte do motivo pelos quais seus fãs se identificam tanto com ela, mas também é usada para críticas e piadas. Um exemplo recente: em abril, a artista reclamou dos shampoos em hoteis não serem adequados para pessoas com cabelos crespos/cacheados. Halsey é biracial (seu pai é negro, com ascendência irlandesa, e a mãe é branca, com ascendência italiana e húngara).
“O meu tuite inicial era para ser uma piada, mas quando percebi a quantidade de pessoas que não entenderam o problema… Eu vi pessoas dizendo: ‘Do que você está falando? Todo mundo usa o mesmo shampoo!’ e algumas pessoas responderam: ’Não, isso não é verdade. Você só presta atenção na sua vivência, e não pensa na vivência do outro.’ Foi aí que entendi que não era mais uma piada — quando percebi quantas pessoas se importam só com a sua própria realidade, e não se dão ao trabalho de entender a realidade dos outros. Mas também aprendi a deixar para lá; agradeço e reconheço as pessoas que me entendem e eu não vou conseguir mudar o pensamento das pessoas que não ligam para a questão. É o jeito delas pensarem. Eu queria educar as pessoas, mas ao mesmo tempo não é meu trabalho brigar com elas.”
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