Respeito muito a coragem de entregar algo tão autoral, tão original. Ainda mais quando estamos falando de uma artista pop, de um gênero musical sempre subestimado e acusado de ser “produto fabricado” (porque muitas vezes é o que acontece mesmo).
Já tinha dito isso quando ouvi “Accelerate”, o primeiro single de “Liberation”, disco que marca o retorno de Aguilera após seis anos sem material novo. Ao escutar as outras faixas, feliz de saber que muitas também entregam algo moderno e original.
Vou começar fazendo o faixa-a-faixa dizendo o que acho de cada uma delas. Obviamente eu teria que ouvir várias vezes para formar um opinião mais robusssssta, mas a gente tá correndo contra o tempo! Ainda tem o da Florence pra ouvir (sim! sim!) e o da Beyoncé com o JAY-Z. Prometo contar deles dois pra vocês também.
Posso sugerir? Abre o disco aí no Spotify e vem ouvindo junto comigo porque vai fazer mais sentido. Então bora ouvir Xtina:
1) Liberation
Piano e violino. É Xtina mandando a gente se acalmar. Te aquieta, bi. Faixa instrumental, um início inspirador para o que chega logo depois.
2) Searching for Maria
Todo mundo já viu “Noviça Rebelde”, né? É um interlude. Ela tá cantando uma das músicas do filme. Tá vindo a “Maria” agora.
3) Maria
Eu não ouço algo tão original e tão legal de uma diva pop assim desde que Selena lançou “Bad Liar”. Essa chega ser ainda melhor que a da menina Gomez. Com sample de “Maria” do Michael Jackson, Christina canta em cima de uma dor pela busca da tal Maria, que sofre, que pede por um anjo. Uma excelente faixa produzida por Kanye West. Na época ele estava fazendo o “Life of Pablo”. É como se Christina tivesse gravado um dueto com Michael Jackson criancinha. Fusão perfeita, espertíssima. A música tem energia, é ótimo. Uma das melhores músicas pop do ano, sem dúvidas.
4) Sick of Sittin’
Outro tiro certeiro da Xtina. Outra faixa boa. Ela está impaciente. Quer se mexer. Tá cansada de esperar nessa faixa. Assim como em “Maria”, ela também tem participação nessa letra, assim como em todas as outras do disco. O solo da guitarra é incrível. É uma faixa produzida por Anderson Paak, cê tá me entendendo? Xtina tá jogando o nível lá em cima.
5) Dreamers
É um interlude de meninas fofas dizendo quem elas querem ser quando crescer. Já dá para saber qual música vem depois. Eu já imaginava e acertei…
6) Fall in Line
Hino feminista. Temos um assunto recorrente nesse “Liberation”. É muito sobre poder feminino. Ouvimos isso em “Maria”, em “Sick of Sittin” e agora nessa é a consagração do tema que permeia o trabalho. Xtina divide os vocais com Demi Lovato, que desde criança a admirava e “aprendeu” a cantar de tanto ver Aguilera. Outra faixa que não dá pra botar defeito. Ela é soul, meio gospel e ao mesmo tempo suja na sonoridade. Temos já três músicas ótimas em “Liberation”.
7) Right Moves
Essa tem participação de Keida e Shenseea. Uma levada bem reggae, um refrão interessante, mas preciso falar. Parece um interlude muito grande. Parece que a música não chega. Como tem um estilo muito diferente das outras faixas, fica ainda mais parecendo uma passagem entre as músicas. É fofa, é simples. Não acho ruim. Mas é tipo um cheiro de música.
8) Like I Do
Anderson Paak volta a produzir nessa aqui. Na composição ele aparece com a Aguilera e a Julia Michaels. O rapper que abre a faixa é o GoldLink. É o disco hip-hop da Xtina, um R&B supermoderno. Sinto informar, mas essa é maaaaaais uma música boa, amigos. Ela tá acertando. Essa mulher é esperta. O refrão é ótimo, a faixa é muuuito bem produzida. Eu amo lá pelo final que a música faz uma pausa e vêm só os vocais da Xtina. A batida só volta quando ela dá o gritinho. E depois toma uns gritões. Tudo isso numa produção impecável.
9) Deserve
É a que menos gosto até agora. Não curto os vocais da Xtina nessa. A sonoridade lembra um pouco a da faixa anterior porque obviamente a Aguilera quer seguir uma linha, uma sonoridade que conecte todas as faixas, mas essa é bem descartável. É como se todas as faixas anteriores fossem notas 8, 9 ou 10 e essa tivesse sofrido pra chegar no 7.
10) Twice
Essa é fan service total. Quando Xtina lançou o primeiro single do disco, o hip-hop diferentão e criativão “Accelerate”, essa foi lançada logo em seguida, como se ela quisesse acalmar os fãs e mostrar que continuava a mesma Aguilerona amiga de sempre. “Eu sou aquela de ‘Beautiful’ que vocês tanto amam, galera”. É uma balada que mostra muito bem os vocais dela, uma baladinha fácil. Não precisava estar nesse disco. Eu não gosto do refrão.
11) I Don’t Need it Anymore
É um interlude. É Xtina repetindo exaustivamente que não precisa mais de alguma coisa. Fico pensando se é do disco que ela está falando. Porque, sendo bem sincero, já tava acertando muito bem até em “Like I Do”. Talvez não precisasse mais trabalhar mesmo, não, amiga. Mas vamos continuar.
12) Accelerate
Eu já disse no podcast e aqui repito: essa faixa é boa, bem boa. Mais uma que Kanye West produziu. O cara que só faz merda e só fala merda faz um trabalho sempre impecável. O refrão é um acerto. O trio Xtina, Ty Dolla Sign e 2 Chainz nos vocais é cool até o último fio de cabelo. Eu não tenho nem roupa pra ouvir essa música. Eu teria que nascer de novo pra ser cool o suficiente pra frequentar o mundo dessa música. Esse Hip-hop flertando com o pop fizeram um filho lindo.
13) Pipe
Eu já estou satisfeito. Eu não preciso de mais. Eu cortaria “Deserve” e “Twice”, jogaria “Accelerate” lá pra depois de “Like I Do” e terminava o CD. Mas tem mais essa aqui. É boa. É sexy. Mas às vezes parece uma versão feminina de uma faixa que sobrou do Frank Ocean. Algo nela me lembra Frank Ocean e não sei dizer o que é. Ou então parece uma faixa que fugiu do “Erotica” da Madonna. Mas ela é sexy, verdade seja dita.
14) Masochist
“Eu devo ser um tipo de masoquista para me machucar desse jeito”, canta Christina Aguilera sobre um amor que ela não consegue se livrar. Mais uma produção boa para uma música fraca, que não precisava entrar num disco cheio de música boa. Parece que Aguilera cansou de mandar bem e no finalzinho jogou umas faixas qualquer. Tava indo tudo tão bem…
15) Unless It’s With You”
Mais um fan service. Uma balada “chique” da Aguilera. Eu não entendo por que o Ricky Reed fez a produção dessa. Ele é o cara que fez “Talk Dirty” do Jason Derulo, entende? É um jeito ruim de terminar um disco que tinha começado tão bem.
Então…
Vamos dizer que esse disco é muito bom, mas que só falha quando tentar agradar demais? Que falha só quando tenta fazer mais do que já tinha mostrado de bom? Amiga, já estava bom com seis faixas. Ia ser puro lacre. Não precisava dos “fan service”.
Imagina Aguilera chegando pra galera da gravadora, jogando o CD na mesa e falando: “só seis faixas, isso mesmo. Mas ouve isso, querido”.
“Liberation” é um disco muito criativo, pop flertando com hip-hop, entregando um R&B supermoderno, com Christina Aguilera voltando com um propósito e não simplesmente chegando com um disquinho qualquer. Ele começa com faixas muito boas como “Maria”, “Sick of Sittin” e “Fall In Line”… E ainda tem um “Accelerate” e um “Like I Do”.
Se é pra voltar, se é pra fazer o “comeback” como a internet adora falar, que seja com um motivo, que seja com originalidade e pra acertar. E isso Aguilera conseguiu. Fez bonito em “Back to Basics” e nesse aqui também. Fãs estão contentes e fãs de música pop boa também.
Rápido. Sem trapacear abrindo seu perfil no Letterboxd. Por qualidade, bilheteria, prêmio, meme ou qualquer…
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