Quando falamos de música, independente do estilo, o foco fica no eixo Rio-São Paulo. Na semana passada, eu pude conhecer um pouco do que está acontecendo no Norte, participando do festival Se Rasgum, feito em Belém do Pará. Para muitos, a terra é responsável por ter gerado Calypso e a cantora Gaby Amarantos, mas é muito mais do que isso.
Nesta festa pude conhecer novos nomes que estão quicando dentro do estado, enxergar quais bandas de fora estão fazendo sucesso por lá e entender um pouco mais como funciona os hábitos auditivos de um paraense. Em primeiro lugar, o Pará respira música e você sente isso nas ruas.
Por exemplo, em qualquer barraquinha onde vendem comidas como tacacá, unha de caranguejo ou tapioca, sempre tem um radinho tocando alguma coisa. Normalmente é um brega romântico ou a variação animada deste estilo, o eletrobrega – batida que inspirou o último single lançado pela Pabllo Vittar. É impressionante.
No centro dá para sacar um pouco melhor a relação do paraense com música. Além de algumas lojas de CDs, pelas ruas sempre tem algum vendedor com uma caixa de som vendendo pendrive com alguma seleção de música do seu gosto: forró, reggae, funk, guitarrada, brega e por aí vai.
Além dos nomes que bombam pelo Brasil inteiro como Anitta, Simone e Simaria ou Wesley Safadão, nestes carrinhos tocavam releituras nacionais ou internacionais com uma base de swingueira – bateria ritmada eletrônica com uma guitarrada. Eis um bom exemplo para você entender:
Mas não é apenas de guitarrada que a cidade é feita. Belém é um prato cheio para quem curte rock. Seja rápido e alto como Molho Negro ou devagar e meio MPB como Dois na Janela, Turbo e Kikito. São todas bandas com músicas autorais e que cantam em português. Acho muito importante dar apoio para bandas locais e isso eu vi lá. Quando eu falo em apoiar não é apenas dar um like no Instagram ou curtir a página no Facebook, mas ver pelo menos um show.
Além dessas bandas novas, eu conheci dois nomes que têm uma história de respeito e estão se aventurando com novos produtores e trabalhando os seus catálogos de forma diferente. A primeira é a Nazaré Pereira. Ela tem mais de 15 discos e canta/narra como ninguém o amor pela sua terra e desta vida bandida. O outro é um senhor chamado Elói Iglesias. Com esse sobrenome de galã latino, ele é uma das maiores figuras LGBT do estado por conta de um evento chamado Festa das Filhas de Chiquita, onde há 30 anos luta por visibilidade. Sua carreira começou nos anos 70 e hoje segue com as suas apresentações explosivas, com muito bom humor e sem deixar de lado os românticos de outrora com hits como ‘Pecados de Adão’.
Era muito difícil você não esbarrar em alguma atração do festival Se Rasgum, pois o evento estava espalhado pela cidade e a maior parte delas de graça. Um dos destaques dentro do circuito foi uma apresentação do Francisco El Hombre durante a semana. Eu já tinha escutado eles algumas vezes, mas nunca tinha visto um show. Apesar de ter esse nome e você associar com um cara, o grupo é liderado por mulheres no vocal. ‘Bolso Nada’, ‘Calor Da Rua’ e ‘Triste, Louca ou Má’ foram alguma das músicas que o público cantava como se fosse um karaokê. Em festival, a percepção que você tem de algumas bandas é vista completamente de outra forma.
Um nome que eu já conhecia e fiquei de cara com a recepção do público foi o BaianaSystem. A projeção do palco te jogava para o mundo dos baianos, onde a trilha sonora é feita de uma mistura de reggae, eletrônica, afoxé, dub, frevo e samba. Era um coro só para cada música que eles mandavam. Eu já tinha visto no ano passado, mas é impressionante como mudou o recebimento do público de lá para cá.
É importante que existam outros grandes festivais fora do circuito Rio-São Paulo.
Ir para um estado e participar de um festival fora do circuito foi bem importante. Por ali consegui ter uma boa experiência, palavra em voga para quem busca investir em um festival. A seleção de bandas é mais do que importante para a pessoa desembolsar o valor e ir, mas ter uma certeza de que a ida irá compensar pela realização de momentos bacanas é o que mais pega.
É muito difícil você voltar para um restaurante, bar ou um festival com uma experiência ruim. Qual festival que você gostaria de conhecer na próxima temporada? Se tiver um tempo, vá para Belém conhecer o Se Rasgum!
Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.
Quer falar com ele? Twitter: @brunno.
* A opinião do colunista Brunno Constante não necessariamente representa a opinião do Papelpop. No entanto, por aqui, todas as opiniões são bem-vindas. :)
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