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Descobrindo Orelsan, um ‘novo Stromae’, pela reprodução automática do YouTube

Quando ainda não existia Spotify ou Deezer, eu baixava música pra valer. Eu estava em todas as comunidades que colocavam os downloads dos últimos lançamentos e recheava a biblioteca do meu iTunes feliz da vida. Quando ia sair para a faculdade ou para o trampo, sincronizava com o meu MP3, pois passava um bom tempo em trânsito. Como eu não tinha muito espaço no meu iPod, cada mega byte era precioso.

Quando eu já estava saturado das faixas que estavam por lá, eu colocava no modo shuffle. Este procedimento era feito apenas quando eu dominava bem o repertório que tinha em mãos. Para algum disco novo, eu não curtia muito não.

Hoje, com o desuso de ouvir o disco de ponta a ponta, o shuffle é o que impera. É normal colocar um som para ouvir e deixar que a plataforma te guie. Caso tenha algum som que irrite seus ouvidos, basta pular a faixa e aproveitar a próxima indicação.

Nas últimas semanas, eu estava pelo YouTube para ver alguma coisa ao vivo do Stromae, artista belga do qual eu sou fã de carteirinha, mas que está sumido do mapa. Comecei a ouvir uma sequência boa e, depois de um bom tempo das músicas do rapaz, comecei a não identificar algumas faixas. Por um momento eu pensei: TEM MÚSICAS NOVAS DO STROMAE! Depois eu fui para aba que estava rolando e caí num artista na mesma pegada dele chamado Orelsan.

Eu conheci o cantor francês através de suas músicas mais populares: ‘Basique’ e ‘Tout Va Bien’. Para quem é fã do Stromae, pode até se confundir mesmo no começo. Agora, para quem for ouvir o disco dele, percebe a diferença. Apesar de Orelsan ter traços bem pop, ele não deixa de beber da fonte do rap. Depois de ouvir o seu disco mais recente, “La fête est finie”, fui atrás do restante de sua discografia.

“Perdu d’avance” (2009) é o primeiro CD de Orelsan e é calcado no rap. Ele parece ter a urgência de demonstrar para o grande público que domina o estilo e demonstra isso num álbum de quase uma hora, onde conta um pouco da sua história e aponta aonde quer chegar. O trabalho tem a participação de dois rappers chamados Gringe e Ron “Bumblefoot” Thal. As batidas do seu CD de estreia são um tanto repetitivas e lá pelo meio cansa demais.

Por conta de uma reprodução automática, estava dentro da discografia de um cantor que não tinha alguma relação anteriormente. Parecia que o tal algoritmo leu o meu desespero em ouvir algo novo do Stromae e indicou algo sob medida para o que eu precisava para a ocasião.

Após dois anos, Orelsan parece ter colhido os acertos e erros de seu primeiro trabalho e lançou o álbum “Le chant des sirènes”. Só pela capa já da para perceber a mudança do músico. Antes ele trajava boné, agasalho e calças de moletons folgadas e cara de poucos amigos. Em seu segundo disco, o seu rosto não fica mais atrás de um boné e a capa parece ter levado uma borrifada de purpurina. Ele ainda se esconde atrás de uma máscara do Robin. As músicas ainda têm um pezinho no rap, mas como ele chamou produtores diferentes para este trabalho, as faixas têm outros ambientes mais interessantes. Em alguns momentos ele esquece das batidas tradicionais e começa a rimar em cima de sons como caixinha de música, brincar com samples de comerciais franceses, música clássica e uns batidões para dançar.

Foram seis longos anos para Orelsan soltar o seu terceiro disco autoral, “La fête est finie”. Este é o grande acerto dele, sem dúvidas. Ele consegue dosar bem o seu lado hip-hop com rimas sobre relacionamentos e críticas sociais com música eletrônica. Agora, ele não apenas solta uma metralhadora de palavras, mas consegue cantar e respirar durante os versos. Em um mercado marcado pela anglofonia, ver Orelsan abraçar a sua língua materna e conseguir quebrar barreiras é louvável.

Por mais que o latim seja comum para nós, seja mais audível – por que não – compreensível, logo a sua música é naturalmente mais acessível para maioria de nós, brasileiros. Mas, por aqui, não consumimos nem músicas dos nossos países vizinhos, imagine cantigas francesas, né? Só se for por algoritmo mesmo! Para mim, se o som é bom, não importa a língua que seja cantada.

A transformação de Orelsan foi feita muito pela mistura de ritmos que estão presentes no repertório de Stromae: trap, salsa, disco, house e, claro, hip-hop. Acho difícil algum fã do belga não curtir o trabalho.

Há muito valor quando a reprodução automática não é previsível em colocar as músicas que estão mais bombando no momento, mas sim entende o que você está vendo ou ouvindo. Vocês já descobriram algo incrível assim?

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