O Rock in Rio sempre foi um festival conservador. Apenas uma patota da música brasileira protegida pelo clã Medina conseguiu tocar no maior festival de música do país. Quem conseguiu quebrar este círculo foi por conta de gravadora ou de algum patrocinador. Um festival como este deveria ser um termômetro para sacarmos o que está acontecendo de importante na cena, mas isso vem sido ignorado desde a sua estreia.
Quando o evento anunciou o cancelamento da vinda de Lady Gaga, atração principal do palco mundo, tivemos uma sequência de erros. Em primeiro lugar, não estou colocando em xeque a gravidade da doença dela, mas avisar um dia antes é um desrespeito enorme.
Por mais que o Maroon 5 seja uma banda relevante e já estava por estas bandas, colocar Adam Levine e companhia foi preguiçoso, covarde.
A dobradinha Pabllo Vittar e Anitta parecia ser o contorno mais razoável para o Rock in Rio, afinal, estamos falando dos dois maiores nomes da música pop brasileira do momento. Anitta é um nome de exportação e está presente nos charts nacionais desde a época de “Show das Poderosas”.
Pabllo é um nome em franca ascensão e provou que a sua miscelânea de ritmos brasileiros com que está acontecendo mundo afora dá certo. Não seria algo de outro mundo ter o show desta dupla no Palco Mundo, mas a curadoria do festival não bancou. Infelizmente.
Os maiores nomes do pop para tocar no palco pop da festa. Isso parece justo. O problema de timing com os nomes nacionais do evento é de longa data.
Raimundos, Charlie Brown Jr, ou Planet Hemp são grandes atrações nacionais que poderiam ter tocado facilmente no Rock in Rio, mas nunca apareceram por lá. Vamos dizer que por conta de alguns ajustes. O Rappa foi um nome que quase tocou, mas quebrou o barraco por conta das condições que o festival ofereceu para eles.
Na época, em 2001, a banda foi informada de que teria o horário de apresentação alterado e não poderia fazer passagem de som antes do show. Além do tratamento dispensado ao Rappa, os artistas brasileiros criticavam o baixo cachê destinado aos cantores nacionais, que chegavam à cifra de R$ 20 mil, enquanto atrações estrangeiras recebiam R$ 150 mil.
O que a organização do Rock in Rio não esperava, porém, é que uma semana depois, outras cinco bandas nacionais anunciariam sua desistência do Rock in Rio em solidariedade ao Rappa. “Em decorrência da má condução das negociações entre a organização do festival Rock in Rio – Por Um Mundo Melhor, vimos por meio desta informar, a quem possa interessar, o desligamento de Shank, Raimundos, Jota Quest, Cidade Negra e Charlie Brown Jr…”
A Pabllo Vittar tocou e fez bonito por um convite de um dos grandes patrocinadores do evento em um pocket show. Como alguém da criação de um banco tem mais empatia com o público do que alguém do próprio Rock in Rio?
A drag esfregou na cara dos presentes que poderia segurar a bronca de tocar num espaço maior. A sua breve participação no show da Fergie demonstrou mais uma vez o poder que ela tem em mãos. Ela cantou a dobradinha dela com Major Lazer e Anitta, mas tinha espaço ali para tocar qualquer música do seu repertório.
A Anitta foi até convidada pela organização do festival, mas ela teria que mudar um pouco a roupagem de suas músicas. Deixar com uma batida mais pop. “Não me sentiria confortável em renegar minha essência e maquiar o ritmo que me fez chegar onde estou”, contou a cantora em entrevista à revista Quem. Se aconteceu isso mesmo é algo bizarro. Falar para o maior nome da música do Brasil no momento para adequar o som a um festival?
Há 16 anos, Pedro Alexandre Sanches, em uma resenha n o jornal A Folha de S. Paulo, escreveu que o festival ampliava o vexame ao deixar de fora bandas jovens, importantes e politicamente atuantes. A história continua intacta.
Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.
Quer falar com ele? Twitter: @brunno.
* A opinião do colunista Brunno Constante não necessariamente representa a opinião do Papelpop. No entanto, por aqui, todas as opiniões são bem-vindas. :)
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