Khalid e Post Malone ainda não figuram como atrações principais de festivais, assinam uma coleção de alguma marca garbosa ou têm grana suficiente para tirar algumas temporadas sabáticas em um lugar paradisíaco, mas demonstram que dá para fazer um estrago com apenas um disco e singles espalhados por aí.
Estes dois artistas novos estão revezando no primeiro lugar dentre as músicas mais tocadas nas últimas semanas do Spotify e Apple Music. Com uma média que bate artistas do calibre de Justin Bieber, Katy Perry e Ed Sheeran, eles vêm desafiando tendências mundiais como reggaeton ou EDM. Os plays acumulados por dia dos dois cantores dão quase 20 milhões. É algo completamente fora da curva. Só para termos uma ideia, a poderosa Taylor Swift não chega a cinco milhões diários.
As músicas de Khalid e Post Malone são enquadrados na ‘categoria música urbana’ e flertam com R&B, rap, soul. Eles narram histórias comum de jovens que moram em grandes capitais mundo afora: viver sem grana, tomar um porre com os amigos, almejar sucesso e buscar um amor para chamar de seu.
O autor do hit “Young Dumb & Broke” tem apenas 19 anos e uma breve carreira respeitável. Só neste ano ele participou e ganhou uma categoria no MTV Video Music Awards (uma escolha sensata em anos), além de ter lançado uma música com Calvin Harris (“Rollin”) e outra com a Lorde. O cantor está conhecendo o mundo, pois a sua turnê vai passar por quatro continentes.
Com uma voz envolvente e letras lúcidas, Khalid demonstra que “American Teen” não foi sorte de principiante. As melodias são doces e não causam alguma estranheza, fica fácil ouvir o disco em uma talagada só. Uma hora ele quer apenas que as suas faixas sejam ouvidas como trilha sonora de uma fossa, outras para dançar de forma tímida em algum canto.
Post Malone não é unânime no rap. Se formos pegar as últimas safras, o seu nome não destoa. Fica pequeno colocar ele num mesmo pacote que Desiigner, Quavo, 21 Savage, Chance the Rapper ou Lil Uzi Vert. A história do rapper é comum e não a de um super-herói como sempre tem neste gênero. Ele não precisou levar oito tiros na rua para ser respeitado ou ter as suas músicas ouvidas mundo afora.
Malone era um típico americano, viciado em games e que tinha preguiça de gastar uma grana com faculdade. Ele tentava tocar as músicas de rock que via no YouTube, tinha uma banda de hardcore (que era horrível, de acordo com o próprio), mas tinha o objetivo de fazer algo realmente bom relacionado a música. Deixou o rock e começou a se aventurar no rap, monstrando o seu som no SoundCloud. Ao invés de usar batidas prontas ou comprar de DJs em sua área, o rapaz aprendeu a fazer o seu próprio som. E, aparentemente, deu certo.
Ele virou o jogo muito rápido com uma música chamada “White Iverson”, lançada em 2015, e viu a sua vida mudar. Como fogo, a canção se alastrou entre os seus amigos, começou a viralizar no YouTube com números galopantes, as rádios locais começaram a executar o som e o seu telefone não parava de tocar com pessoas o procurando para fazer shows e oferecer contratos pomposos. Com APENAS UMA MÚSICA.
Com “Stoney”, ele conseguiu uma placa de platina por suas vendagens, mas não quer parar por aí. O seu último single, “Rockstar”, segue os mesmos passos e vem batendo recordes. O combo ostentação, drogas e birita cantado com uma voz amaciada por autotune parece ser o que as pessoas querem ouvir no momento.
O mais interessante de acompanhar o crescimento destes dois artistas é ver que eles fogem completamente do que a indústria tenta vender diariamente. Ao invés de cantores com abdômen rasgado, dentes com resina e um bronzeado impecável, vemos duas pessoas fora dos padrões.
Khalid é negro, acima do peso e ostenta o corte anacrônico que faria Fresh Prince ter inveja. Post Malone é branco, também tem sua barriga em gomos, tranças enraizadas, sorriso de prata e tatuagens agressivas como a de um bode em seu pescoço.
O estereótipo é claro sobre o padrão de beleza feminina e masculina. Os comerciais, desfiles, novelas, propagandas mostram que para ser aceito na sociedade, a pessoa deve ser magra, vestir tal número de manequim.
Nas capas das revistas e de playlists vemos belos corpos de modelos magérrimas, a pura perfeição. Diante disso vem a cobrança de ser assim, para se sentir um ser bonito e atraente, sexy, bem visto e aceito pela sociedade.
Os dois podem ser encontrados em um remix de “Homemade Dynamite”, da cantora Lorde. Esta música resume um pouco do que a dupla fez durante este ano. Fizeram suas próprias regras e estão explodindo tudo por onde passam.
Our rules, our dreams, we’re blind
Blowin’ shit up with homemade d-d-d-dynamite
Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.
Quer falar com ele? Twitter: @brunno.
* A opinião do colunista Brunno Constante não necessariamente representa a opinião do Papelpop. No entanto, por aqui, todas as opiniões são bem-vindas. :)
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